Para Marcos Brasiliano Rosa, vice-presidente da Caixa, emprego e renda dão fôlego à caderneta
28 de setembro de 2024
Por Matheus Piovesana
Em dezembro do ano passado, o governo federal liberou R$ 90,7 bilhões em precatórios cujos pagamentos estavam represados desde o governo anterior. Nos meses seguintes, indicadores de emprego e renda melhoraram, e as regras para outros investimentos isentos de imposto de renda mudaram. Os fatores somados deram um pequeno fôlego à poupança, modalidade que boa parte do mercado considerava que havia caído em desuso.
O saldo das poupanças neste ano até agosto é negativo em R$ 4,1 bilhões. Houve saídas, mas elas são consideravelmente menores que as registradas no mesmo período dos três anos anteriores, em que o aperto da renda das famílias fez o brasileiro tirar das cadernetas os recursos acumulados durante a pandemia da covid-19, com um empurrão do Auxílio Emergencial pago pelo governo federal.
O vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa Econômica Federal, Marcos Brasiliano Rosa, afirma que a injeção de liquidez no mercado via precatórios no final de 2023 é, por si só, um estímulo importante para que a poupança mostre neste ano desempenho melhor que nos anteriores. Esse empurrão é retroalimentado pela mudança nas regras para as letras de crédito imobiliário (LCI) e agrícola (LCA) feitas no começo deste ano, e que reduziram o cardápio de opções isentas de imposto para o investidor.
“Entendo que esse recurso ficou na poupança. E há ainda fatores econômicos como emprego, renda, inflação, então tem mais dinheiro na praça”, diz ele. A Caixa é líder em poupança no País, e viu o saldo nas cadernetas avançar em cerca de R$ 21 bilhões nos 12 meses até junho deste ano, para R$ 374,5 bilhões.
“A poupança é um mau aluno que está surfando uma onda boa”, afirma o chefe de Produtos de Tesouraria Credit Trading e Captação do Bradesco, Flávio Bortoletto. “A maré veio a favor dela, mas veio um fluxo grande. Tudo de renda fixa tem um crescimento muito grande no ano, e a poupança é a pior aluna da sala.”
Nos grandes bancos, o saldo das próprias letras cresceu mesmo com as restrições impostas neste ano. As instituições acreditam que os efeitos mais fortes das novas regras devem ficar claros no ano que vem, o que gera preocupações quanto a fontes de financiamento para os créditos imobiliário e rural.
Brasiliano, da Caixa, afirma que a expectativa do banco é manter neste ano e no próximo os mesmos patamares de produção no financiamento imobiliário com recursos da poupança vistos em 2023, ano em que o desembolso bateu cerca de R$ 75 bilhões. Hoje, a maior parte da produção de crédito imobiliário no banco usa recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), com orçamento anual que é definido pelo conselho curador do Fundo.
Manter o mix mais dependente do FGTS é crucial para que a Caixa não tenha de aumentar os juros do crédito imobiliário. A taxa praticada hoje foi definida no início de 2023, e para evitar variações, o banco público calibrou a fonte dos recursos utilizados na produção. Neste ano, a poupança surpreendeu positivamente, o que trouxe alívio, ainda que temporário.
“A tendência é fecharmos o ano com captação líquida positiva, talvez próxima de R$ 15 bilhões. Será bem diferente do que havíamos imaginado no início do ano”, afirma o vice de Finanças da Caixa.
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