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Tecnologia/Rabobank: produtividade cresce mais que área e coloca o Brasil como potência agrícola

24 de outubro de 2025

Por Gabriel Azevedo

São Paulo, 24/10/2025 – A produção de grãos no Brasil é cada vez mais resultado de eficiência e menos de expansão territorial. Segundo o Rabobank, a produtividade cresceu 5,9% ao ano nas últimas três décadas, enquanto a área plantada avançou 3,6%. “Há dez anos, uma colheita de 50 sacas por hectare era excelente. Hoje, a média nacional chega a 66 sacas, reflexo direto da tecnologia aplicada ao campo”, afirma a analista sênior de grãos e oleaginosas do banco, Marcela Marini.

Para o Rabobank, o avanço tecnológico mudou o modo como o agricultor brasileiro lida com o risco. “A tecnologia passou a ser uma ferramenta de mitigação econômica e agronômica”, diz Marini. A combinação de correção de solo, biotecnologia e agricultura de precisão reduziu custos e perdas, acelerou o plantio e consolidou o modelo de duas safras no mesmo ano agrícola. Em Mato Grosso, 57% das áreas de soja são seguidas por milho safrinha; no Brasil, a média é de 37%, segundo dados compilados pelo banco.

A transformação tecnológica começou nos anos 1970, com o uso do calcário agrícola que corrigiu a acidez dos solos do Cerrado e permitiu o avanço da produção. A partir dos anos 2000, as sementes geneticamente modificadas elevaram a produtividade e reduziram o uso de defensivos. “Essas inovações foram essenciais para que o produtor brasileiro passasse a enxergar o solo como um ativo estratégico”, diz Marini.

O relatório destaca que a agricultura nacional entrou agora em uma nova fase, marcada por digitalização, automação e inteligência artificial. Sensores, imagens de satélite, pulverizadores seletivos e máquinas autônomas estão ampliando o controle sobre a lavoura. “Pulverizadores com visão computacional conseguem aplicar herbicidas apenas onde há infestação, reduzindo em até 50% o uso de químicos e o custo por hectare”, afirma o banco.

A automação também avança rapidamente. Tratores inteligentes e robôs agrícolas já realizam medições de altura das plantas e identificação de pragas em campo, mesmo sob condições adversas. Ferramentas de inteligência artificial vêm sendo usadas para prever surtos de pragas e doenças, otimizar irrigação e identificar as melhores janelas de plantio. “A decisão deixa de ser reativa e passa a ser baseada em dados”, diz Marini.

Outro eixo da modernização é a rastreabilidade. O Rabobank destaca o uso crescente de blockchain para garantir transparência na cadeia de suprimentos e atender às exigências ambientais. “EUDR exige prova de que a soja não venha de áreas desmatadas após dezembro de 2020, e o blockchain pode ser uma ferramenta crucial para atender a essa regra”, afirma o banco.

O ecossistema de inovação do agro brasileiro também se fortaleceu. Entre 2020 e 2025, o número de startups agrícolas passou de 1.574 para cerca de 2.000, o equivalente a mais de 80% das agtechs da América do Sul. Nesse mesmo período, o Brasil concentrou mais da metade dos investimentos regionais em tecnologia agrícola, com pico de US$ 330 milhões em 2023. As soluções “dentro da fazenda” já são o maior segmento, com foco em gestão, automação e monitoramento ambiental.

Apesar do avanço, o banco alerta que o uso de tecnologia ainda é desigual. “O acesso a crédito segue limitado, especialmente para pequenos e médios produtores”, observa Marini. Além disso, as diferenças regionais em infraestrutura e conectividade dificultam a expansão digital, e a escassez de mão de obra especializada limita a adoção plena das novas ferramentas.

O Rabobank avalia que a continuidade dos ganhos de produtividade dependerá de investimento em pesquisa aplicada e formação técnica. “O Brasil tem clima, solo e escala. Mas o que mantém sua competitividade é a capacidade de transformar inovação em produtividade e conformidade ambiental”, conclui Marini.

Contato: gabriel.azevedo@estadao.com

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