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Bancos temem rumo de R$ 40 bi devolvidos a investidor do Master

Receio é que recursos sejam direcionados a instituições não alinhadas com as melhores práticas de governança

25 de novembro de 2025

Por Cynthia Decloedt, Altamiro Silva Junior e André Marinho

Com a perspectiva de retorno ao sistema de recursos da ordem de R$ 40 bilhões, após o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) devolver a poupadores investimentos feitos em títulos do Banco Master, banqueiros questionavam o futuro destino desse dinheiro em almoço realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O temor é que esses recursos sejam direcionados a instituições não alinhadas com as melhores práticas de governança do sistema bancário e que oferecem alto rendimento, realimentando o problema e potencialmente gerando um risco sistêmico continuado.

Para eles, apesar de alguns ajustes recentes, a regulação ainda não é suficiente. “As mudanças feitas são cosméticas”, afirmou um banqueiro, citando o limite para uso de precatórios na composição dos ativos dos bancos.

As críticas foram remetidas também às plataformas de investimentos, que têm incentivos financeiros para distribuir esses papéis com elevado retorno e com garantia do FGC. “Essas plataformas contribuem pouco junto ao FGC e ganham muita comissão”, disse um banqueiro presente ao almoço. Nas contas de um deles, as plataformas que mais venderam CDB do Master ganharam entre R$ 600 milhões a R$ 1 bilhão por ano somente em comissões. “Ninguém fica do tamanho que o Master ficou sem ter um agente distribuindo os ativos”, argumenta uma fonte.

O Banco Master foi liquidado pelo Banco Central na semana passada e caberá ao FGC devolver os investimentos feitos em CDBs do banco a um limite de R$ 250 mil. Esse processo deve ser iniciado em meados de dezembro, após o interventor nomeado pelo Banco Central apresentar a lista oficial de credores.

Até agora, a expectativa do FGC é de que terá de sacar cerca de R$ 41 bilhões da reserva de liquidez constituída para proteger poupadores. Se o Master Multiplo não conseguir ser restituído pelo Regime Especial de Administração Temporária (Raet) e acabar liquidado, essa conta pode subir para R$ 49 bilhões. Um executivo alerta ainda para o risco de outras instituições em situação que poderia evoluir para um problema semelhante ao do Master.

O sistema ganhou vários novos entrantes nos últimos anos, como fintechs e instituições de pagamentos, que emitem títulos garantidos pelo FGC para captar recursos a suas atividades. No caso do Master, o agravante foi o fato de o banco se alavancar com emissão de CDBs de longo prazo para investir em ativos de baixa liquidez e que, posteriormente, se mostraram duvidosos.

Para um executivo de banco, o custo do uso do FGC no Master vai acabar voltando para a sociedade, em meio a um aumento do custo de captação para bancos menores no mercado e a necessidade de recompor as reservas do Fundo. “É preciso mudar claramente as normas.”

Uma delas é a contribuição hoje que as instituições financeiras fazem ao FGC, que é desproporcional. Uma fintech, por exemplo, contribui com a base de CDB próprio, mas não de terceiros que ela distribui. Então, se for uma agente que vende muito CDBs de outros bancos, vai continuar contribuindo só com o que emite.

E, outro ponto: não há corresponsabilização por este CDB de terceiro que oferece em sua plataforma. “Se ela não cresceu a base própria, vai contribuir com uma fração de um banco grande contribui”, observa um interlocutor. Os grandes bancos também têm plataforma aberta, mas a visão é que são mais responsáveis. No caso do Master, por exemplo, foram raros os que distribuíram.

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