14 de outubro de 2025
Por Priscila Mengue, do Estadão
São Paulo, 14/10/2025 – Discussão antiga em São Paulo, a implementação de uma estação de metrô em frente ao Parque do Ibirapuera, na zona sul, está incluída na minuta da concessão da Linha 16-Violeta. Esse trajeto deve ir a leilão no próximo semestre, em 2026, com paradas em mais dois parques importantes da cidade: o Parque da Independência, junto ao Museu do Ipiranga, na zona sul, e o Parque da Aclimação – um dos mais antigos da capital paulista, no centro expandido.
A previsão é que a 1ª fase da linha comece a operar em 2035, com 16 estações, passando por bairros movimentados de São Paulo, como Pinheiros, na zona oeste, Jardins, no centro expandido, Vila Mariana, Moema e Ipiranga, na sul, e Mooca e Anália Franco, na leste, dentre outros. A etapa inicial será até o distrito Vila Formosa, enquanto as paradas até o extremo leste ficarão para um segundo momento.
Dentre as milhares de páginas de documentos da consulta pública da bilionária Parceria Público-Privada (PPP), estão as indicações das “desapropriações” mínimas para a implantação das 16 estações da primeira fase de implantação da linha. Esses materiais indicam os futuros acessos, a localização da plataforma e os imóveis que possivelmente deixarão de existir.
Dentre os espaços indicados para desapropriação, estão postos de gasolina, conjunto de casas, imóveis baixos e geral, dentre outros. Há casos que podem gerar maior repercussão, contudo, como na estação Parque do Ibirapuera – com a inclusão de parte da Praça Ayrton Senna na área de desapropriação, especialmente do Centro Esportivo Modelódromo do Ibirapuera.
O governo tem destacado que os perímetros não são necessariamente definitivos, visto que a minuta do edital está em fase de discussão e que alterações poderão ser feitas pela futura concessionária. Uma parte das áreas já teve, contudo, até Decreto de Utilidade Pública (DUP) publicado em setembro. Esse procedimento é necessário para desapropriações.
A primeira etapa da linha contemplará 16 estações, da Teodoro Sampaio, na zona oeste, até Abel Ferreira, na leste. A assinatura do contrato da PPP é prevista para o terceiro trimestre do ano que vem, válido por 31 anos, dos quais nove de obra (saiba mais ao longo deste texto).
A estimativa é de aporte estadual (investimentos iniciais) de R$ 27,1 bilhões, com R$ 97,9 bilhões em contraprestações (distribuídas ao longo do contrato). Isto é, custo total estimado de R$ 125,1 bilhões, de acordo com a modelagem econômico-financeira. Os valores não incluem a fase dois, de modo que os custos dessa implantação tendem a estar em aditivo ao contrato.
Embora os planos de uma linha de metrô não seja novo, aceleraram no último ano após a Acciona sinalizaram interesse no leilão. Confira, a seguir, a área de desapropriação, os acessos e outras informações das estações próximas dos parques. Na sequência, saiba mais sobre a implantação da Linha 16-Violeta.
Onde ficará a estação Parque Ibirapuera?
A estação será implantada principalmente na área Modelódromo. Segundo o estudo referencial, a pista de aeromodelismo “será desativada e reconfigurada ao término das obras”.
Os acessos à estação passarão por três túneis subterrâneos, um deles na entrada do parque. O principal deve ficar perto do Portão 10 – próximo do lago e do Museu Afro Brasil Emanoel Araujo.
Já os demais acessos estarão perto do Obelisco e na Rua Curitiba, junto à Praça Ayrton Senna. Esse último tem previsão de integração caso seja implantado o BRT da Avenida 23 de Maio.
A previsão é que seja uma das estações mais movimentadas da linha, e com volume de passageiros significativo ao longo de diferentes momentos do dia e nos fins de semana. A estimativa é de 5,1 mil desembarques por hora no pico, com 1 mil embarques no mesmo período.
Hoje, a estação mais próxima do Ibirapuera é a AACD-Servidor, da Linha 5-Lilás. Está a mais de um quilômetro de distância de uma das entradas do parque.
Ao todo, são previstos 37,5 mil m² de desapropriações. “Os estudos de demanda indicam o potencial de captura de mais de 1,0 milhão de viagens por ano, geradas em off-peak o que traz uma mais valia adicional para a rede metroferroviária”, diz um trecho do material.
