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CDS recua ao menor nível dos últimos cinco anos

Apesar de oscilar abaixo dos 145 pontos, especialistas dizem que grau de investimento ainda está distante

10 de dezembro de 2025

Por Daniel Tozzi

O custo para se proteger de um calote da dívida soberana brasileira está entre os menores dos últimos anos. O chamado spread do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos do Brasil, indicador usado no mercado internacional para medir a percepção de risco de um país, tem oscilado abaixo dos 145 pontos nos últimos meses, algo raro nos últimos cinco anos.

O CDS funciona como um seguro contra calote: quanto mais barato, menor o temor de que o país não honre suas obrigações. Ou seja, esse nível baixo indica que, na visão dos investidores globais, o risco de crédito do País está relativamente controlado, sobretudo quando comparado à média histórica brasileira.

Além disso, as últimas emissões de títulos da dívida brasileira no exterior apresentaram queda significativa nos prêmios de risco embutidos pelos investidores. A mais recente, de novembro de 2025, teve spreads de 187,4 pontos acima da Treasury de referência (título do Tesouro norte-americano), nível relativamente baixo, pelo histórico recente. Emissões semelhantes realizadas entre 2021 e 2024, por exemplo, tiveram spreads acima dos 210 pontos.

Esse alívio na percepção dos investidores, no entanto, não se traduz em melhora nas avaliações das agências de classificação de risco. Embora o mercado tenha reagido positivamente ao cenário, fatores estruturais ainda pesam sobre a análise das grandes casas de rating, como S&P, Moody’s e Fitch, que mantêm o Brasil abaixo do grau de investimento, perdido em 2015.

A diferença entre o comportamento do CDS e as notas de crédito acontece porque, apesar de ambos medirem risco, eles observam dimensões distintas. Enquanto o CDS reflete uma leitura mais imediata das condições de mercado, as agências adotam metodologias mais amplas, que incluem variáveis fiscais e de prazo mais longo, seara em que o Brasil ainda “patina”, conforme pontuam analistas consultados pela Broadcast.

Além disso, a relação entre CDS e rating do Brasil hoje não destoa muito quando comparada a de outros países emergentes. A Índia, por exemplo, registrou CDS de 5 anos bem mais baixo que o do Brasil – de 46,5, em média, em novembro – e tem um rating BBB (mais positivo que o Brasil), pela classificação da S&P. Já a África do Sul, tem rating semelhante ao do Brasil (BB-), e conta com um CDS de 5 anos em nível parecido: 147,8 pontos. Os dados são da S&P Market Intelligence e foram levantados a pedido da Broadcast.

Na comparação com pares latinos, o México e o Peru são classificados com a nota BBB pela S&P – mais positiva que o Brasil -, mas apresentaram um CDS menos elevado que o brasileiro (98 pontos e 69 pontos em novembro, respectivamente), ou seja, indicando que os investidores estrangeiros veem menos risco de se investir nesses países.

Na Colômbia, por outro lado, o rating definido pela S&P é igual ao do Brasil (BB), mas o CDS de 5 anos do país foi consideravelmente mais elevado, de 196,2 pontos em novembro. A comparação com a Colômbia já foi, inclusive, citada pelo secretário do Tesouro, Rogério Ceron, ao defender a volta do grau de investimento ao Brasil.

Para o sócio e economista-sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, a principal razão para o CDS baixo hoje é a posição confortável do Brasil em moeda forte. Apesar da piora recente nas contas externas, o País mantém reservas robustas e não enfrenta risco de liquidez em dólares, avalia ele.

“O investidor olha muito para a capacidade de pagamento em moeda estrangeira. E hoje o Brasil não carrega nenhuma preocupação relevante de honrar compromissos em dólares”, afirma. “O CDS mostra isso: o risco no horizonte de curto e médio prazo é baixo. Não temos falta de dólares”, exemplifica ele.

Somado a isso, a fotografia internacional também tem pesado a favor do Brasil. O sócio e economista-chefe da Garantia Capital, André Perfeito, lembra que o ambiente global está conturbado e os Estados Unidos vivem um momento de perda de confiança, o que distorce a própria métrica de risco relativo.

“Não é necessariamente que o Brasil esteja ótimo; às vezes é que os Estados Unidos estão mal, e isso influencia o spread. Dependendo de como se calcula, a piora relativa lá fora contribui para a queda do CDS brasileiro. É como se o Brasil ganhasse por WO”, ilustra ele, acrescentando que, recentemente, também que o Brasil se saiu bem nas negociações tarifárias junto aos EUA, o que contribui para o bom momento do País na visão dos estrangeiros.

Campos Neto pontua ainda que o nível baixo do spread do CDS de 5 anos do Brasil neste momento ocorre a despeito da piora recente das contas externas do País na margem. Entre fevereiro e setembro deste ano, por exemplo, o déficit nas transações correntes acumulado em 12 meses foi superior ao total de Investimento Direto no País (IDP), de acordo com o Banco Central.

“O déficit em conta corrente piorando sempre vai gerar uma tensão. Eventualmente, o nosso CDS poderia até estar mais baixo se não fosse essa piora, mas o ponto é que o Brasil segue recebendo volumes muito fortes de investimentos”, reforça ele.

Grau de investimento

Em linha com o que as principais agências de risco têm relatado em seus comunicados nos últimos anos, Campos Neto cita a questão fiscal como principal entrave para a retomada do grau de investimento. Ele lembra, em especial, o tamanho da dívida pública brasileira em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB). “Pelo critério do FMI, nossa dívida está beirando 90% do PIB. Nos emergentes, a média é de 50% a 60%. Entre países com rating semelhante, 40% a 50%. Estamos bem acima do padrão”, relembra.

Outra questão no radar das agências de risco é a enorme rigidez orçamentária no Brasil, já que cerca de 95% das despesas públicas são gastos obrigatórios “O Brasil não tem margem para ajuste”, reforça.

André Perfeito concorda que a questão fiscal é o principal elemento para o qual as agências ainda se preocupam em relação ao Brasil. Ele ressalta, porém, que, apesar da dinâmica preocupante da dívida, o histórico recente é favorável. “O déficit primário do Brasil neste ano vai ser algo entre 0,5% e 1% do PIB. O FMI projeta déficit primário de 2% para o conjunto de países industrializados e 4% para as nações em desenvolvimento. Não quero dizer com isso que a situação do Brasil seja boa. Mas, visto de Londres, Nova York, ou Frankfurt, o Brasil parece menos feio do que a visão daqui”, reflete.

O economista-chefe para Brasil do banco britânico Barclays, Roberto Secemski, avalia que pode haver um misto de “otimismo” e benevolência por parte de investidores estrangeiros ao analisarem o Brasil. “No geral, os estrangeiros tendem a colocar o Brasil numa perspectiva mais ampla e, de fato, o ritmo de deterioração fiscal por vezes tem sido mais rápido em outros países, embora o ponto de partida brasileiro no geral seja pior. Seria talvez uma mistura de otimismo com benevolência, já que ratings são comparações relativas entre diferentes economias e não notas absolutas”, afirma ele.

Para Secemski, porém, está claro que é justamente a alta dívida pública o que dificulta a retomada do grau de investimento no Brasil. “Uma dívida pública alta e ascendente em relação a outros mercados emergentes, com custo de carrego extremamente elevado e juros reais próximos aos dois dígitos não inspira confiança na sustentabilidade do quadro atual”, acrescenta.

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