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Copom deve manter comunicação com Selic a 15%

Intenção é afastar apostas do mercado financeiro em corte da taxa básica de juros nos próximos meses

30 de julho de 2025

Por Cícero Cotrim

O Comitê de Política Monetária (Copom) deve repetir, na decisão desta quarta-feira, o sentido da comunicação do encontro anterior ao mesmo tempo em que manterá a Selic em 15%. O movimento é importante para afastar apostas em um corte de juros nos próximos meses, depois que o colegiado sinalizou a intenção de deixar a taxa básica no nível atual por período que classificou como bastante prolongado.

Principal desenvolvimento macroeconômico desde a última reunião do Copom, o anúncio de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelos Estados Unidos não deve render mudanças na comunicação do colegiado, segundo economistas ouvidos pela Broadcast. Os analistas lembram que as tarifas ainda não terão entrado em efeito no momento da decisão do colegiado. Por isso, seus efeitos ainda não estão claros.

“O mais natural é esperar um discurso neutro, sem ter muito viés de ação para os próximos passos”, diz a chefe de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management, Solange Srour, destacando que a desancoragem das expectativas permanece como desafio para o Comitê.

Desde a última reunião do Copom, no dia 18 de junho, as medianas do relatório Focus para o IPCA de 2025 e 2026 oscilaram para baixo, de 5,25% e 4,50% para 5,09% e 4,44%, mas continuam sensivelmente acima do centro da meta, de 3%. A cotação do dólar usada no cenário de referência do comitê passou de R$ 5,60 para R$ 5,55.

O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) caiu 0,74% em maio, abaixo do piso das estimativas do mercado. O Copom já mencionou que o arrefecimento da atividade é um “elemento essencial” do processo de convergência da inflação à meta. O IPCA-15 de julho mostrou alívio na média dos núcleos e nos serviços subjacentes.

No último dia 18, dois grupos de economistas do mercado financeiro relataram, em reuniões fechadas com diretores do BC, a expectativa de desaceleração mais rápida da inflação, com sinais mais claros de arrefecimento na atividade. As próprias tarifas americanas, se aplicadas, resultariam em uma diminuição do Produto Interno Bruto (PIB) e um aumento da oferta de produtos no mercado doméstico, contribuindo para reduzir o IPCA.

Mas a autoridade monetária ainda tem outros desafios no horizonte. Em primeiro lugar, porque as expectativas de inflação podem ter caído, mas continuam acima do centro da meta, inclusive em horizontes mais longos. A resiliência do mercado de trabalho permanece, com a taxa de desemprego orbitando os menores níveis da série histórica. E uma retaliação aos EUA poderia colocar em xeque o efeito desinflacionário das tarifas.

“Se formos para um cenário mais adverso, que não pode ser descartado, retaliando mesmo que de forma não tarifária, e recebendo sanções além das tarifárias, o efeito desinflacionário pode ficar em xeque, porque podemos ter um aumento no prêmio de risco, e esse cenário de dólar fraco pode se inverter para o Brasil”, diz Srour. “Acho que o Copom vai colocar um risco em relação às tarifas, sem dar muito viés.”

O economista do Santander Marco Caruso, calcula que, com as mudanças no cenário, a projeção do BC para o horizonte relevante da política monetária, que nesta reunião passa do fim de 2026 para o primeiro trimestre de 2027, pode cair marginalmente, para 3,3%. No entanto, qualquer mudança na comunicação poderia ser vista como uma sanção à expectativa de corte nos juros mais cedo e, por isso, deve ser evitada.

“No fim do dia, o desafio é dar sinais de que o termo bastante prolongado é, de fato, bastante prolongado, porque menos atividade e menos inflação poderiam conversar com uma empolgação do mercado com o ciclo. Mas, como esses são os primeiros capítulos de uma melhora, ele não deve jogar luz nisso”, diz Caruso. “O Copom provavelmente deveria mexer o mínimo possível, para não mudar uma estratégia que parece estar sendo vencedora.”

Na mesma linha, Silvio Campos Neto, economista-sênior e sócio da Tendências Consultoria Integrada, avalia que a evolução dos dados e indicadores até aqui indicam a manutenção de um discurso mais cauteloso por parte do Copom. Mantendo o mesmo discurso das últimas reuniões, o Comitê evitaria abrir qualquer flanco para permitir uma mudança na precificação do mercado, ele diz.

“Ele poderia, inclusive, manter a sinalização de que, em caso de necessidade, estaria pronto para aumentar a taxa Selic. É uma coisa pouco provável, e eu diria até que improvável. Mas pode usar essa sinalização para minimizar a percepção, no mercado, de que uma queda dos juros estaria próxima”, afirma o analista.

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