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Incertezas geradas por política de tarifas do presidente Donald Trump aumentam interesse por esse serviço
14 de agosto de 2025
Por Gabriel Baldocchi
As incertezas geradas pelas políticas do presidente Donald Trump aumentaram o interesse das empresas brasileiras em serviços especializados de lobby nos Estados Unidos. Nomes como a fabricante de armas Taurus e a mineradora Vale aparecem neste ano, pela primeira vez, entre os contratantes dos serviços de lobistas formais na lista oficial de registros do Congresso americano.
As duas empresas buscaram defender interesses e obter diretrizes em temas relacionados à produção local, mostram os registros. Como pano de fundo, está o tarifaço imposto por Trump, com o objetivo de atrair investimentos produtivos ao país, e que está redesenhando o mapa corporativo global.
Taurus e Vale se juntaram a outras brasileiras acostumadas a recorrer ao apoio de profissionais especializados em atuar junto a esferas do Executivo e do Legislativo americanos, como Braskem, Embraer e JBS. Procurada, a JBS não comentou. Braskem e Embraer não responderam até a publicação deste texto.
Os dados constam de relatórios com declarações de boa-fé das empresas de lobby entregues à Secretaria de Registros Públicos do Senado, e foram compilados pela ONG Open Secrets. Segundo os registros, os gastos totais com esse tipo de serviço nos EUA somaram US$ 2,5 bilhões de janeiro a junho deste ano, mais da metade da soma de 2024 (US$ 4,4 bilhões), com um total de 12.674 lobistas oficialmente registrados.
Por trás dos maiores desembolsos aparecem empresas como General Motors, Meta e entidades como a Câmara de Comércio dos EUA. Já as brasileiras representam uma fatia modesta do bolo total que aparece nos relatórios. Desde o fim dos anos 1990, quando começam os registros, até agora, desembolsaram um total de cerca de US$ 30 milhões (R$ 162 milhões), de acordo com levantamento do Broadcast.
O esforço do lobby não conseguiu livrar a Taurus das tarifas impostas pelo governo Trump. A fabricante brasileira de armas contratou o escritório de lobby Ballard Partners desde o primeiro trimestre para atuar junto às esferas de comércio da administração americana, ao Tesouro e à Casa Branca. O foco principal, segundo os registros, era defender os interesses da empresa (advocacy) e obter diretrizes em torno de temas relacionados à produção local. O Ballard Partners foi o segundo maior prestador de serviços do ramo neste ano.
Em nota ao Broadcast, a Taurus afirmou que “todas as iniciativas seguem rigorosamente as regras de compliance aprovadas no Conselho de Administração da empresa e são definidas de acordo com a estratégia da empresa.”
Na última semana, a Taurus confirmou que vai mudar uma linha de montagem aos Estados Unidos, como reflexo das tarifas de 50% impostas pelo governo Trump sobre armas. As taxas passaram a vigorar no dia 06.
O mercado americano movimenta mais de US$ 14 bilhões por ano em armas e é a maior fonte de receitas da fabricante brasileira, com 82% das vendas. A Taurus já tem uma unidade de produção por lá, com capacidade para 800 mil armas/ano, metade do que é produzido na fábrica nacional, localizada em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.
Já a Vale contratou os serviços da Lilette Advisors, no segundo trimestre, para atuar junto ao gabinete presidencial, ao Senado e à Câmara, em temas relacionados ao ambiente político para investimentos em escala comercial em beneficiamento de mineração e produção de metais nos Estados Unidos.
Os serviços prestados pela empresa de lobby também buscaram “cultivar a conscientização sobre o valor da manufatura nos EUA e o crescimento de empregos qualificados relacionados às atividades de aglomerados de minério de ferro e tecnologia de próxima geração nos EUA”, escreveu a Lilette Advisros nos registros.
Em teleconferência de resultados do segundo trimestre, o diretor financeiro da Vale, Marcelo Bacci, afirmou que os Estados Unidos representam apenas 3% das receitas da empresa, a maior parte enviada do Canadá. Portanto, o tarifaço não é um tema prioritário para a empresa, afirmou o executivo.
A Vale, porém, foi escolhida pelo governo americano, no ano passado, para desenvolver uma planta de briquetes em escala industrial no estado de Louisiana. O briquete reduz o uso de água na produção e tem potencial para diminuir em até 10% as emissões na siderurgia. O projeto americano da Vale, com capacidade para produzir 1,5 milhão de toneladas ao ano, conta com financiamento do governo dos Estados Unidos e prevê a alocação de até US$ 282,9 milhões (R$ 1,5 bilhão) durante todo o período do projeto, até 2031.
As negociações para o projeto foram fechadas no governo do presidente Joe Biden, como parte do Inflation Reduction Act, principal política da administração anterior para promover energias limpas e hoje sob ataque da gestão Trump.
Em nota, a Vale afirmou que “tem o apoio de consultorias externas especializadas em temas ligados a assuntos comerciais diversos, incluindo a identificação de potenciais oportunidades em novos projetos.” A empresa não deu detalhes sobre o andamento do projeto de Louisiana.
