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BC deve cortar Selic até março mesmo com pressão de serviços

Inflação no setor, ponto de atenção para a política monetária, deve seguir acima do teto de 4,5% da meta em 2026

31 de dezembro de 2025

Por Anna Scabello e Luciana Antonello Xavier

A inflação no setor de serviços, ponto de atenção para a política monetária, seguirá acima do teto da meta inflacionária (4,5%) em 2026, mas não deve ser empecilho para que o Banco Central (BC) inicie o afrouxamento da Selic no começo do próximo ano, avaliam economistas consultados pela Broadcast.

Os preços de serviços devem seguir como no foco do Banco Central, ao lado de um mercado de trabalho relativamente aquecido. A avaliação é do economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, que ressalta que o nível ainda elevado da inflação de serviços, hoje próxima de 6%, reflete mudanças estruturais da economia e a resiliência do emprego.

A taxa de desemprego deve subir pouco, para algo em torno de 6,5% em 2026, estima Mansueto. “Mesmo com alguma desaceleração, o mercado de trabalho segue aquecido, e isso exige observar a inflação de serviços com lupa. Mas o BC tem respaldo técnico para começar a cortar os juros em janeiro”, afirma.

A estrategista de inflação da Warren Investimentos, Andréa Angelo, avalia que o BC já decidiu que irá reduzir os juros independentemente do nível da inflação de serviços. “A redução na Selic será mais uma questão de orçamento do que, de fato, do timing”, pontua. A corretora estima o início do afrouxamento monetário em janeiro e taxa terminal de 12,25% no fim de 2026.

Angelo atenta ainda que a inflação de serviços subjacentes – parte que demora mais para responder à política monetária e mostra uma tendência inflacionária – não está desacelerando e algumas métricas mais inerciais voltaram a acelerar, como serviços intensivos em mão de obra, mesmo com o juro básico em 15%. “Isso mostra que a desinflação em curso é muito influenciada pela oferta mesmo. Por exemplo, na parte de alimentos, o preço da carne não subiu muito em 2025, além da influência do câmbio”, diz.

As estimativas da Angelo apontam para ligeira aceleração nos serviços subjacentes, de 5,87% em 2025 para 5,97% em 2026. Já os serviços, que podem ter interferências pontuais de itens como passagens aéreas, devem moderar de 6,03% em 2025 para 5,86% em 2026 – nível ainda distante do teto da meta inflacionária.

O economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, considera que a inflação de serviços deve seguir como o grande tema em 2026. Segundo Kautz, em 2025 tais preços trouxeram uma surpresa baixista. “Quando olhamos a composição, vemos uma influência indireta da parte de alimentação fora do domicílio, porque ela entra em serviços subjacentes e apresentou números mais fracos do que o inicialmente previsto”, observa.

A parte de mão de obra, porém, segue subindo e a difusão também está elevada, aponta. A expectativa do economista é de que a deterioração do mercado de trabalho demore um pouco mais para ser transmitida para os preços de serviços, o que certamente deve seguir como um ponto de atenção para o Banco Central. Kautz projeta alta de 5,2% para a inflação de serviços em 2026.

O economista João Fernandes, da Quantitas, corrobora a avaliação de Kautz, da EQI, de que a inflação de serviços seguirá como um dos principais desafios do cenário econômico brasileiro ao longo de 2026. Segundo o economista, a perda de força do mercado de trabalho ainda levará tempo para se refletir em uma desaceleração mais clara dos salários e, posteriormente, para os preços.

A projeção da Quantitas é de 5,2% para a inflação de serviços em 2026, patamar ainda bem elevado. Fernandes afirma não esperar uma desaceleração relevante até o fim de 2026, com a convergência para níveis mais próximos de 4,5% apenas para o final de 2027, quando os efeitos da política monetária restritiva atual estiverem mais disseminados na economia.

Nesse contexto, Fernandes avalia que os preços de serviços são o principal entrave para o BC iniciar a flexibilização monetária. “Essa inflação é o grande entrave para o BC começar esse ciclo mais cedo”, afirma. De acordo com o economista, o call de corte em janeiro perdeu força e o cenário-base passou a ser março, tendo a inflação de serviços elevada como uma das principais razões.

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