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Cresce calote em serviços e empréstimos

Consumidores estão sendo mais pontuais no pagamento de contas básicas, como de água e luz

11 de junho de 2025

Por Caroline Aragaki

Os consumidores estão sendo mais pontuais no pagamento de contas básicas, como as de fornecimento de água e luz, mas cada vez mais inadimplentes nas dívidas com bancos, financeiras e prestadores de serviços, com a proporção de atrasos em algumas categorias atingindo níveis recorde.

Os dados mais recentes da Serasa Experian mostram que em abril havia 76,6 milhões de consumidores inadimplentes, alta de 4,35% ante o mesmo período de 2024 e o equivalente a 47,1% da população adulta brasileira – a taxa mais alta desde o início da série histórica, no fim de 2016.

A maior parte da inadimplência (52,5%) ainda está fora do setor financeiro, segundo a Serasa. No entanto, há sinais de que este cenário pode mudar.

As contas de necessidade básica, como água e luz, por exemplo, chegaram a abril representando 20,1% da inadimplência geral – menos que em janeiro, quando o índice era de 21,0%. No varejo, também houve queda – de 9,9% para 9,6%.

Em paralelo, diz a Serasa, a inadimplência dos consumidores com instituições financeiras passou a representar uma parcela maior do total de contas atrasadas – aumentou de 18,1% para 19,3%.

Serviços não essenciais aos consumidores, como transporte, limpeza, administração, entre outros, também foram penalizados, passando de 10,9% para 11,6% do total.

Um dos exemplos de aumento da inadimplência em serviços consta em levantamento da uCondo, antecipado ao Broadcast. A inadimplência em condomínios residenciais alcançou 17% no primeiro trimestre de 2025, maior nível da série histórica iniciada em 2022, contra 12% no primeiro trimestre de 2024.

Segundo a uCondo, que atende 6 mil condomínios e 560 mil usuários, o aumento na taxa de inadimplência de condomínios residenciais coincide com o cenário de inflação persistente e reajustes nas taxas condominiais, que passaram de uma média de R$ 493,81 em 2024 para R$ 507,51 neste ano no Brasil.

A taxa de inadimplência em condomínios nos primeiros trimestres foi de 10% em 2022, 9% em 2023, 12% em 2024, e 17% em 2025, diz a empresa. “Pensando no cenário macroeconômico atual do Brasil, a tendência é que a inadimplência condominial continue aumentando, porque o endividamento das famílias está muito alto”, avalia o diretor de operações da Ucondo, Leo Mack.

“A inflação está impactando bastante o consumidor. O poder de compra diminui muito com a inflação no nível atual, e as pessoas estão tendo que escolher o que pagar e como pagar. Então deixaram um pouco serviços de lado, por exemplo, para que contas básicas – que são essenciais para viver no cotidiano – estejam em dia”, afirma a especialista em educação financeira da Serasa, Monica Seabra.

O presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, atribui os atrasos em pagamentos ao aumento da possibilidade de financiamentos, principalmente de pequenas empresas, sem o lastro necessário nas operações financeiras. “Deram empréstimos, mas nem todos conseguem honrar”, avalia. Ele cita como exemplo o crédito consignado a aposentados.

Mais fácil de ser obtido do que o crédito pessoal, em alguns casos o consumidor obtém um empréstimo consignado mesmo listado em cadastro de inadimplentes, pois o desconto ocorre diretamente do salário, segundo Seabra, da Serasa.

Contudo, diz ela, o desconto das parcelas diretamente do salário ou aposentadoria faz com que parte dos consumidores não sinta que o dinheiro fará falta lá na frente. “Acaba virando uma bola de neve que vai crescendo”, aponta, frisando que se na cabeça dos consumidores o pagamento de contas básicas é mais importante, acaba faltando para outros setores.

“Como o serviço você gasta no dia a dia, não é uma conta fixa, é mais difícil ter um controle financeiro sobre o quanto se está gastando com isso”, acrescenta Nese, da CNS.

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