Agronegócios
25/05/2022 12:19

Trigo: com preço elevado, exportação cresce no 1º quadrimestre do ano e supera volume de todo 2021


Por Isadora Duarte

São Paulo, 25/05/2022 - Tradicional importador de trigo, o Brasil continuou exportando cereal em abril deste ano, fora da janela sazonal de vendas externas. No acumulado do ano, a exportação de trigo, de 2,349 milhões de toneladas, superou o volume importado do cereal, de 2,043 milhões de toneladas, de acordo com dados do Agrostat, sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro. Além disso, em quatro meses o Brasil exportou mais que o dobro de todo o ano passado (1,130 milhão de toneladas), que havia sido o maior volume desde 2015.

Os preços elevados do trigo no mercado internacional, o dólar valorizado ante o real no período de fechamento dos acordos e a guerra entre Rússia e Ucrânia são os principais motivos para o crescimento apontados por analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro. "Foi uma conjuntura de fatores que levou o Brasil a exportar mais neste ano: os preços mundiais elevados, a quebra na safra brasileira de soja e milho verão, a entressafra mundial de trigo, a colheita forte do Brasil na última safra e até mesmo a guerra entre Rússia e Ucrânia", disse o gerente sênior de Risco de Grãos e Algodão da consultoria Hedge Point, Roberto Sandoli.

Em abril, 154,096 mil toneladas de trigo brasileiro foram vendidas no exterior contra nada em igual mês do ano passado, segundo os dados do Agrostat, divulgados na última sexta-feira (20). No mês, a receita com exportações foi de US$ 55,185 milhões e o preço médio pago pelo cereal brasileiro de US$ 358,11 por tonelada. Essas vendas externas fora da janela tradicional de exportações do cereal, que comumente vai de dezembro a março após a colheita da safra, tendem a ser vendas de oportunidade de cereal remanescente da safra passada, conforme os analistas. "É incomum ter exportação de trigo em abril, mas a quebra na safra de soja e milho permitiu que os portos não estivessem sobrecarregados, abrindo espaço para o trigo. Além disso, os preços mundiais estavam muito atrativos e houve momentos, como na segunda quinzena de março, que o dólar esticou a valorização sobre o real, fazendo com que a exportação fosse interessante até mesmo em abril", apontou Sandoli.

O fator "Rússia/Ucrânia", com o consequente aperto na oferta global do cereal e a valorização do produto no mercado internacional, também contribuiu para estimular produtores, especialmente gaúchos, a vender cereal remanescente da safra passada. "Antes da guerra, o Brasil tinha comprometido 2,686 milhões de toneladas de trigo ao exterior. Depois da guerra, triticultores venderam mais 180 mil toneladas no fim de fevereiro e março para embarque em março e outras 150 mil toneladas para embarque em abril", disse o analista da consultoria Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco.

O volume exportado no primeiro quadrimestre deste ano, de 2,349 milhões de toneladas, foi 313,6% superior ao comercializado em igual período do ano passado, de 567,76 mil toneladas. Os dados de 2021 consideram o cereal comercializado de janeiro a março, porque em abril do ano passado não houve registro de exportação de trigo brasileiro. Em faturamento, a alta foi de 482%, para US$ 713,92 milhões no primeiro quadrimestre deste ano. O preço médio do cereal exportado ficou 40,8% acima, a US$ 303,93 por tonelada.

O dólar valorizado ante o real no período de fechamento dos acordos, combinado com o cenário de cotações mundiais elevadas, puxou a competitividade do cereal brasileiro frente aos concorrentes e até mesmo ante exportadores tradicionais de trigo, segundo Sandoli, da Hedge Point. "No momento em que as tradings fizeram as compras, o trigo brasileiro era o mais barato do mundo com real desvalorizado, preços mundiais elevados, entressafra no mercado mundial e entrada da safra brasileira de 2021", explica.

