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Desemprego atual com juro elevado desafia lógica

Falta consenso entre economistas sobre o que explica a baixa desocupação no Brasil

15 de agosto de 2025

Por Francisco Carlos de Assis, Caroline Aragaki, Anna Scabello e Renata Pedini

A economia brasileira, com especial destaque ao mercado de trabalho, segue desafiando a lógica das expectativas racionais, segundo a qual os agentes econômicos usam todas as informações disponíveis para prever o futuro e, em média, acertam nas projeções. Com o juro básico acima dos dois dígitos há meses, a estimativa era de desaceleração econômica e emprego perdendo força. Apenas a primeira previsão, porém, dá sinais de que vai se concretizar, dado que a taxa de desemprego está na mínima histórica.

Falta consenso entre os economistas sobre o que explica a baixa desocupação no Brasil mesmo com a Selic subindo sem parar desde setembro de 2024. A taxa está em 15% atualmente, o que descontando a inflação resulta em um juro real de 9,36% ao ano. As mudanças na política monetária no Brasil levam de seis a nove meses para fazer efeito na economia. Com os aumentos da Selic desde o fim do ano passado, há um estoque de altas de juro freando a atividade e outro que teoricamente ainda começará a desacelerá-la.

No entanto, a taxa de desemprego no trimestre terminado em junho caiu para 5,8% da proporção da População Economicamente Ativa (PEA), segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “É um caso a ser estudado”, diz o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida. “Com essas taxas de juros, em qualquer outro país estaríamos falando em recessão. Não é o que acontece no Brasil”, observa.

Gabriel Galípolo, atual presidente do Banco Central (BC), não esconde que uma de suas principais dificuldades é tentar explicar a seus pares o dinamismo da economia brasileira, mesmo com o País carregando uma das maiores taxas de juros do planeta. Em termos nominais, a Selic fica atrás somente do juro básico da Turquia, de 46% ao ano, Argentina com 29% e Rússia em 18%. Em termos reais, descontada a inflação, o Brasil tem a segunda maior taxa do mundo, atrás apenas da Turquia, que convive com um juro real de 14,44% ao ano.

As explicações para o baixo desemprego, neste contexto, são atribuídas a fatores como mudanças estruturais no mercado de trabalho – seja por costumes adquiridos na pandemia, resultados das reformas trabalhista e previdenciária -, e a efeitos de incentivos fiscais, das transferências de renda e da valorização do salário mínimo. Mas falta consenso entre os especialistas.

A sócia e economista da BuysideBrazil, Andrea Damico, diz ser “bem difícil explicar a resiliência no mercado de trabalho”, mas coloca entre as justificativas a defasagem temporal do efeito dos juros altos sobre o emprego. O head de macroeconomia da Kinitro Capital, João Savignon, defende que no curto prazo a força do mercado de trabalho pode ser atribuída a uma combinação de fatores, dentre os quais se destaca o dinamismo na criação de vagas, especialmente do setor de serviços.

Mansueto insiste em que os economistas não têm uma resposta definitiva para este fenômeno e sim hipóteses. De acordo com ele, não é comum numa economia que desaquece ver desemprego diminuindo. Para o segundo trimestre ele prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça apenas 0,2%. Diz que alguns economistas até esperam por um avanço de 0,4%, mas nada perto do 1,4% apurado no primeiro trimestre.

“Como a gente vinha aumentando os juros desde setembro, o que aconteceu em janeiro, fevereiro e março foi mais ou menos o esperado: desemprego crescendo. Só que em abril, maio e junho o desemprego caiu, o que é totalmente atípico. Ninguém sabe explicar muito bem o que está acontecendo. Tem várias hipóteses e uma delas é que pode estar tendo uma mudança estrutural no emprego pós-pandemia”, pontuou.

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