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Ações em NY estão supervalorizadas, veem especialistas

Para Capital Economics, não é surpreendente que haja renovada discussão sobre bolha no mercado

13 de outubro de 2025

Por Thais Porsch

O ano de 2025 vinha sendo excelente para as ações americanas, até agora. Apesar de alguma turbulência, o S&P 500 subiu mais de 12% desde o início do ano. O Dow Jones registrou o maior ganho porcentual desde 2019 em setembro -mês que é conhecido pelo desempenho ruim do mercado acionário dos EUA. E o Nasdaq teve seu maior ganho porcentual do terceiro trimestre desde 2010.

Contudo, o desempenho notável faz com que alguns observadores do mercado se perguntem se os investidores foram longe demais. Em um discurso no mês passado, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, respondeu a uma pergunta sobre como os banqueiros centrais consideram os preços dos ativos em sua tomada de decisão. Segundo Powell, o mercado acionário americano está altamente valorizado. A fala deu brecha para que muitos entendessem que não apenas os preços das ações estão cotidianamente flertando com recordes históricos, mas que eles estão parecendo supervalorizados.

“Não é surpreendente que haja uma renovada discussão sobre uma bolha no mercado de ações nos EUA”, diz o economista-chefe de mercados da Capital Economics, John Higgins, em análise. Mesmo assim, Higgins afirma que não ficaria surpreso se o S&P 500 terminasse o ano acima da previsão atual da consultoria, de 6.750 pontos, e fizesse mais ganhos em 2026 à medida que o entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) continua a crescer.

A Evercore ISI, em uma nota intitulada “Uma Grande e Bela Bolha”, argumenta que, embora o S&P 500 esteja de fato em território de bolha, provavelmente ainda há espaço para expansão. A consultoria argumenta que cortes de juros, melhora no sentimento, lucros mais fortes, redução da incerteza e ganhos de produtividade com a IA podem manter os investidores colocando dinheiro antes que a bolha eventualmente estoure.

Para Marina Valentini, estrategista de Mercado Global na JP Morgan Asset, a força e velocidade da recuperação pós-‘Dia da Libertação’ de Donald Trump – somada à dominância das grandes empresas de tecnologia nos retornos do mercado desde 2022 – tem alimentado o receio dos investidores de uma possível bolha nas ações. ?As preocupações com valuations elevados acontecem em meio a um verdadeiro boom de IA? diz Valentini à Broadcast.

Segundo ela, um indicador é difícil de ignorar: o valor total das ações corporativas americanas equivale hoje a 363% do PIB nominal anual até o segundo trimestre de 2025 – um recorde histórico. ?Em teoria, lucros corporativos e PIB deveriam crescer juntos. Mas quando os preços das ações avançam mais rápido que os lucros, a relação entre capitalização e PIB sobe e as perspectivas de retorno futuro diminuem?, acrescenta. Em algum momento, esse índice poderia se ajustar à realidade, alerta Valentini, ponderando que isso não significa que uma correção seja iminente, mas indica que os investidores não devem se acomodar com retornos elevados, especialmente diante de uma possível desaceleração da economia dos EUA no fim de 2025.

De acordo com Adriana Ricci, CEO da SHS Investimentos, é preciso lembrar que empresas supervalorizadas não significam necessariamente uma bolha. Ricci defende que há mais possibilidade de pequenos momentos de realização de lucros de curto prazo do que o risco e uma bolha propriamente dita. A questão do momento é que alguns papéis – principalmente ligados à chips e infraestrutura de IA – estão pesando muito nas bolsas americanas e elevando esse resultado, comenta a CEO. Segundo ela, a instabilidade política do segundo governo Trump parece estar andando separada dos bons resultados, incluindo a atual paralisação do governo federal – a qual até agora não tem preocupado os traders.

Fora dos EUA, o Banco da Inglaterra (BoE) alertou esta semana que “o risco de correções acentuadas nos preços dos ativos permanece elevado”. Já a dirigente do Banco Central Europeu (BCE) Isabel Schnabel disse que pode haver uma repentina e intensa correção dos mercados.

A diretora-geral do FMI enfatizou que a resiliência global não foi totalmente testada. “Se uma correção aguda ocorresse, condições financeiras mais apertadas poderiam arrastar o crescimento mundial para baixo”.

Bolha da internet vs. IA

Em momentos de incerteza, uma resposta é olhar para trás. Nos anos 2000 mais de 500 empresas que prestavam serviços na recém-popularizada internet quebraram, estourando a chamada bolha da internet ou bolha das pontocom. O temor é de que a IA esteja indo pelo mesmo caminho.

Os especialistas, porém, pontuam que tanto as empresas como o cenário global são diferentes do que eram há 25 anos. “Ao contrário das etapas finais daquela bolha, o Fed não parece estar prestes a estragar a festa”, diz a Capital Economics, fazendo alusão ao aumento de juros do BC americano na época. Agora, o mercado estima uma flexibilização monetária tanto para 2025 como 2026. “A IA vive um momento de euforia e muito parecido com outras revoluções tecnológicas, mas, ao contrário do que a gente viu na bolha do começo do século, hoje temos resultados concretos”, enfatiza Ricci.

Na visão de Valentini, as sete maiores big techs norte-americanas, conhecidas como Sete Magníficas, são multinacionais maduras, com balanços sólidos e receitas diversificadas. “Além disso, a demanda por infraestrutura de IA segue muito acima da oferta”.

Empresas como Amazon, Google, Meta e Microsoft prometeram gastar um valor recorde de US$ 320 bilhões em despesas de capital somente neste ano, grande parte disso em infraestrutura para o setor. E, ainda que não esteja claro se elas estão preparadas para recuperar o investimento, seus próprios testemunhos revelam que vão continuar gastando de qualquer maneira.

Ecoando o ex-chefe do Citi Chuck Prince, que disse famosamente na véspera do crash bancário global em 2007 que você tem que continuar dançando enquanto a música ainda está tocando, o CEO da Meta, Mark Zuckerberg, alegou recentemente que preferiria acabar gastando mal alguns centenas de bilhões de dólares do que estar atrasado na expansão da IA.

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