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Juro alto esfria mercado de imóveis comerciais

Compra e venda de propriedade de alto padrão caem 20% no 1ºsemestre de 2025 ante igual período de 2024

29 de julho de 2025

Por Circe Bonatelli

O juro alto esfriou os investimentos em imóveis comerciais no Brasil ao longo do primeiro semestre e, por enquanto, não há clareza sobre quando esse mercado deve voltar a deslanchar. A compra e a venda de propriedades comerciais de alto padrão, como shopping centers, galpões logísticos e prédios de escritórios, movimentaram R$ 10,3 bilhões no primeiro semestre de 2025, queda de 20% na comparação com o mesmo período de 2024. Ao todo, foram 46 transações neste ano contra 68 no ano passado, de acordo com levantamento da consultoria Cushman & Wakefield.

“A taxa de juros, hoje, não é favorável para transações imobiliárias”, afirmou o diretor da consultoria, Marcel Bordeaux. Com as empresas e fundos investidores mais cautelosos, as negociações têm envolvido aqueles empreendimentos considerados mais seguros, isto é, imóveis nas melhores localizações, bom potencial de liquidez e operações saudáveis.

O maior negócio deste ano foi, de longe, a venda da metade da participação detida pela Brookfield nos shoppings Paulista e Higienópolis, em São Paulo, por R$ 2,58 bilhões. O comprador foi o consórcio formado por Iguatemi e fundos imobiliários. A segunda maior venda foi o conjunto de quatro galpões da Icon Realty para o fundo imobiliário Mauá Capital Logístico, por R$ 1,1 bilhão.

A despeito da queda no volume de transações, Bordeaux avalia que o setor de propriedades comerciais permanece pujante. “O investidor ficou mais cauteloso, mas não deixou de investir. Esse é o principal traço do levantamento”, frisou. A razão para isso é que, embora a situação da economia possa pesar nas decisões de investimento, as atividades da porta do imóvel para dentro vão bem.

O mercado de galpões está com demanda aquecida em função da procura de imóveis para atividades de comércio eletrônico. Isso tem provocado redução na vacância e subida nos preços de locação ao redor do País. Já o setor de shoppings tem mostrado níveis saudáveis de vendas e fluxo de visitantes. Por sua vez, o mercado de escritórios demorou um pouco mais para se recuperar após a pandemia, mas vem conseguindo diminuir a vacância. Nas regiões mais procuradas, como Faria Lima, já é difícil encontrar grandes áreas vagas, comentou.

Céu nublado

Pela frente, o cenário é bastante nublado quanto a novos investimentos. A combinação de juros altos, efeito das tarifas e aproximação do período eleitoral tende a aguçar as incertezas e reforçar a cautela de investidores. “As negociações que estão em curso serão executadas. A dúvida é a perspectiva para novos negócios. Há muitas incertezas para se dizer exatamente o que vai acontecer”, disse o diretor da Cushman & Wakefield.

A queda na taxa de juros e a definição do quadro eleitoral são vistos como os principais gatilhos para o reaquecimento da compra e venda de ativos, bem como para investimentos em novos projetos. “Enquanto não tiver uma visão clara do projeto vencedor das eleições, não vai ter reaquecimento. Hoje, ninguém sabe nada o que esperar”, comentou Hailton Libertore, sócio-diretor da construtora Libercon, que faz projetos próprios e de terceiros. “Hoje, essa dúvida sobre as eleições deixa o capital em compasso de espera”, complementou o outro sócio da empresa, Paulo Libertore. “O que pode ajudar é a queda da Selic. No primeiro sinal de que haverá queda, aquele investidor que conhece o mercado imobiliário vai começar a se movimentar”.

Por enquanto, os sócios da Libercon observam que o investimento imobiliário tem priorizado o conservadorismo. “Quando se fala em imóveis muito bem localizados, com muita demanda, aí dá para fechar a conta. Imóveis em localizações secundárias vão ter que esperar”, apontou Hailton. Ele citou como exemplo os investimentos em galpões logísticos em Guarulhos (SP). Apesar do juro alto, a região segue em crescimento porque caiu nas graças das empresas de vendas online e operadores logísticos em virtude da proximidade com rodovias, aeroporto e o centro consumidor da capital e região metropolitana.

A retomada do mercado também depende muito da capacidade dos fundos imobiliários retomarem as captações de recursos via emissões de cotas, o que esfriou nos últimos trimestres devido ao juro alto. Esses fundos se tornaram os maiores negociadores de propriedades comerciais nos últimos anos. “Mesmo com a Selic aparentemente no topo, ela segue alta. Então, não está claro quando as captações voltarão a acontecer. Isso vai depender de uma proximidade para o esperado corte do juro acontecer, de fato”, avaliou o diretor de investimentos da Suno Asset, Vitor Duarte.

Não bastassem esses fatores, a ameaça de elevação das tarifas de exportação do Brasil para os Estados Unidos colocou uma dose extra de incerteza. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Renato Correia, disse que as tarifas, se confirmadas, preocupam bastante a cadeia da construção em virtude dos estragos que podem causar para a economia local.

Correia lembrou que a atividade de construção – composta por empreendimentos residenciais, comerciais, infraestrutura e produção de materiais – depende muito do andamento da economia brasileira como um todo. “As tarifas preocupam bastante, e ninguém sabe o real impacto”, disse. “Nossa preocupação é quanto as tarifas vão afetar a economia. Vamos torcer para que haja sucesso nas negociações do governo”, afirmou.

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