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Copom deixa decisão de janeiro em aberto e divide apostas sobre Selic

Comitê endurece comunicação sobre inflação e pode mudar aposta de quem trabalha com corte do juro já na largada de 2026

11 de dezembro de 2025

Por Eduardo Laguna, Arícia Martins e Antonio Perez

O Comitê de Política Monetária (Copom) dá adeus a 2025 sem entregar muitas pistas sobre o que pretende fazer no começo do ano que vem. O comunicado divulgado ao fim da reunião de ontem mantém, em geral, o tom visto por muitos analistas como duro, sem dar motivos a um aumento das apostas de início dos cortes da Selic em janeiro. Só que também não endurece a comunicação a ponto de mudar o prognóstico de quem vem trabalhando com a perspectiva de afrouxamento no primeiro encontro do colegiado em 2026.

O texto teve mudanças apenas sutis, sendo que alguns trechos foram um copia e cola do documento de novembro, incluindo o que traz a mensagem de que a convergência da inflação à meta central de 3% exige juros significativamente altos por período bastante prolongado. O advérbio bastante segue, portanto, no comunicado, assim como o alerta de que o BC não vai hesitar em voltar a subir os juros se necessário, com a ponderação agora de que esta reação é usual.

Nesse sentido, o Copom segue demonstrando não ter pressa, mantendo a postura data dependent – isto é, de acompanhar a evolução dos indicadores para tomar as decisões, sem antecipar os passos. Só que, por outro lado, o ajuste das expectativas de inflação, de 3,3% para 3,2% no segundo trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, ajuda a manter inalterado o cenário de economistas de instituições como Bradesco e Inter, que preveem corte de juros a partir de janeiro. Até porque eles acreditam que o cenário continuará melhorando até lá, com mais queda das expectativas de inflação e desaceleração econômica abrindo espaço para o BC afrouxar os juros de referência, estacionados por enquanto em 15%.

O saldo da decisão desta quarta-feira é, portanto, um mercado que continua dividido. E a tendência, como escreveu a economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, é que continue assim até o dia 28 de janeiro, quando o BC anunciará a sua próxima decisão.

Para Rafaela, o Copom segue sem abrir espaço a uma discussão sobre o início dos cortes de juros. A leitura é parecida com a feita por Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, para quem o comitê não sinalizou que esteja considerando “qualquer mudança” no curto prazo.

Na avaliação de Megale, avanços adicionais, principalmente nas expectativas inflacionárias, parecem necessários para garantir a continuidade do processo de desinflação. “Acreditamos que isso ocorrerá, mas não em janeiro”.

Estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz entende que o Copom deixou bem claro que não pretende mexer na taxa de juros em janeiro. “O texto divulgado é praticamente idêntico ao anterior e, na minha visão, isso foi proposital, para evitar qualquer ruído de que janeiro estaria na mesa”, avalia Cruz. Para a Capital Economics, a estratégia do BC é conter expectativas de um afrouxamento monetário. “Um corte em janeiro parece cada vez menos provável”, opinou a consultoria britânica, em relatório assinado por seu economista sênior para mercados emergentes, Liam Peach.

Contudo, essas leituras não são um consenso. O Bradesco, por exemplo, entende que as leves alterações do comunicado foram no sentido de leve suavização do discurso. “As pequenas mudanças no comunicado, em especial a redução na projeção de inflação para 3,2%, indicam espaço para que o BC inicie o ciclo de corte de juros a partir da próxima reunião do Copom, se as condições de contorno estiverem similares ao momento atual”, escreveram os economistas da instituição. O banco espera que o Banco Central reduza a Selic em 0,25 ponto porcentual no mês que vem, levando a taxa para 12% até o fim de 2026.

Há, ainda, aqueles que avaliam que ausência de uma sinalização mais clara ontem pode ser um indício de que a autoridade monetária ainda não decidiu o que fazer em sua próxima reunião. É o caso de Luis Felipe Vital, estrategista-chefe de macro e dívida pública da Warren, que não descarta a possibilidade de que o ciclo de afrouxamento comece em janeiro.

O estrategista observa que a velocidade da reancoragem das expectativas de inflação é lenta e que a resposta do mercado de trabalho ainda é incipiente, embora já se notem os primeiros sinais de inflexão. “Nesse contexto, o Comitê pode entender que não faz sentido assumir um compromisso mais explícito com corte já na próxima reunião”, afirma Vital, acrescentando que permanecem riscos associados ao ambiente mais volátil do fim do ano.

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