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Plano da Petrobras 2026-2030 terá foco em E&P e valor maior de projetos

Pressão do atual patamar do petróleo deve estar refletida no planejamento a ser apresentado hoje, dizem especialistas

27 de novembro de 2025

Por Denise Luna e Gabriela da Cunha

A Petrobras divulgará nesta quinta-feira, 27, o Plano Estratégico 2026-2030, que deve refletir a pressão do atual patamar do petróleo. Para especialistas consultados pela Broadcast, o documento será bem-recebido se priorizar o core business de Exploração e Produção (E&P). A percepção é que o texto surge em momento de maior credibilidade da liderança da estatal, mas há desafios para equilibrar a agenda política do governo e os avanços na descarbonização.

Segundo apurou a Broadcast, o valor geral do novo plano não deve fugir muito do plano anterior, de US$ 111 bilhões. O valor dos projetos em avaliação, no entanto, que antes era de US$ 13 bilhões, será inflado por projetos que estavam em fase de implantação, no total de US$ 10 bilhões.

A expectativa é por mensagem de ganhos de eficiência, realocação de capital e contratos mais enxutos, ainda que isso empurre adiante projetos antes tidos como prioritários, como a revitalização dos campos de Albacora, Barracuda-Caratinga e Marlim, além do projeto Sergipe Águas Profundas (Seap I e II).

O Citi espera diminuição de US$ 2 bilhões no capex (investimentos) já em 2026. “Uma redução no plano de investimento acima do esperado seria uma boa surpresa, pois demonstraria que a companhia está se tornando mais resiliente. […] Uma possível revisão para baixo nas despesas relacionadas a arrendamentos também seria bem-vinda”, diz o analista de Petróleo e Gás, Gabriel Barra.

O Itaú BBA também espera uma mensagem de eficiência nas despesas operacionais (opex), mas lembra que a estatal quer antecipar entregas do pré-sal, o que limita o alívio imediato. “Isso incomoda alguns investidores, mas veremos o efeito dessa antecipação em 2027 e 2028,” comenta a analista Monique Grecco.

A InvestSmart, que vê E&P ganhando peso no ciclo 2026-30, alerta que uma previsão de preço de petróleo acima do que o mercado futuro indica será uma surpresa negativa. “Isso pode trazer uma métrica frágil para o teste de viabilidade dos projetos”, explica a economista-chefe, Mônica Araújo.

Ela também acredita na continuidade da estratégia de aprimorar os sistemas existentes de refino. A presidente da estatal, Magda Chambriard, tem afirmado que o País não pode abrir mão da capacidade de refino.

O Citi observa que a companhia permanece confiante nos principais projetos do segmento, como a ampliação da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e o aumento da produção de diesel renovável/S-10. “Na nossa visão, a Petrobras está buscando melhorar a eficiência e otimizar os projetos deste setor. Acreditamos que a dinâmica no segmento de refino será semelhante à dinâmica do E&P,” comenta Barra.

Por outro lado, destinar mais recursos a renováveis – compra de usina de etanol ou geração elétrica – seria interpretado como desvio do foco competitivo de águas profundas e pré-sal. A importância de manter o foco em produção e exploração se dá porque os cortes em linhas periféricas afetam pouco o total de investimentos, explica o analista do UBS BB, Tasso Vasconcellos. “É crucial entender a relevância dos investimentos em si, em projetos que sejam ‘core’”, comenta.

Gestão

A divulgação ocorre em meio a um período em que, de modo geral, a presidente Magda Chambriard teve bom desempenho e conduziu um processo de saneamento importante que fortaleceu a empresa, afirmam agentes de mercado ouvidos pela reportagem.

O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, lembra a ausência de choques com o Planalto, salvo ruídos pontuais com a pasta do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA).

A execução do capex também melhorou, diz o Itaú BBA. “Nos últimos dez anos, a empresa apresentou uma subexecução crônica do capex e agora a companhia está sendo transparente ao se concentrar na entrega do plano e em alinhar o ritmo de execução ao guidance. Isso levou a uma reorganização das expectativas do mercado em relação à execução de capex,” sustenta a analista Monique Grecco.

O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep) menciona a aposta mais forte na descarbonização das atividades da indústria como uma das marcas do atual comando. “A produção de combustíveis sustentáveis são mercados globais que vão ganhando cada vez mais espaço e não vão retroceder,” comenta o diretor técnico do Ineep, Mahatma Ramos.

Ainda que as atividades sejam potencialmente promissoras, a Empiricus Research defende que há espaço para ajustes no capex em refino, assim como em renováveis. O analista Ruy Hungria lembra que há quase US$ 8 bilhões do último plano em áreas que não são cruciais para a companhia. No entanto, o próximo plano pode não trazer cortes nessas áreas, ainda que bem-vistos pelo mercado. “Cortar agradaria ao mercado, mas pode não ocorrer perto das eleições”, pondera.

Ramos, do Ineep, sustenta que a Petrobras só liderará a transição se investir simultaneamente em novas energias e em fronteiras exploratórias. “Para que a empresa ocupe esse papel de liderança na transição energética é necessário fomentar o desenvolvimento dessa rota industrial de baixo carbono. O retrocesso ocorre quando, efetivamente, se investe apenas nos combustíveis fósseis e não se combate a pobreza energética,” afirma.

O cenário global do setor, no entanto, aponta em direção diferente, ressalta o diretor sênior da A&M Infra, Rivaldo Moreira Neto. “Enquanto a empresa tenta puxar a pauta num momento em que o Brasil busca protagonismo na agenda da descarbonização, pares da Petrobras recuaram na exposição de novas energias,” acrescenta.

Dividendos

Sobre dividendos, o Itaú BBA não prevê extras até 2030. O Ineep espera menor distribuição para acionistas e governo para preservar investimentos. Já o Citi aposta na manutenção da regra atual de remuneração e diz que a empresa se esforça para manter pagamentos sem comprometer sua situação financeira.

Para Vasconcellos, do UBS BB, a sinalização de que a companhia não se alavancará para manter dividendos será positiva.

Próximos passos

Os investidores querem ainda definição sobre a Braskem, diz a InvestSmart. “Novos aportes em petroquímica será uma surpresa negativa”, afirma Araújo.

A clareza sobre gastos em novos leilões também é importante, acrescenta o UBS BB.

Quanto ao varejo de combustíveis, RB Investimentos e a Empiricus Research consideram o retorno arriscado. Hungria lembra que o segmento foi historicamente difícil para a estatal. “Se a intenção não for apenas ganhar flexibilidade para comercializar a molécula para grandes consumidores, há riscos de medidas populistas em ano de eleições”, reforça.

Para Grecco, do Itaú BBA, o tema deve aparecer como item em avaliação, não como projeto em implantação.

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