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Inflação nos EUA acelera, mas não deve impedir novo corte no juro pelo Fed

O comitê de política monetária do Banco Central se reúne nesta próxima quarta-feira para seu último ato em 2025

8 de dezembro de 2025

Por Aline Bronzati, correspondente

A medida preferida pelo Federal Reserve (Fed) para a inflação nos Estados Unidos mostrou leve aceleração em setembro, enquanto o país enfrentava o maior shutdown de sua história. Com os preços elevados e um ambiente incerto, seja sob a ótica comercial ou fiscal, os consumidores americanos, por sua vez, já haviam colocado um freio nos gastos. Ainda assim, Wall Street não enxerga sinal na maior economia do mundo forte o suficiente para impedir o banco central americano de voltar a cortar os juros antes das festas de final de ano. O Fed se reúne nesta próxima quarta-feira para o seu último ato de política monetária de 2025.

Na sexta-feira foi divulgado que o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) dos EUA subiu 0,3% em setembro ante agosto, ligeiramente acima da expectativa de analistas ouvidos pela FactSet, que projetavam avanço de 0,2% no período. No ano, a alta foi de 2,8%, em linha com as estimativas. Já o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como preços de alimentos e energia, subiu 0,2% em setembro na comparação com agosto e 2,8% no ano. Ambos em linha com as expectativas.

Esta foi a primeira leitura de inflação divulgada após o fim do shutdown, que paralisou a máquina pública americana por mais de 40 dias. A renda pessoal e os gastos com consumo também avançaram em linha com o esperado. Para economistas em Wall Street, foi um sinal de que os americanos já estavam com o pé no freio para gastar antes mesmo de os EUA entrarem em shutdown.

Apesar disso, paira um otimismo maior quanto ao futuro da maior economia do mundo no ar, ou talvez, um menor pessimismo, como definiu a consultoria britânica Oxford Economics. O índice de sentimento do consumidor americano subiu de 51 em novembro para 53,3 em dezembro, segundo a Universidade de Michigan. Foi a primeira melhora em quase seis meses. E o empurrão veio de melhores expectativas. O americano passou a prever uma inflação menor tanto daqui a um ano como na metade do próximo século.

“Embora não sejam os dados mais importantes no calendário para o FOMC (Comitê Federal do Mercado Aberto), isso também ajudará os membros do Fed a se sentirem mais confiantes sobre um terceiro corte consecutivo nas taxas americanas”, diz o economista do CIBC Economics, Ali Jaffery.

Em Wall Street, as expectativas de corte um novo corte de juros de 25 pontos-base na semana passada chegaram a bater na casa dos 90%, mostra o levantamento da plataforma americana CME Group. Na sequência, tais chances se arrefeceram, voltando a ficar abaixo deste patamar.

O PCE também se referiu a setembro, mesmo mês do relatório do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) que os membros do BC dos EUA avaliaram na reunião de outubro. “Em outras palavras, dados antigos e o CPI já deram ao FOMC uma ideia da inflação naquele mês. No entanto, com a inflação do PCE geral em linha com as expectativas e os gastos pessoais reais mais fracos, o relatório de hoje apoia o argumento dos ‘doves‘ para um corte em dezembro”, diz o estrategista sênior do Rabobank para os EUA, Philip Marey.

Para o britânico Barclays, o núcleo do PCE de setembro indica que a inflação dos EUA tem sido afetada por uma ‘parcela considerável’ dos preços de bens neste ano, em linha com o efeito das tarifas. Esse impacto, porém, é compensado pela desinflação nos aluguéis de habitação e, provavelmente, dá um ‘sinal verde’ para o Fed cortar os juros na próxima semana.

O economista-chefe da Oxford Economics para os EUA, Michael Pearce, afirma que a inflação americana ainda está longe da meta do Fed, de 2% ao ano, e deve ficar próxima de 3% nos próximos trimestres. Contudo, se o impacto do tarifaço do presidente dos EUA, Donald Trump, for mesmo pontual, tende a arrefecer na sequência.

“Uma vez que o aumento pontual nos preços de bens devido às tarifas saia da comparação, as tendências subjacentes sugerem que a inflação dos EUA moderará para perto de, mas ainda acima de, 2% até o fim de 2026”, projeta Pearce, da Oxford Economics.

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