Plataformas Broadcast
Soluções de Dados e Conteúdos
Broadcast OTC
Plataforma para negociação de ativos
Broadcast Data Feed
APIs para integração de conteúdos e dados
Broadcast Ticker
Cotações e headlines de notícias
Broadcast Widgets
Componentes para conteúdos e funcionalidades
Broadcast Wallboard
Conteúdos e dados para displays e telas
Broadcast Curadoria
Curadoria de conteúdos noticiosos
Broadcast Quant
Plataformas Broadcast
Soluções de Dados e Conteúdos
Soluções de Tecnologia
Na visão de analistas, ele conseguiu dissipar dúvidas do mercado sobre assentir a interferências políticas
24 de dezembro de 2025
Por Marianna Gualter
Em seu primeiro ano à frente do Banco Central, Gabriel Galípolo manteve uma condução técnica e dissipou dúvidas do mercado sobre a possibilidade de ceder a interferências políticas. O período, contudo, não pode ser descrito como de calmaria.
Com a Selic estável em 15%, ele passou a ser alvo de críticas do governo que o indicou. E, para além da política monetária, teve de conduzir o BC durante momentos sensíveis: a resposta aos ataques cibernéticos contra o sistema financeiro e à crise do Banco Master.
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 15% ao longo de todo o segundo semestre de 2025, com base no entendimento de que a taxa nesse nível, por “período bastante prolongado”, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta. A estratégia não passou imune à pressão do governo federal – embora em tom abaixo do direcionado à gestão anterior, de Roberto Campos Neto.
Em setembro, por exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o banqueiro central sabia que os juros estavam altos e que seria uma “questão de dias” para começarem a cair. A condução também foi abordada por outros integrantes do governo. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a afirmar que já havia “passado da hora” de o BC sinalizar cortes da taxa. Já a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse que Galípolo “deixou a desejar”.
Para o ex-diretor do BC e diretor de macroeconomia do ASA, Fábio Kanczuk, o primeiro ano de Galípolo foi “uma grata surpresa” e “em nada transpareceu influência política”. Em comparação ao trabalho desempenhado pela gestão anterior, ele avalia que a percepção foi de continuidade.
A visão é corroborada pelo ex-diretor do BC e chairman da Jive Mauá, Luiz Fernando Figueiredo. Ele destaca a postura técnica e harmônica adotada pelo Copom e afirma que Galípolo já havia sanado eventuais dúvidas sobre como seria sua conduta enquanto diretor de Política Monetária e que agora enfatizou sua credibilidade como presidente.
Também nessa linha, o ex-secretário do Tesouro e sócio-fundador da Oriz Partners, Carlos Kawall, enfatiza que o banqueiro central assumiu a missão de convergir a inflação à meta e ressalta a relação positiva desenvolvida entre o presidente do BC e o atual diretor de Política Econômica, Diogo Guillen – que deixará o cargo no fim deste ano.
Avalia ainda que a transição em relação à gestão anterior foi “bastante suave” e ressalta o papel da autonomia do BC nesse processo. “O avanço institucional resultante da autonomia é ainda mais importante no contexto em que andamos na contramão no que diz respeito à institucionalidade fiscal. Nós temos uma âncora importante vinda do BC enquanto a âncora fiscal está sendo erodida.”
Em novembro, o BC pôs fim ao imbróglio sobre sustentabilidade financeira do Banco Master. O anúncio da liquidação ocorreu cerca de dois meses depois de a autarquia vetar a compra de uma fatia da instituição pelo Banco de Brasília (BRB).
Kawall observa que, já em um contexto de deterioração financeira, o Master buscou colocar seu problema dentro do mundo político. Relembra que, enquanto o BC analisava a proposta do BRB, houve uma articulação no Congresso por um projeto que autorizaria a demissão de integrantes da cúpula da autarquia.
Considerando também esse fato, ressalta a importância da decisão de liquidação e avalia que ela seguiu “à risca as recomendações técnicas”, colocando um basta à trajetória danosa para o mercado financeiro que estava sendo conduzida pelo Master. Enfatiza que, além do lado técnico, a decisão mostrou a estatura do presidente do BC. “É um primeiro ano de gestão dele, é uma situação super delicada, uma herança de anos anteriores. Também acho que vai ser uma questão a ser esclarecida no futuro. Por que fomos tão longe? Por que o buraco ficou tão fundo?”.
