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Economistas esperam corte maior da Selic em 2026

Tom duro por parte dos integrantes do Banco Central enterra apostas de queda do juro básico em dezembro

18 de novembro de 2025

Por Arícia Martins

Se, por um lado, o tom duro mantido pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central praticamente enterrou apostas de corte da Selic em dezembro e colocou dúvidas sobre o início do afrouxamento ocorrer em janeiro, de outro, a permanência do juro básico em nível restritivo por mais tempo pode abrir espaço para uma redução um pouco mais expressiva da taxa básica de juros em 2026.

Economistas ouvidos pela Broadcast avaliam que, no início do próximo ano, o processo de reancoragem das expectativas inflacionárias deve ganhar tração, o que tende a alinhar a inflação projetada pelo BC à meta no horizonte relevante da política monetária.

Com as estimativas do mercado domadas e uma desaceleração econômica mais evidente, o BC poderá reduzir a Selic para abaixo dos 12,25% projetados pelo consenso de mercado para o fim de 2026, seja iniciando o ciclo de cortes em janeiro ou março. Para os especialistas, mesmo se a Selic recuar para perto de 11% a taxa ainda estaria em patamar restritivo para a atividade econômica.

A economista-chefe da CM Capital Markets, Carla Argenta, prevê que a Selic estará em 11,5% no fim do próximo ano. Ela afirma que o BC já possui condições técnicas para promover cortes, mas prefere aguardar até que a projeção de inflação no horizonte relevante, atualmente em 3,3%, atinja a meta de 3%. Ela estima que, em março, quando o horizonte se estenderá até o terceiro trimestre de 2027, essa projeção estará entre 3% e 3,1%.

“Quando isso acontecer, os elementos que sustentam a Selic em nível tão elevado caem por terra. Há espaço para promover um ritmo de ajuste maior ao longo do tempo”, avalia Argenta, mencionando entre os fatores uma queda mais acentuada da inflação corrente, um maior arrefecimento da atividade econômica e do crédito, e um aumento na ociosidade da economia, hoje maior na indústria e ainda pouco clara nos serviços.

“Como se esperou muito para iniciar esse corte, as condições macroeconômicas vão permitir que ele ocorra de forma mais rápida, sem colocar em xeque as expectativas que já devem estar bem ancoradas”, afirma Argenta, que prevê um corte inicial de 0,5 ponto porcentual na Selic em março. Ela considera que a projeção de uma taxa terminal de 11,5% até 2026 tem viés de baixa.

A RB Investimentos acredita ser mais provável que o Copom comece a reduzir a Selic na reunião de março do que na de janeiro, mas projeta que a taxa atingirá 11% até dezembro de 2026. “O corte vai demorar, mas quando começar, vai desencadear uma taxa mais baixa”, afirma o estrategista-chefe da RB, Gustavo Cruz.

Cruz pondera que o calendário eleitoral pode trazer uma maior volatilidade ao câmbio e complicando o ciclo de afrouxamento. No entanto, tudo o mais constante, mudanças nas expectativas de inflação já poderiam influenciar as projeções da Selic. “Pelas conversas com outros participantes do mercado, parece que o pessoal está aguardando início do ciclo de cortes para reduzir as projeções para o juro.”

Economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho identifica o comportamento do câmbio como o principal fator que, ao aliviar a inflação, permitiria que a Selic caísse a patamares abaixo do previsto pelo consenso do mercado. No cenário da gestora de recursos, o juro básico será reduzido a 11,25% até o final de 2026, com os cortes começando em janeiro. A projeção tem assimetria para baixo.

“O BC poderia começar com um corte de 0,5 ponto, mas tende a ser mais conservador”, considerando as últimas declarações mais hawkish do presidente Gabriel Galípolo e do Diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, diz Velho.

Desde que o dólar permaneça ao redor de R$ 5,30 até dezembro, espera-se que essa estabilidade contribua para uma redução de 0,3 ponto porcentual na previsão de alta do IPCA para 2026 no Focus, atualmente em 4,20%, de 4,27% há um mês. “Se o câmbio ficar nesse patamar, o BC consegue reduzir juros sem pressão dos alimentos e de bens industriais, que têm ajudado muito a inflação”, disse.

Embora a autoridade monetária tenha alertado para a resiliência do mercado de trabalho e dos serviços em suas comunicações, Velho avalia que é o resultado total da inflação que vai importar para o Copom ter confiança e iniciar o ciclo de queda da Selic. “E a queda do dólar é a grande âncora”.

Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez, projeta uma Selic terminal de 12% para 2026. Ele concorda que a expectativa de inflação do BC deve se aproximar da meta de 3% no primeiro trimestre de 2026, e prevê que o BC reduzirá a Selic em 25 pontos-base em janeiro, seguido por dois cortes de 75 pontos-base. “Haverá um cenário mais claro de desinflação”, diz ele, que já chegou a rodar um modelo com Selic em 11,75% ao fim de 2026. “Nosso call oficial é 12%, mas quando a desinflação aparecer, a curva de juros futuros vai responder para baixo no ano que vem”.

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