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Legado da Cop30 já é sentido no bolso e nas ruas de Belém

Neste ano até outubro, Pará criou 84.894 empresas, alta de 22,39% em relação a igual período de 2024

6 de novembro de 2025

Por Mateus Maia, enviado especial a Belém

A COP30 começou hoje em Belém (PA) com a cúpula de líderes mundiais, mas seus efeitos já são sentidos e comemorados pela cidade que viu o turismo explodir e o Produto Interno Bruto (PIB) ser impulsionado com mais empregos e empresas. Mobilidade, saneamento e segurança seguem como desafios, mas é difícil andar pela capital e não tropeçar em novos parques, museus, restaurantes e hotéis de um padrão nunca antes visto do lado de cá do rio, como dizem por aqui.

Segundo dados do governo do Pará, o Estado deve receber cerca de 1,5 milhão de visitantes ao longo de 2025, aumento de 20% em relação ao ano passado. Belém, por sua vez, registrou um aumento de 90% nos voos internacionais entre janeiro e setembro de 2025, em comparação com o mesmo período de 2023. As operações regulares saíram de 720 para 1.365.

Só durante a COP30, a expectativa é que mais de 508 mil pessoas circulem pelo aeroporto internacional, em mais de 3 mil voos programados. O volume representa quase o dobro da movimentação registrada no mesmo intervalo de 2024, resultado de um aumento de 57% na oferta de voos. Os dados são da Norte da Amazônia Airports (NOA).

A ideia, segundo o ministro das Cidades, Jader Filho, é que esse incremento faça com que Belém se torne uma cidade que consegue fechar as contas. Isso porque, sem a exploração do seu potencial turístico, a capital paraense não tem grandes indústrias e sua arrecadação vinha basicamente de comércio e serviços.

“Cidades como Rio, Nova York ou Paris. Qual é o grande motor? Não é o turismo? Esse turismo vem mobilizado pelo quê? Pelo ambiente, pelo clima que se cria em torno dessa cidade. Belém vai sair depois disso com essa visibilidade”, disse em conversa exclusiva com a Broadcast.

O ministro pondera, entretanto, que a COP30 e toda a exposição de Belém é uma oportunidade de se criar um ciclo virtuoso na região, mas que precisa ser aproveitado com manutenção das obras entregues e continuidade de investimentos.

Economia

Segundo a Junta Comercial do Estado (Jucepa), de janeiro a 27 de outubro de 2025, o Pará registrou a criação de 84.894 novas empresas, um aumento de 22,39% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram contabilizadas 69.360 aberturas de empresas. Todas são micro e pequenas empresas, com destaque para os Microempreendedores Individuais (MEI) com 63.913 registros. O governo paraense diz que também capacitou gratuitamente mais de 35 mil pessoas por meio do programa Capacita COP30, que se consolidou como referência nacional em qualificação profissional.

O governador Helder Barbalho disse à Broadcast que o PIB do Pará deve crescer cerca de 3% em 2025, sendo que um terço disso é impacto direto da COP30 em Belém. “Demoraria certamente muito tempo para que tudo isso pudesse ficar pronto. Em dois anos se transformou em realidade. Isso permite que a cidade possa ter o turismo como uma nova vocação econômica e com fortalecimento da geração de emprego. Os resultados estão postos: crescimento de PIB do Estado, maior nível de admissão de carteira assinada da história, maior crescimento de operações empresariais e novos negócios abertos também no comparativo com o ano passado, um crescimento de mais de 200%”, declarou.

Obras

O que o governador se refere ao falar de entregas que demorariam mais tempo e saíram em dois anos são os equipamentos urbanos já disponíveis para a população. São ao menos três parques, o novo Museu das Amazônias, um novo polo gastronômico e um porto com capacidade de atracar navios de cruzeiro que sempre preferiram Manaus à Belém pela infraestrutura.

O maior legado físico da COP30 é o Parque da Cidade. Ele será sede das plenárias da Blue Zone, das exposições da Green Zone e de áreas de convivência entre governos, empresas e sociedade civil. Inaugurado em junho, o parque ficou aberto ao público até agosto e recebeu uma colônia de férias pública que atendeu 10 mil crianças, adolescentes e idosos. Em menos de dois meses de funcionamento, ultrapassou 670 mil visitantes. Construído na área do antigo aeroporto, o espaço de 500 mil m² tem ciclovia, pista de skate, trilhas ecológicas, áreas esportivas e até um parque aquático natural (wetland).

Na orla da cidade, cinco galpões históricos cedidos pela Companhia Docas do Pará (CDP) ao Estado foram restaurados, dando origem ao Complexo Porto Futuro. O espaço reúne equipamentos inéditos na Região Norte: o Museu das Amazônias, a Caixa Cultural, o Armazém da Gastronomia e o Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia.

Desafios

Mesmo com os avanços proporcionados pela atenção e investimentos da COP30, Belém segue com suas dificuldades históricas em infraestrutura de mobilidade e sanitária, com impacto ambiental direto. Para o evento da ONU, foram entregues o BRT Metropolitano, quatro novos viadutos, a pavimentação de mais de 160 vias em diversas regiões da cidade e intervenções de macrodrenagem e saneamento em 13 canais, 11 deles em áreas periféricas.

Também já foi feita a Estação de Tratamento de Esgoto Una (ETE Una), a maior do Estado, e os terminais hidroviários de Icoaraci e Tamandaré que modernizam o acesso às ilhas. Com quase 400 anos de existência, o mercado de Ver-o-Peso passa a contar com infraestrutura de saneamento, garantindo preservação e melhores condições para trabalhadores e visitantes.

Belém é uma das piores cidades do País quando se fala em saneamento básico. Cerca de 80% da população não tem acesso a esgoto tratado, segundo dados do Painel Saneamento Brasil. Isso aumenta a pegada de carbono da cidade, como afirma o professor e pesquisador do Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV EAESP, Guarany Osório.

“Além das emissões, os impactos das mudanças climáticas podem agravar ainda mais essa situação de déficit de saneamento aumentando as desigualdades sociais e sanitárias, sobretudo nas periferias, onde a exposição a efluentes não tratados é cotidiana. Assim, com as mudanças climáticas, quadros como esse tendem a se agravar”, disse à reportagem.

Segundo ele, um legado que a COP30 poderia deixar para a cidade é um plano robusto de investimento e resiliência em saneamento. Belém poderia usar isso como um ativo para uma transição energética mais justa. Tanto Helder Barbalho como Jader Filho admitem que ainda há desafios a serem enfrentados na cidade pós-COP30 e concordam que o saneamento é um dos principais.

“Nós nunca imaginamos e nem prometemos que a cidade não continuaria tendo problemas. O que nós sempre dissemos é que nós tínhamos que aproveitar a oportunidade para mobilizar recursos para dar um salto de qualidade na cidade. E isso é indiscutível. E isso está feito”, afirmou o governador. Ele disse ainda que a nova concessão de saneamento promete universalizar o serviço de água e esgoto até 2033.

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