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‘Há espaço para baratear conta de luz revendo subsídio’

Secretário de Reformas Econômicas da Fazenda, Marcos Pinto, afirma que há fontes de energia competitivas

29 de abril de 2025

Por Fernanda Trisotto e Amanda Pupo

O secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, defende que a reforma do sistema elétrico é o momento para revisar não apenas a tarifa social, para torná-la mais efetiva, mas também baratear a conta de energia revendo subsídios. Em entrevista exclusiva ao Broadcast, o secretário avaliou que a nova proposta divulgada pelo Ministério de Minas e Energia está alinhada ao desenho feito pela equipe econômica, que não quer apelar para recursos do Tesouro Nacional neste tipo de operação.

“Acho que a gente tem uma oportunidade de rever a tarifa social, de torná-la mais efetiva para o cidadão. Hoje ela é um tanto complexa, tem várias faixas e podemos torná-la mais efetiva para o cidadão a um custo relativamente baixo. Nossa proposta sempre foi, ao invés de apelar para o recurso do Tesouro, que são recursos escassos, rever os subsídios cruzados, que já somam mais de R$ 30 bilhões na conta de energia”, afirmou.

O argumento do secretário é de que há espaço para rever subsídios que hoje não são mais necessários. “Hoje a gente há fontes de energia super competitivas, que não precisam mais de subsídios, e que a gente podia rever. Acho que a proposta do ministro Silveira está caminhando no sentido adequado, que é de não colocar recursos do Tesouro, e rever a tarifa social. Isso não custa tanto assim. E a gente tem espaço, não só para cobrir isso, mas para baratear ainda mais a conta de luz revendo subsídios que são desnecessários”, afirmou.

Discussão complexa

O secretário reconhece que essa é uma discussão muito complexa. “Seja tributário, seja na conta de energia, sempre, uma vez criado o subsídio, é muito difícil reverter”, ponderou.

O MME apresentou uma proposta de reforma do setor elétrico em 16 de abril, com mudanças na tarifa social. Pelo texto, haveria gratuidade no consumo mensal até 80 quilowatts-hora (kWh) para famílias beneficiadas que estão no CadÚnico com renda mensal até meio salário mínimo per capita, indígenas e quilombolas, ou famílias atendidas em sistemas isolados por módulo de geração, além de pessoas com deficiência ou idosos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Quem se enquadra na Tarifa Social e consume mais do 80 kWh por mês pagaria somente o adicional. Ou seja, o consumidor na faixa de 100 kWh, por exemplo, pagaria só por 20 kWh de consumo.

De acordo com a pasta, isso beneficiaria 17 milhões de famílias. Destas, 4,5 milhões terão a conta de luz zerada. O custo estimado é de R$ 3,6 bilhões por ano, e o valor será custeado pela Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), gerando um aumento de 0,9% para os demais consumidores regulados. Já o desconto social da tarifa de energia deve beneficiar 21 milhões de famílias com desconto de 11,8% na conta de luz. Esse benefício deve gerar um aumento de 0,53% para os demais consumidores regulados, mas o custo será compensado pela realocação de encargos.

O MME encaminhou a proposta de reforma do setor elétrico à Casa Civil após um ruído público entre os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Fazenda, Fernando Haddad. Silveira vinha defendendo a ampliação da tarifa social, enquanto Haddad negou que a Fazenda estivesse estudando o tema naquele momento.

Isenção ampliada do IR

Marcos Pinto também comentou que elevar a tributação de bancos para compensar parte da isenção ampliada do Imposto de Renda é uma alternativa injusta que pode tornar o crédito mais caro à população. Para ele, no mérito, a proposta feita pelo Partido Progressistas (PP) acaba tendo um efeito regressivo e prejudicando a classe mais pobre.

“Pode parecer que a gente estaria fazendo justiça, mas na verdade estaria fazendo injustiça, na minha visão. No Brasil, por definição, quem mais toma crédito são os mais pobres. Aumentar a tributação dos bancos nesse momento, quando ela já é bastante alta, fora de qualquer padrão mundial, eu temo que isso teria um efeito regressivo”, disse em entrevista ao Broadcast.

A proposta do PP, partido do relator do projeto, Arthur Lira (AL), elevaria em 5% a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) paga por instituições financeiras com lucro líquido anual superior a R$ 1 bilhão para compensar parte da renúncia fiscal. A sigla ainda sugeriu outras medidas, como um corte horizontal em benefícios fiscais. A Febraban já criticou publicamente a sugestão sobre a CSLL.

Batendo na tecla

O Ministério da Fazenda tem batido na tecla que o modelo de compensação proposto pelo governo é o mais justo ao efetivamente cobrar de pessoas físicas que pagam pouco IR. O auxiliar de Fernando Haddad reforçou esse ponto e argumentou que a tributação do imposto mínimo é até mais “popular” que a isenção ampliada a quem ganha até R$ 5 mil. “As pessoas se sentem injustiçadas. Todo mundo paga o imposto de um lado e aquele que ganha mais não paga, não faz sentido”, disse Pinto.

Pela fórmula da Fazenda, quem ganha acima de R$ 50 mil por mês pagará um imposto mínimo de até 10%, cuja cobrança efetiva é regulada com os tributos já pagos pelas empresas – se ultrapassar uma carga de 34% (para a maioria dos setores), haverá devolução. Segundo o secretário, a pasta tem tido conversas informais com parlamentares para explicar esse modelo, o que tem elevado o nível de entendimento e, em consequência, o apoio ao projeto, afirmou.

Lucro presumido e Simples

A regulagem com a tributação do CNPJ, contudo, fez tributaristas levantarem preocupações sobre o impacto em quem é remunerado por empresas que fazem parte do regime de lucro presumido e do Simples, cujas alíquotas efetivas médias são de 11% e 6%, respectivamente, portanto, menores ainda em relação ao lucro real.

Pinto afirmou que essas companhias continuarão a apurar o IR e a CSLL da mesma forma e argumentou que são “muito poucos” os empresários do Simples que recebem mais de 600 mil por ano e que, portanto, serão afetados. Segundo ele, os dados mais detalhados estão com a Receita Federal. No caso do lucro presumido, esse número aumenta, já que o limite anual de faturamento é de R$ 78 milhões, contra R$ 4,8 milhões do Simples.

Mesmo assim, o secretário defende que a alíquota combinada ainda será inferior que o IR cobrado de empresas em “qualquer país desenvolvido”. “Numa média de alíquota do Presumido em 11%, somado ao imposto mínimo máximo de 10%, seria uma alíquota combinada de 21%. Ela é mais baixa do que a alíquota de imposto de renda de pessoa jurídica de qualquer país desenvolvido”, disse. “Na média, o lucro presumido vai continuar sendo vantajoso em relação ao lucro real”, concluiu.

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