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Governo pauta redes sociais com debate sobre taxar ricos

É a primeira vez que tema do Executivo aparece com relevância, mostra análise da Bites ao Broadcast

4 de julho de 2025

Por Gabriel Hirabahasi

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva obteve nos últimos dias uma vitória nas redes sociais ao conseguir pautar a discussão sobre a taxação de pessoas mais ricas, mostra levantamento exclusivo da Bites, empresa de análise de dados, feito a pedido do Broadcast Político. É a primeira vez que o governo consegue pautar de “forma bastante relevante” um tema nas redes sociais, destaca o diretor técnico da Bites, André Eler.

As menções a temas tributários nas redes sociais saltaram mais de 270% nos últimos dias, um reflexo do esforço de apoiadores de Lula em alavancar o discurso de taxação das pessoas mais ricas nas plataformas digitais. A grande maioria dessas publicações veio de pessoas simpáticas ao governo, o que mostra, para o diretor técnico da Bites, André Eler, que pela “primeira vez” o governo conseguiu criar uma mobilização nas redes.

O estudo abrange as informações do período de 25 de junho, quando o Congresso Nacional aprovou o decreto legislativo que derrubou o aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), até esta quarta-feira, 2. Foram consideradas publicações em diversas redes (X, contas relevantes do Instagram, publicações abertas do Facebook, sites de notícias, blogs, fóruns e Reddit).

A Bites identificou os termos usados por governistas e oposicionistas e dividiu a maior parte das mensagens entre esses dois grupos. Publicações com os termos “Congresso mamata” e “Hugo Motta traidor”, por exemplo, foram incluídas no cálculo dos governistas. Outras com termos críticos ao governo foram associadas à oposição. Há ainda mensagens neutras ou que não seguiram essa “lógica de manada” dos grupos à esquerda e à direita.

Desde o dia 25, foram mais de 1,5 milhão de menções a temas tributários nessas redes. O ápice foi nesta quarta-feira, 2, quando mais de 307 mil menções foram registradas.

Os dados mostram como o total de publicações depois do dia 25, data da derrota do governo no Congresso, vinha em queda gradual, até chegar a cerca de 82 mil posts no domingo, 29. A partir de então, a trajetória se inverteu. Governistas passaram a mobilizar as redes com o discurso de taxação dos mais ricos.

Na quarta-feira, 2, ápice das publicações, os governistas fizeram mais de 207 mil posts sobre o assunto, o equivalente a cerca de 67% do total. A oposição, apenas 29 mil, ou aproximadamente 9% do total.

Para o diretor técnico da Bites, André Eler, os números mostram que o governo conseguiu pautar as redes sociais pela primeira vez “de forma bastante relevante”. “Pela primeira vez, o governo conseguiu pautar de forma bastante relevante um tema e equilibrar uma correlação de forças em que geralmente o governo sai derrotado. Nas redes, em geral, a oposição ganha. O governo conseguiu organizar uma narrativa para fazer com que as pessoas discutam, a partir do IOF, o aumento de impostos pela ótica de diminuir injustiças e desigualdades”, disse ao Broadcast Político.

Eler contou que, desde o dia 25, “estava um debate um pouco mais equilibrado nas redes e até com mais interações dos oposicionistas, mas isso mudou nesta semana, nos últimos três dias principalmente, quando os governistas começaram a investir muito nessas hashtags”.

O diretor da Bites afirmou que essa “foi uma vitória, ao menos parcial, do governo”, mostrando que “a oposição não conseguiu se organizar tanto quanto o governo”.

A Bites também levantou as publicações e interações em posts de deputados aliados do governo e da oposição nas redes. Esse recorte mostra que o maior número de publicações foi, disparado, no dia em que o Congresso aprovou a derrubada do aumento do IOF. A maior parte delas veio da oposição: 288 publicações de oposicionistas contra 229 de governistas.

Quando a métrica é o engajamento, a vitória do governo foi mais apertada. Do dia 25 de junho a 2 de julho, foram 13,3 milhões de interações com as publicações sobre o IOF e temas relacionados. Os governistas foram responsáveis por 4,37 milhões delas e os oposicionistas, por 4,03 milhões.

O diretor técnico da Bites destacou esse ponto e disse que “a distância (no volume de engajamento) não é tão grande quanto o volume de posts”. “A oposição ainda tem a capacidade de falar dos assuntos e ter muitas interações por ter uma base mais estruturada”, afirmou.

A quantidade de publicações de deputados, tanto do governo quanto da oposição, nos últimos dias não acompanhou a curva de crescimento dos posts sobre temas tributários em nível geral, o que indica um movimento descolado dos principais atores políticos e mais ligado à militância de forma geral.

Como o Broadcast Político mostrou, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República tem monitorado as cobranças nas redes sociais ao Congresso Nacional após derrubada do decreto de aumento do IOF. As críticas ao Legislativo e ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), têm sido comemoradas por serem orgânicas e pressionarem o Congresso em um momento em que o governo se encontra pressionado pelos deputados e senadores após a derrota no caso do IOF.

A Secom e o governo como um todo, no entanto, têm tentado se afastar dessas publicações e das críticas mais contundentes a Motta e aos congressistas, segundo as fontes ouvidas pela reportagem. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), por exemplo, foi a público manifestar sua “solidariedade” a Motta.

“Apesar do revés enfrentado recentemente pelo governo na votação do IOF, isso não pode ser usado como justificativa para ataques pessoais dirigidos ao presidente da Câmara, Hugo Motta. O que devemos continuar priorizando é a disputa de ideias no campo social, engajando a sociedade na compreensão dos esforços que o governo vem realizando para taxar os super-ricos e promover justiça social e tributária”, disse no X.

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