À luz do envolvimento do crime organizado em uma série de ataques contra instituições financeiras, o BC anunciou um conjunto de medidas para reforçar a segurança do Sistema Financeiro Nacional (SFN) em 2025. Dentre elas, antecipou o prazo para IFs ainda não autorizadas regularizarem sua situação, alterou o regulamento do Pix, mudou as regras de capital mínimo e fechou o cerco às “contas-bolsão”.
À Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, o secretário-executivo do BC, Rogério Lucca, esclareceu que muitas das medidas já vinham sendo discutidas nos últimos anos, mas que, de certa forma, a adoção de algumas delas foi acelerada pela sequência de ataques.
Para o advogado Bruno Balduccini, sócio do Pinheiro Neto Advogados, o BC executou “uma agenda de resposta”, após identificar pontos de fragilidade no sistema. “Havia uma agenda regulatória um pouco mais organizada, mais cadenciada, mas com a entrada de fraudes, eles decidiram agir mais rápido do que o normal e fizeram a toque de caixa algumas regras, mesmo com o risco de ter que melhorar o texto lá na frente”, diz.
Ao comparar a gestão atual com a anterior, Balduccini recorre à figura de um pêndulo. Antes, o pêndulo estava mais inclinado à geração de competição com baixo custo de entrada; agora está mais ao centro, como se sob efeito de um freio de arrumação. “Essa tecnologia que foi super importante para a competição agora está sendo usada para achar brechas. Então é preciso parar um pouco, arrumar e depois continuar.”
O advogado e professor de regulação financeira Aylton Gonçalves lembra que a agenda regulatória apresentada pelo BC em abril já previa normas antifraude, mas ressalta que o trabalho normativo da autarquia foi intenso na segunda metade do ano. Associa esse movimento principalmente à urgência causada pelas fraudes envolvendo Prestadoras de Serviços de Tecnologia da Informação (PSTIs) e avalia que, especificamente sobre esse tipo de prestação, houve certa demora do BC em reconhecer o risco sistêmico envolvido.
O mercado prevê o início de um ciclo de afrouxamento da política monetária no ano que vem. Nesse contexto, Kawall afirma que o principal desafio do BC será conduzir os cortes em meio a um cenário de desequilíbrio econômico, no qual, apesar do enfraquecimento da economia em setores ligados ao crédito, o estímulo fiscal ainda sustenta o consumo de baixa renda e pressiona os serviços. A trajetória do dólar também será decisiva: estabilidade ou queda devem corroborar a flexibilização, enquanto uma alta, por fatores externos ou incertezas fiscais internas, associadas ao período eleitoral, pode dificultar o processo. Ele projeta redução da Selic até 12,25%.
Figueiredo avalia que o grande desafio da autarquia no ano que vem será aproximar a inflação do centro da meta e prevê que o BC levará a Selic para ao redor de 12%. Ele não descarta a possibilidade de novos cortes em 2027, mas diz que eles dependem do compromisso do governo que será eleito com o ajuste fiscal, mesmo que gradual. Em um cenário oposto, não descarta uma eventual retomada da alta dos juros.
Do ponto de vista da regulamentação, a expectativa é pela continuidade no trabalho de combate à infiltração do crime organizado no SFN. “Devemos começar a ver outras regras parecidas com aquela resolução conjunta nº 6, que fala sobre a tentativa de abertura de conta e sobre os concorrentes dividirem informações. Vamos começar a ver mais regras ou autorregulamentação nesse sentido de integração um pouco maior entre vários concorrentes e, eventualmente, a polícia”, avalia Balduccini.
Gonçalves afirma que, nesse tema, o mercado aguarda principalmente a definição pelo BC de exemplos de situações atípicas para aferição de indícios de operações fraudulentas. Para além do combate às fraudes, entende que a autarquia terá de demandar atenção a áreas recentemente reguladas, como os ativos virtuais e o Banking as a Service (BaaS). “Os novos modelos de negócios que surgirão a partir da publicação das novas normas sobre esses temas representarão a necessidade de um olhar específico da autarquia, tanto na edição de normas quanto na supervisão.”
Veja também