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Copom deve afastar corte da Selic em breve

É esperado comunicado sinalizando a intenção do colegiado em manter juros altos por período prolongado

17 de junho de 2025

Por Cícero Cotrim

Independentemente da decisão sobre a taxa Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve adotar uma comunicação dura nesta quarta-feira, 18, sinalizando a intenção de manter os juros em terreno restritivo por um período prolongado e sem fechar as portas para novas altas. É um passo importante para evitar que o mercado passe a precificar cortes no futuro próximo, o que afrouxaria as condições financeiras e dificultaria a convergência da inflação para a meta.

O controle das expectativas é mais importante do que a decisão em si, com o mercado dividido entre manutenção da Selic em 14,75% e uma alta a 15,0%, segundo economistas. A diferença de 0,25 ponto para mais ou para menos significaria pouco em termos do impacto da política monetária sobre os preços. Em contrapartida, o período pelo qual os juros vão permanecer em nível restritivo ganhou importância, como destacou recentemente o presidente do BC, Gabriel Galípolo.

Na sua última reunião, o Copom destacou que o cenário se tornou mais incerto e que acompanharia a evolução dos dados para calibrar os juros, e informou que não forneceria mais um forward guidance sobre suas próximas decisões. Desde então, as expectativas de inflação permaneceram desancoradas, mas com alguma sinalização de moderação do IPCA corrente; o PIB do primeiro trimestre cresceu menos do que o consenso, mas com um mercado de trabalho ainda aquecido; e o dólar caiu levemente frente ao real.

Portas abertas

O economista-chefe para Brasil do banco inglês Barclays, Roberto Secemski, espera um aumento de 0,25 ponto na Selic esta semana, a 15,0%. Mas, na avaliação dele, o BC provavelmente está mais preocupado em afastar qualquer precificação de cortes no futuro próximo do que com uma diferença desta magnitude na taxa. Isso vai exigir que o comitê mantenha as portas abertas para seus próximos passos, e reitere uma postura vigilante, afirma.

“Se o Copom aumentar os juros em 0,25 ponto, mas disser que o ciclo terminou, vai ser um forward guidance para julho, e isso vai contra tudo que vem sendo falado sobre a incerteza maior no cenário”, diz Secemski. “No caso de não haver uma alta, que não é o meu cenário, seria prudente da parte do BC dizer que segue vigilante e pronto para reagir em caso de não convergência da inflação. Independentemente do resultado desta reunião, a importância maior é desencorajar a precificação de cortes.”

O analista lembra que os riscos para baixo à inflação mencionados pelo comitê no seu balanço em maio – especialmente o arrefecimento mais intenso da atividade global por causa do choque de comércio externo e a redução nos preços de commodities – parecem ter se tornado menos prováveis, em parte por causa da postergação do aumento de tarifas pelos Estados Unidos. Os riscos para cima, que incluem a desancoragem das expectativas e maior resiliência da inflação de serviços por causa da economia aquecida, permanecem no radar.

Secemski acrescenta que interromper o ciclo de alta antes do dia 10 de julho, quando será publicado o IPCA de junho, também parece mais difícil em termos de comunicação. O mercado espera que a nova meta de inflação contínua seja rompida nesse momento, com a taxa acumulada em 12 meses acima do teto do alvo, de 4,50%, por seis meses seguidos. O BC teria de escrever uma carta aberta explicando a razão do descumprimento e traçando um plano para garantir a convergência.

Comunicado duro

Para o economista Vitor Vidal, da Vitor Vidal Consulting, o BC tem neste momento a “oportunidade única” de aumentar os juros em 0,25 ponto e entregar uma comunicação hawkish, com um choque de credibilidade capaz de reverter a desancoragem das expectativas. Essa atuação ganha importância para evitar um aumento expressivo das projeções para a inflação mais longas, já que, a partir da próxima reunião, de julho, o horizonte relevante do Copom vai virar para o primeiro trimestre de 2027.

“No momento em que o BC fechar a porta, vai começar a discussão sobre quando começa o ciclo de cortes, que é natural. Se o Copom vier com um discurso mais duro, e entregar um aumento de 0,25 ponto, ele vai ter a oportunidade de controlar as expectativas. É um momento fenomenal para mostrar credibilidade”, diz Vidal.

Ele lembra que os fatores que vêm contribuindo para a queda das projeções de inflação do mercado em 2025 ou têm caráter pontual e com pouca inércia para 2026 – como expectativa de preços administrados mais baixos -, ou têm o risco de ser revertidos – por exemplo, se China e Estados Unidos chegarem a um acordo comercial, que pode acabar com a expectativa de uma inundação de produtos do gigante asiático no País, com efeito para baixo nos bens industriais.

Ao mesmo tempo, a tendência é que o BC aumente sua projeção de crescimento do PIB de 2025, que foi reduzida de 2,1% para 1,9% no último Relatório de Política Monetária (RPM), e os serviços intensivos em mão de obra continuam em nível elevado, o que impõe um risco inflacionário. “Daí para ter um efeito em espiral para outros preços da economia, é fácil. Estamos no limite para não desancorar mais o IPCA de 2027”, diz Vidal.

Platô longevo

O economista-chefe da Terra Investimentos, João Maurício Rosal, espera manutenção da taxa Selic em 14,75% nesta quarta-feira, mas afirma que essa decisão precisaria ser acompanhada por uma comunicação dura, visando ancorar as expectativas do mercado. Para isso, o Copom deve fortalecer a sinalização de que manterá a taxa básica de juros elevada por período prolongado, destacando que os efeitos da política monetária restritiva devem aumentar ao longo do tempo.

“Primeiro, ele precisa comunicar que não está pensando em cortes, e que a estratégia é ter um platô longevo para a política monetária, uma estratégia higher for longer. Segundo, precisa dizer que estaria preparado para reagir de acordo com as condições do momento, inclusive apertando juros, se for necessário”, resume Rosal. Para ele, o Copom pode destacar os efeitos dos juros no crédito como evidência dos impactos da Selic contracionista até agora.

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