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Ação do TCU sobre BC em caso Master surpreende especialistas

Autoridade monetária afirma que cumpriu rito necessário antes de decretar liquidação do banco de Vorcaro

20 de dezembro de 2025

Por Célia Froufe e Cícero Cotrim

Profissionais do setor privado e do governo que já acompanharam vários processos de liquidação extrajudicial e falência de bancos ficaram surpresos com a ação do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o Banco Central no caso envolvendo o Banco Master. O órgão auxiliar do Congresso Nacional deu 72 horas para o supervisor esclarecer sobre como chegou à decisão de incluir, em 18 de novembro, o banco de Daniel Vorcaro no regime de resolução para interromper suas atividades e promover sua retirada organizada do Sistema Financeiro Nacional (SFN).

“Tanto dentro do BC quanto fora da instituição estive envolvido diretamente em processos de liquidação e falência e me causou assombro a movimentação do TCU”, comentou uma fonte à Broadcast. “Posso estar errado, mas acredito que uma ação desse tipo, nesse momento do processo, seja algo inédito”, continuou.

Vários relatos similares a este foram feitos e especialistas afirmam que não cabe nenhuma norma de instrução de “um corpo estranho” à autoridade monetária neste momento. Um misto de indignação e curiosidade sobre o que levou o TCU a agir dessa forma paira sobre os agentes que atuam no setor. Há o temor por parte de muitos deles de que haja ingerência política sobre o órgão de contas.

A sensação de desconfiança é muito similar, de acordo com relatos, à pressa vista para tentar aprovar um negócio entre o Master e o Banco de Brasília (BRB) para tentar salvar a instituição de Daniel Vorcaro. A preocupação é a de que agentes políticos estejam envolvidos para pressionar por uma anulação do trabalho do BC em relação ao banco. O supervisor não apenas rejeitou a operação como decidiu pela liquidação do Master.

Esclarecimentos

O BC responderá ao TCU em 72 horas com esclarecimentos sobre a decisão de liquidação extrajudicial do Banco Master, anunciada em 18 de novembro. O ministro Jhonatan de Jesus deu esse prazo para manifestação sobre o caso, por ter considerado haver elementos que mostrariam “omissões e insuficiência” na reação da autoridade monetária à degradação financeira do banco. A informação foi obtida pelo portal Metrópoles e confirmada pela Broadcast.

Segundo o ministro, o BC pode ter agido muito rapidamente em relação ao caso. Agora, o tribunal quer saber se não haveria outras medidas a serem adotadas pelo supervisor antes de escolher a liquidação, considerada a mais drástica. A avaliação do órgão auxiliar do Congresso Nacional destoa das impressões de atores da Faria Lima, que consideravam que o BC demorou a agir em relação ao banco de Vorcaro.

A Broadcast apurou que o BC está tranquilo em relação ao pedido do TCU com a visão de que cumpriu todo o rito necessário para decretar a liquidação da instituição. Justamente por conta desse processo feito sem pular etapas – e que, portanto, é mais demorado – é que atores do mercado financeiro avaliavam que a autoridade monetária estava protelando demais para tomar uma decisão em relação ao Master.

A preocupação do BC com o caso foi o de não agir com voluntarismo, ainda que houvesse evidências de irregularidades no banco, amplamente comentada por profissionais do setor. Por isso, foi preciso recolher o máximo de elementos e informações documentadas levando em consideração aspectos legais e infralegais antes da tomada de decisão, até para evitar eventuais questionamentos na Justiça. Os documentos que serão entregues ao TCU são de caráter sigiloso.

Porta-vozes da autoridade monetária já expuseram publicamente a preocupação em não deixar brechas jurídicas abertas em relação ao caso. O presidente da instituição, Gabriel Galípolo, falou sobre o assunto, por exemplo, não apenas em sessão na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado como também durante coletiva de imprensa para detalhar o Relatório de Política Monetária (RPM).

Como mostrou a Broadcast, o BC decidiu liquidar quatro empresas do conglomerado Master – o Banco Master S.A., Banco Master de Investimentos S.A., Letsbank S.A. e Master S.A. Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários – por considerar que não haveria volta nos problemas dessas instituições, que sujeitaram credores a riscos e cuja administração violou as normas determinadas pelos órgãos competentes.

As investigações do BC e da Polícia Federal sobre o Master apontam que o banco comprou falsas carteiras de crédito da empresa Tirreno por R$ 6,7 bilhões e as revendeu ao Banco de Brasília (BRB) por R$ 12,2 bilhões, sem o cuidado de verificar a solidez dos ativos. O objetivo seria obter liquidez para honrar vencimentos de Certificados de Depósito Bancário (CDBs), porque o banco não tinha liquidez.

Gol de mão

Por mais que esteja munido com documentos, sabe-se que os defensores do Master vão querer evitar que o banco continue no processo de liquidação e tentar anular a decisão da autoridade monetária. Em 29 de novembro, o dono do Master foi solto e passou a usar tornozeleira eletrônica. Ele havia sido detido por suspeitas que fugiria do País. A defesa de Vorcaro alegou que ele pretendia sair do Brasil apenas para fechar um negócio em Dubai.

No início de novembro foi noticiado que o advogado e ex-presidente da República Michel Temer foi contratado como mediador para tentar destravar a negociação de venda do banco para o Banco de Brasília (BRB), após o BC barrar o acordo original. Para o supervisor, o negócio gerou suspeitas de fraudes com a possibilidade de contar com articulações políticas e jurídicas para salvar a transação ou negociar ativos. Além de advogado, Temer, que já foi presidente da Câmara por três vezes, conta com uma ampla rede de contatos e influências políticas. Para além de responder ao TCU, o que tem intrigado as pessoas que estão envolvidas no caso é a motivação que leva o tribunal a colocar em xeque a decisão do BC.

Ao final da manhã de ontem, a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) expressou apoio ao BC, dizendo ter confiança em todas as decisões da autoridade monetária sobre o tema. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) foi na mesma linha, afirmando ter plena confiança na atuação da autarquia.

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