Grandes companhias têm conseguido prazo acima de dez anos e em grandes montantes
7 de outubro de 2024
Por Cynthia Decloedt
Grandes empresas brasileiras que têm opção de captar no mercado externo de dívida continuam vendo o local como uma vantagem em termos de custo e capacidade de assegurar recursos para suas necessidades. A atratividade do mercado local tem sido uma tônica desde o ano passado e a visão é a de que deve permanecer, apesar de o juro brasileiro estar em rota de alta.
Suzano, CSN, Usiminas, Klabin e outras empresas que têm receitas em dólares não têm acessado o mercado externo com a mesma frequência anual que faziam antes. Normalmente é para essas empresas que as emissões de bonds saem mais baratas, porque não precisam fazer a conversão para reais (“swapar”, no jargão do mercado).
Além do custo relativamente mais baixo, o mercado local tem oferecido a oportunidade de captação de recursos a prazos mais longos, acima de 10 anos, e em grandes montantes, que eram atrativos somente do mercado externo.
O chamado “bolso fundo”, em referência aos volumes que o investidor estrangeiro é capaz de absorver, ainda permanece como um diferencial no mercado externo de dívida. Mas a demanda local por ativos de renda fixa está tão aquecida que empresas de primeira linha facilmente levantam R$ 5 bilhões por aqui. No exterior, os montantes de referência das captações variam de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, o que equivale a R$ 2,7 bilhões a R$ 5,4 bilhões, respectivamente, considerando o câmbio desta sexta-feira, 4.
Na próxima semana, a Rede D’Or fará a venda de R$ 5,9 bilhões em debêntures de três, sete e dez anos no mercado brasileiro. O prêmio que a empresa está oferecendo para os investidores no prazo de 10 anos é de 1,3%, inferior aos 1,9% que pagaria para levantar lá fora os recursos nesse vencimento, que é um prazo de referência nas operações feitas no exterior, apurou o Broadcast. A companhia de saúde já tem dois bonds emitidos, de US$ 500 milhões, com vencimento em 2028, e de R$ 850 milhões, com vencimento em 2030. Ou seja, tem experiência no exterior e é conhecida dos estrangeiros.
“O mercado de capitais local continua sendo a principal via de captação das empresas, o que tem sido uma constante nos últimos anos. Estamos vendo operações com volumes enormes de forma mais constante, como de R$ 2 bilhões, R$ 4 bilhões ou mais, o que só mostra o quanto esse mercado está mais maduro”, disse sócio de mercado de capitais do Lefosse Advogados, Ricardo Prado.
O diretor de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA, Felipe Wilberg, afirma que o mercado externo continua aberto e receptivo, mas o local ainda é mais barato para a maior parte das empresas. “O externo tem um custo mais equilibrado para as exportadoras de excelente qualidade de crédito, por exemplo, que emitem no mesmo custo ou até em melhores condições que o soberano (Tesouro)”, acrescenta Wilberg.
Os profissionais lembram que, ainda assim, o mercado externo sempre é uma opção para as companhias. “Vamos continuar tendo mercado externo muito ativo, mas não descarto que as empresas continuem acessando os dois. Para quem é dolarizado ainda faz sentido captar lá fora, embora o local não saia de pauta. Vai depender do setor e se poderá ter acesso as debêntures incentivadas”, diz o responsável pela área de mercado de capitais – renda fixa do Santander Brasil, Matheus Licarião.
Retomada
Até 12 de setembro, as emissões de títulos de dívida externa (bonds) somavam US$ 18 bilhões e a expectativa de executivos dos principais bancos que assessoram as companhias nessas transações é de que o ano de 2024 seja encerrado com um volume de US$ 20 bilhões a US$ 25 bilhões. Esse montante, se confirmado, será o maior dos últimos três anos e significa retomada do padrão de operações anuais feitas pelas companhias brasileiras no exterior.
A captação com bonds mais recente foi da Raízen, que levantou US$ 1 bilhão em bonds sustentáveis de 10 anos. A companhia está também captando esta semana mais R$ 1,5 bilhão em debêntures com vencimentos em 2034 e 2039.
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