Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Riscos à independência do Fed geram alerta

Com seguidos ataques do presidente Donald Trump, tema marca discurso de dirigentes do BC dos EUA

26 de setembro de 2025

Por Aline Bronzati, correspondente em Nova York

Crescem, dentro e fora do Federal Reserve (Fed), os apelos sobre os riscos que ameaçam a independência da autoridade. Diante dos ataques constantes do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o tema tem marcado os discursos dos dirigentes do BC americano tanto quanto as avaliações sobre o futuro da política monetária no país.

O presidente do Fed, Jerome Powell, subiu o tom nesta semana e classificou o julgamento de que o BC americano toma decisões políticas como golpe baixo. Segundo ele, o Fed nunca, jamais considerou consequências políticas ao tomar decisões de política monetária. “Muitas pessoas não acreditam em nós e dizem que estamos tomando decisões políticas, mas é só um golpe baixo”, disse Powell, ao ser questionado, em evento da Câmara de Comércio da região metropolitana de Providence na terça-feira passada.

Até a vice-presidente de Supervisão do Fed, Michelle Bowman, que figura na lista de candidatos da Casa Branca para substituição de Powell no comando do BC americano a partir do ano que vem, disse que concorda “totalmente” sobre a importância da autoridade monetária tomar decisões independentes “em todos os aspectos”.

O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, foi além e disse que o duplo mandato de emprego e inflação é “sagrado” e a “única coisa” que os dirigentes devem ter em mente ao tomar decisões de política monetária.

Além de pressionar Powell e colocar dentro do Fed seu principal assessor econômico, Stephen Miran, Trump iniciou uma ofensiva para tentar demitir a diretora Lisa Cook, acusada de fraude hipotecária. Em troca, teria mais uma cadeira para indicar um novo dirigente à autoridade, mais alinhado ao seu desejo de um corte agressivo de juros no país.

Questionado sobre a tentativa de Trump de demitir Cook, Goolsbee ressaltou que a independência do banco central é “criticamente importante” para as decisões monetárias. “Sabemos o que acontece quando governos interferem em decisões: a inflação sobe e a economia piora”, afirmou.

Em paralelo, ex-dirigentes do Fed e do Departamento do Tesouro se uniram para alertar quanto aos riscos de uma eventual destituição de Cook. Para eles, a demissão da diretora poderia “ameaçar a independência do Fed e erodir a confiança pública” na instituição. O alerta está em carta à Suprema Corte, assinada pelos ex-presidentes do Fed Ben Bernanke e Alan Greenspan e os ex-secretários do Tesouro Henry Paulson, Robert Rubin, Lawrence Summers, Timothy Geithner e Janet Yellen, entre outros.

No documento, que é assinado também por ex-presidentes do Conselho de Assessores Econômicos (CEA) da Casa Branca e outros economistas, eles defendem que “manter a independência do Fed é essencial para a saúde de longo prazo da economia”. A remoção de Cook “exporia o banco central a influências políticas, comprometendo a credibilidade e a eficácia da política monetária dos EUA”, avaliam.

Na semana passada, um Tribunal de Apelações rejeitou o pedido de Trump para destituir Cook. A Casa Branca, então, recorreu à Suprema Corte, solicitando uma ordem de emergência para afastá-la. Demitir Cook antes do julgamento definitivo “seria a primeira remoção de um diretor na história do país” e minaria a percepção de que a autoridade pode tomar decisões de longo prazo livres de ciclos eleitorais, disseram pesos-pesados da academia americana ao órgão.

Veja também