Além dessa estação, haverá mais uma nas proximidades do parque, denominada Jardim Paulista. Essa parada ficará a uma quadra do complexo do Ginásio do Ibirapuera, com acesso na Avenida Brigadeiro Luís Antônio.
Onde será a estação Parque Aclimação?
O planejamento atual aponta que a estação ocupará uma quadra inteira do bairro, delimitada pelas ruas Basílio da Cunha, Coronel Diogo, Ponte Alta e Paulo Orozimbo. Está prevista, ainda, a desapropriação também de toda a quadra vizinha, até a Avenida Lacerda Franco.
Essas áreas abrangem principalmente casas e estabelecimentos de baixa estatura. Dentre eles, estão restaurantes, barbearia, salão, funilaria, clínica veterinária, escola de música e outros.
“A escolha da localização permite boa conectividade com o sistema viário local, além de viabilizar futuras conexões com modais complementares e facilitar o acesso ao parque e demais equipamentos urbanos da região”, aponta o memorial descritivo.
A estimativa é de 1,5 mil desembarques por hora no pico, com 1,6 mil embarques no mesmo período. Ao todo, são previstos 11,7 mil m² de desapropriações.
Hoje, a estação mais próxima é a Paraíso, das Linha 1-Azul e 2-Verde, a quase 1,5 quilômetro de distância. A futura Linha 6-Laranja, hoje em obras e com inaugurações a partir do ano que vem, terá uma estação na Aclimação, a cerca de um quilômetro do parque.
Onde será a estação Parque Independência?
A estação deverá incluir um acesso por túnel subterrâneo até uma das entradas do Parque da Independência. “Essa solução permitirá atender não apenas à população residente, mas também aos visitantes e frequentadores do parque, fortalecendo a integração entre transporte e patrimônio histórico”, diz o memorial descritivo.
Já o outro ponto de entrada é previsto para a confluência da Avenida Dom Pedro I com a Rua Mariano Procópio. “A configuração dos acessos foi concebida para promover integração urbana, preservar o entorno patrimonial e proporcionar conexão eficiente entre o parque e o sistema metroviário”, justifica o estudo.
A estação abrangerá áreas hoje públicas e imóveis baixos, o que inclui basicamente casas, residenciais para idosos e um espaço de arte. São previstos 10,2 mil m² de desapropriações.
A projeção é de que seja uma das estações mais movimentadas da fase um da linha. A estimativa é de 4,8 mil desembarques por hora no pico, com 1,8 embarques no mesmo período.
Hoje, as estações mais próximas são Ipiranga, da Linha 10-Turquesa (CPTM), e Alto do Ipiranga, da Linha 2-Verde, que estão, respectivamente, a cerca de 1,5 quilômetro e 2 quilômetros do parque. Há a previsão, contudo, que a futura extensão da Linha 5-Lilás tenha uma estação a uma quadra, denominada Bom Pastor.
Como deve ser a Linha 16-violeta?
O histórico dessa linha é mais recente do que de outras em discussão ou estudo. Embora ligações com a zona leste tenham sido discutidas ao longo das décadas, foi por volta de 2019 que a ideia de uma “extensão leste” da futura Linha 6-Laranja foi repensada para dar origem a uma nova linha: a 16-Violeta.
O desenvolvimento somente foi acelerado especialmente no último ano após a manifestação de interesse da Acciona, a mesma responsável pela Linha 6-Laranja. A seleção de uma empresa para os estudos que embasarão o edital foi criticada pela Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô (Aeamesp), que defendeu que o interesse público deveria nortear o projeto.
Dentre as alterações, estão a supressão e a exclusão de algumas estações e outras mudanças no traçado. A previsão é de trajeto de 18,9 quilômetros na fase um, com duração média de 34 minutos.
Além das desapropriações, uma nova linha de metrô tem outros impactos nos imóveis do entorno. Um dos pontos mais evidentes nos últimos anos é, por exemplo, a construção de prédios altos, visto que as quadras vizinhas geralmente são transformadas em “eixo de verticalização”, que têm incentivos à construção de apartamentos previstos no Plano Diretor e na Lei de Zoneamento.
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