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Mercado prevê salto no petróleo com ataques a Irã

Para analistas, cotação pode ficar entre US$ 90 e US$ 130 a depender da resposta de Teerã e fechamento do Estreito de Ormuz

23 de junho de 2025

Por Aline Bronzati, correspondente, Pedro Lima, Isabela Mendes, Leandro Silveira, Aramis Merki II e André Marinho

O bombardeio americano às instalações nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan, no Irã, tende a provocar um salto nos preços do petróleo para algo entre US$ 90 e US$ 130, fuga para ativos de segurança, como ouro e Treasuries, e forte volatilidade em bolsas e câmbio, avaliam especialistas consultados pelo Broadcast. O tamanho desse abalo dependerá da resposta de Teerã e, sobretudo, da ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde escoa cerca de 20% do petróleo mundial.

O choque foi deflagrado na noite de sábado, dia 21, quando o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comemorou nas redes o “ataque bem-sucedido” e avisou que “agora é a hora da paz”. Embora Washington sustente que não busca mudança de regime, o Irã classificou o bombardeio como um “ataque militar selvagem” e o Parlamento aprovou uma moção que recomenda bloquear Ormuz – decisão que ainda passará pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional.

Para Nigel Green, CEO do deVere Group, “o ataque dos EUA contra o Irã é um divisor de águas no mercado”. “É um golpe direto nas suposições que têm impulsionado o posicionamento dos investidores: inflação mais baixa, taxas em queda e preços de energia estáveis”, avalia. Ele alerta que o barril pode chegar a US$ 130,00 se houver retaliação.

A onda de aversão a risco nos mercados globais deve atingir também os ativos brasileiros bem como ações e moedas de países emergentes, segundo o sócio da The Link Investimentos, Arthur Horta. Setorialmente, empresas exportadoras devem ser penalizadas pelo aumento nos custos de frete, como frigoríficos, mineradoras e companhias de papel e celulose. Em contrapartida, petroleiras brasileiras tendem a se beneficiar. “Quem está mais longe do conflito vai se beneficiar ao vender um produto mais caro”, diz Horta, em entrevista ao Broadcast.

Os mercados internacionais começam a abrir a partir da tarde deste domingo e devem absorver os impactos do ataque americano a instalações nucleares no Irã na noite de ontem.

O economista-chefe da Allianz e presidente da Queen’s College, Mohamed El-Erian, diz que se os mercados estivessem abertos após o ataque americano, provavelmente, os preços do petróleo teriam um salto, as ações sofreriam pressão de baixa e o ouro de alta. Por sua vez, os rendimentos dos Treasuries, que são os títulos do Tesouro americano, podem oscilar sem direção clara. “A economia global se tornou uma fonte de choques negativos recorrentes. Muita coisa pode acontecer nas próximas 24 horas, assim como nas últimas 24”, avalia o guru de Wall Street.

No curto prazo, Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, prevê que o barril de petróleo deve buscar algo entre US$ 90 e US$ 100, mas considera o choque “pontual e localizado”. Para ele, companhias de óleo e gás “devem ter margens boas” nesse cenário, enquanto bancos centrais só reagiriam se a escalada for prolongada. Eduardo Velho, economista-chefe da Equator Investimentos, vê espaço para forte avanço também do ouro, prata e cobre. “A possível desaceleração ao longo da semana vai depender muito da resposta iraniana e do desenrolar dos acontecimentos”, pondera.

A incerteza sobre Ormuz domina as projeções. O mercado de apostas Polymarket chegou a precificar chances majoritárias de 63% de o Irã fechar o Estreito de Ormuz. A Eurasia, no entanto, vê apenas 20% de chance de que o Irã responda ao ataque dos Estados Unidos com o fechamento do Estreito de Ormuz.

“A maior preocupação é o fechamento do Estreito; se isso ocorrer, teremos consequências na inflação global”, resume Pedro Galdi, analista da AGF. Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, acrescenta que, caso Ormuz seja fechado, “o primeiro impacto seria a alta expressiva do petróleo, o que pressionaria o dólar para cima” e reduziria as chances de corte de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Há, contudo, vozes que enxergam viés positivo. O megainvestidor Bill Ackman declarou no X que as ações de Trump são “muito melhores do que confiar no ‘compromisso’ do Irã de não desenvolver armas nucleares”, avaliando que a ofensiva pode até “beneficiar a Ucrânia e penalizar a Rússia”. Na mesma linha, Daniel Ives, analista da Wedbush, afirma que “este ataque dos EUA era uma questão de quando, não se”, e que a operação remove um ‘overhang’, ou seja, pressão de baixa no mercado de tecnologia, motivo pelo qual reiterou compra de papéis como Nvidia e Amazon.

Já Ian Bremmer, CEO da Eurasia, diz que, ao menos por ora, o conflito entre Israel e o Irã parece limitado, ainda que espetacular. “Não é o início de uma guerra prolongada e desgastante? é uma guerra ao estilo TikTok que a base de Trump certamente pode apoiar”. Ele observa, porém, que a diplomacia segue travada, o que mantém a prateleira de riscos aberta.

Mesmo entre os mais otimistas, ninguém descarta turbulência de curtíssimo prazo. “Isso muda fundamentalmente o cenário para setores sensíveis a taxas e voltados para o consumidor”, avalia Green, citando companhias de viagens e tecnologia. Velho, da Equador Investimentos, lembra que, para o Brasil, a alta do petróleo pode ser benéfica à balança comercial, mas um repique inflacionário “é preocupante”. Com Washington em alerta máximo, como advertiu o chefe do Estado-Maior, Dan Caine, e Teerã prometendo reagir, investidores entram na semana medindo cada movimento no Golfo Pérsico – e cada dólar no posto de combustível.

*Conteúdo produzido com auxílio de Inteligência Artificial, revisado e editado pela Redação do Broadcast

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