Outro nome que aparece pela primeira vez na lista de contratantes de lobby é o do banco BTG Pactual. Assim como a Taurus, o banco buscou os serviços do Ballard Partners, no segundo trimestre, para ajudar em temas relacionados à regulação bancária. O apoio se dá num momento em que o governo Trump prepara um afrouxamento nas regras do sistema bancário americano.
O BTG tem escritórios em Miami e Nova York e oferece serviços que vão desde aqueles prestados na área de banco de investimentos até a gestão de fortunas. Procurado, o BTG não respondeu até a publicação deste texto.
Com metade das receitas oriundas de seus negócios nos Estados Unidos, a JBS vem ampliando os desembolsos com lobby naquele país nos últimos anos. Em 2025, o valor gasto no primeiro semestre pelo grupo brasileiro com serviços especializados em influenciar esferas públicas americanas praticamente dobrou em relação ao mesmo período do ano passado: passou de US$ 806 mil para US$ 1,54 milhão. O avanço se deu num momento de intensas mudanças promovidas pela administração do presidente Donald Trump, especialmente em áreas como imigração e comércio.
O reforço da JBS neste ano se deu principalmente no tema de imigração, em linha com o aumento de gastos com lobby de todo setor agrícola americano, para defender o afrouxamento das novas regras para estrangeiros. Cerca de 40% da mão de obra no agronegócio é composta de trabalhadores de fora do país sem documentação legal, segundo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. A JBS emprega hoje quase 80 mil pessoas em diferentes áreas de negócios nos EUA e Canadá.
O grupo busca apoio externo para lobby desde 2007 e atualmente tem contratos com três empresas especializadas, além dos serviços próprios. Ao todo, 14 profissionais estão associados ao trabalho, em temas que vão desde comércio internacional até inspeção sanitária e desmatamento.
Os dados constam de relatórios com declarações de boa-fé das empresas de lobby entregues à Secretaria de Registros Públicos do Senado, e foram compilados pela ONG Open Secrets. Não é possível traçar paralelos com o Brasil porque no País não há levantamento semelhante.
As informações também não incluem outras iniciativas da JBS na frente política. Uma doação de US$ 5 milhões feita pela Pilgrim’s Pride, empresa adquirida pela família Batista no país, para a posse do presidente do presidente Donald Trump virou alvo de críticas de políticos da oposição. O valor superou contribuições feitas por empresas como Apple e Google.
Somente na divisão de carnes, a JBS tem 10 plantas de processamento bovino espalhadas pelos Estados Unidos. Neste ano, o grupo, com receitas totais de
R$ 114 bilhões no primeiro trimestre, aprofundou os laços com o país, ao conseguir finalizar a listagem na Bolsa de Nova York, um movimento que ampliou a fatia de estrangeiros entre os investidores da empresa.
Enquanto a JBS aumentou seus esforços com firmas especializadas, a Embraer manteve os gastos estáveis neste ano, num total de US$ 120 mil. A fabricante brasileira de aviões obteve a mais simbólica vitória nas negociações com o governo Trump, com a exclusão da tarifa adicional de 50% imposta às exportações brasileiras.
O esforço de convencimento foi feito pelo próprio presidente da companhia, Francisco Gomes Neto, junto com representantes do governo brasileiro. O executivo participou de encontros com os secretários americanos do Comércio, Howard Lutnick, do Tesouro, Scott Bessent, e dos Transportes, Sean Duffy.
A exclusão da tarifa adicional evitou um impacto negativo potencial de US$ 20 bilhões até 2030, conforme calculou a Embraer. Ainda assim, a empresa está incluída na tarifa adicional de 10% inicialmente anunciada por Trump a produtos brasileiros, um custo que deve ter um peso negativo de US$ 65 milhões em 2025.
A Embraer é uma das mais antigas contratantes de lobby nos EUA, com registros desde o final da década de 1990, esforço que já contribuiu para a vitória de contratos junto à área de Defesa americana. Ao contrário da JBS, a empresa vem reduzindo o gastos com lobby desde 2019. Atualmente, conta com duas prestadoras de serviços externas, além de atuação própria. Ao todo, possui oito profissionais associados à atuação, em temas que vão desde segurança em aviação até a regulamentação de combustível sustentável.
Outra tradicional contratante entre as brasileiras é a Braskem, com gastos registrados desde 2011. O caso é semelhante ao da Embraer. Nos últimos anos, a petroquímica vem reduzindo os desembolsos com lobby nos Estados Unidos e, em 2025, manteve o valor estável apesar do tarifaço, em US$ 40 mil.
A petroquímica calcula que o mercado americano representou 0,7% da receita da companhia no primeiro semestre e avaliou que os produtos mais relevantes exportados para lá ficaram de fora da tarifa de 50%. O restante, segundo a empresa, será redirecionado a outros destinos.
Procurada, a JBS não comentou. Braskem e Embraer não responderam até a publicação deste texto.
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