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Fluxo externo pode frear se Congresso barrar IOF

Reversão da medida dificultaria cumprimento da meta fiscal, disseram participantes do mercado ao Broadcast

30 de maio de 2025

Por Maria Regina Silva e Caroline Aragaki

São Paulo, 29/05/2025 – A Bolsa brasileira pode perder parte do fluxo de investimento estrangeiro se o Congresso barrar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), segundo participantes do mercado ouvidos pelo Broadcast. A reversão da medida, afirmam, dificultaria o cumprimento da meta fiscal.

Para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, o recuo do Ministério da Fazenda na decisão de elevar o IOF para investimentos de fundos nacionais no exterior afastou a principal preocupação do mercado financeiro – a criação de um obstáculo tributário capaz de invalidar a diversificação em ativos no exterior.

Revogar todas as alterações no imposto, no entanto, seria prejudicial para o controle das contas públicas, acrescenta. “Se derrubarem, se não tiverem os R$ 20 bilhões previstos com a alta do imposto, vai ajudar menos o fiscal, vai estressar.”

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), indicou que discutirá nesta quinta-feira com os líderes na Casa um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que suspenderia as alterações no IOF.

O apoio à proposta não se restringe aos partidos de oposição – o líder do PDT na Câmara, Mário Heringer (MG), disse ao Broadcast Político que a bancada de deputados do partido apoiará a derrubada do aumento no IOF. O PDT votava com o governo até o início de maio, quando decidiu se tornar independente.

A possibilidade de partidos do centrão serem convencidos a barrar o aumento do IOF “é um risco relevante” porque, se a mudança no imposto for derrubada, “o governo vai ter que ir atrás de outras medidas – e estas, como vimos até agora, sempre tendem a ser ineficientes para a economia”, avalia o estrategista-chefe para mercados emergentes do Deutsche Bank, Drausio Giacomelli.

Além disso, se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continuar perdendo popularidade, ele pode anunciar mais medidas populares, o que também aumentaria as preocupações fiscais, segundo o estrategista.

Ajuda externa

A perda de fluxo de investimento estrangeiro, porém, pode ser limitada pelo contexto macroeconômico global. Segundo os especialistas, a diversificação no portfólio de gestores globais que buscam reduzir a exposição aos Estados Unidos deve continuar, o que é positivo para mercados emergentes, como o Brasil.

Para Giacomelli, do Deutsche Bank, os investidores estão receosos com a mudança promovida pelo presidente Donald Trump na política tarifária dos Estados Unidos. Além disso, demonstram desconforto com o cenário fiscal do país, algo que já vinha afetando a alocação de recursos, ainda que em menor grau, no decorrer dos últimos dez anos.

“Acho que tem espaço para o Brasil se beneficiar do fluxo externo tanto do ponto de vista de fim de ciclo de aperto monetário quanto no mercado de ações – as ações estão baratas ainda. E os riscos fiscais não são tão surpreendentes”, afirma.

O analista Felipe Moura, da Finacap, destaca que o investidor estrangeiro tem se pautado em preços para fazer aportes, e não necessariamente no diferencial de juros entre o Brasil e os EUA. “O gringo não está olhando o carry trade. O Brasil está barato, enquanto nos Estados Unidos as bolsas avançaram bastante”, diz.

Enquanto o múltiplo Preço por Lucro Futuro (P/L) do Ibovespa está em 8,2 vezes, o do S&P 500 é de 23 vezes, calcula o Citi, em relatório.

Controle de capital

O analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, acredita que o investidor estrangeiro pode ficar reticente em relação ao Brasil mesmo com os múltiplos atraentes da Bolsa por receios de que o governo esteja interessado em adotar medidas de controle de capital.

“A confiança, se é que ainda tinha sobrado, fica prejudicada”, avalia, ainda que a Fazenda tenha recuado no aumento do IOF para investimento estrangeiro.

Giacomelli, do Deutsche Bank, considera que o recuo da Fazenda no aumento do IOF para fundos de investimentos no exterior e sobre aplicações de pessoas físicas no mesmo dia do anúncio de cobrança mostra uma reação à sensibilidade do mercado e isso “minimiza o risco de controle de capital”.

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