O principal destino do cereal brasileiro no primeiro quadrimestre foi a Arábia Saudita, que comprou 504,969 mil toneladas de trigo do País. Na sequência, aparecem Indonésia (360,498 mil t) e Marrocos (322,044 mil t). Sandoli explica que são países que costumam adquirir cereal russo, europeu, ucraniano e argentino. Contudo, nos quatro primeiros meses do ano, além de o cereal brasileiro estar mais barato, por questões sazonais, Europa e países do Mar Negro estavam fora do mercado e havia incertezas quanto ao fornecimento russo e ucraniano em virtude do conflito no Leste Europeu. "Com a Rússia com dificuldades comerciais em virtude das sanções econômicas e a Ucrânia com portos prejudicados, países que normalmente estariam comprando da Rússia, como os da Ásia, África, precisam ser atendidos por outros países, como Argentina, Austrália e até mesmo o Brasil", comentou Sandoli.

Pacheco, da Trigo & Farinhas, destaca que o cereal exportado pelo País no início deste ano é o grão da safra 2021, colhida de agosto a novembro do ano passado. Quase a totalidade dos contratos envolvem cereal gaúcho e foram antecipadamente em meados de agosto do ano passado, quando o preço pago pela exportação era mais atrativo que o oferecido pelo mercado interno. A consultoria calcula que 3,016 milhões de toneladas do trigo da safra 2021 tenham sido comercializadas para exportação. "Foi principalmente o dólar forte ante o real que fez o Brasil se tornar o 11º maior exportador de trigo do mundo e entusiasmou os triticultores a olharem um pouco mais para exportação. Em agosto de 2021, já havia cerca de 2,5 milhões de toneladas comprometidas para exportação", apontou Pacheco.

Para os próximos meses, em meio à entressafra nacional, a expectativa é de arrefecimento nas exportações de trigo. "Pode haver algum saldo ainda em maio, mas se houver será volume mínimo. Praticamente não tem mais trigo disponível no mercado interno para novas vendas. Além disso, o milho safrinha passará a ser o foco das exportações daqui para frente", afirmou Sandoli. Pacheco também projeta queda das vendas externas. "Em abril, foram os últimos embarques. Agora, devemos ter novos apenas em dezembro. Não há mais cereal suficiente para exportar e atender o mercado doméstico", explicou. Já a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) estima que o País exporte 109,10 mil toneladas de trigo em maio, conforme estimativa divulgada nesta terça-feira.

Safra 2021/22 - A tendência é de que as exportações continuem sendo uma tônica do mercado de trigo também na safra 2022, que está sendo plantada no País e deve ser embarcada a partir de dezembro deste ano. "Mesmo com a queda do dólar ante o real, os preços externos estão muito elevados, o que dá precificação interessante para o produtor local para travar o custo de produção, e o trigo brasileiro acaba ficando atrativo para o comprador. Acredito que a exportação de trigo veio para ficar", avalia. Ele destaca o interesse de produtores paranaenses e gaúchos em comercializar o cereal para fora dada as cotações atraentes pagas pelos exportadores.

Sandoli estima que o País pode vender para o mercado externo de 3 milhões a 3,5 milhões de toneladas na próxima temporada, ante cerca de 3 milhões de toneladas projetadas para o ciclo anterior. Na sua avaliação, se o País seguir produzindo acima de 6 milhões a 7 milhões de toneladas por ano, a exportação tende a ser um mercado permanente e não apenas de oportunidade. Mantendo esta dinâmica, avalia Sandoli, o Brasil pode transformar estas oportunidades em mercados cativos. "O trigo brasileiro está atingindo qualidade muito boa, o que faz com que os compradores comecem a entender que o Brasil pode ser origem interessante de trigo na entressafra de outros produtores mundiais. Se o País mantiver o crescimento constante da produção, devemos ter compradores anuais do trigo brasileiro", comentou.

A Trigo & Farinhas projeta que o País exporte pelo menos 3,5 milhões de toneladas na safra deste ano. "O País já comprometeu 350 mil toneladas da próxima safra para exportação, aproveitando os preços elevados. No ciclo passado foi principalmente o dólar forte ante o real que fez o cereal brasileiro ser competitivo para exportação. Neste ano, será o patamar alto dos preços", afirma Pacheco, da T&F, acrescentando que a perspectiva é de que as cotações se mantenham firmes ao longo do ano.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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