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Somente no mês de julho foram pagos R$ 60,5 bilhões, segundo dados do Tesouro Nacional
16 de setembro de 2025
Por Daniel Tozzi
O pagamento de precatórios devidos pela União, ocorrido principalmente em julho, pode ter dado um alívio temporário à desaceleração econômica nos meses de agosto e setembro, segundo economistas consultados pela Broadcast. Em 2025, o pagamento de precatórios superou a casa de R$ 60,0 bilhões.
Embora não seja necessariamente parte da política fiscal do governo, a injeção de recursos tão volumosos em um período curto de tempo tende a ter um efeito positivo no consumo doméstico, que vem perdendo força nos últimos meses. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), por exemplo, recuou 0,54% em julho, 0,25% em junho e 1,17% em maio, conforme divulgou o BC nesta segunda, com contração em setores como a indústria e os serviços.
Precatórios são ordens de pagamento emitidas pelo governo para quitar dívidas após decisões judiciais definitivas. Ou seja, quando uma pessoa ou empresa ganha uma ação contra o Estado, o valor devido é transformado em precatório, que por isso costuma estar relacionado ao pagamento de dívidas trabalhistas, benefícios previdenciários ou indenizações por desapropriações.
A escolha de fazer esses pagamentos apenas no segundo semestre já foi, inclusive, citada pelo Tesouro Nacional como estratégia deliberada para diminuir o impulso fiscal no início do ano e não atrapalhar os efeitos do aperto monetário no período.
Segundo os analistas, a experiência de anos anteriores revela que parte importante dos recursos recebidos via precatórios se converte em consumo de bens e serviços em até três meses após o pagamento, sobretudo entre famílias de renda mais baixa. Essa expectativa levou instituições de mercado financeiro a elevar entre 0,1 e 0,3 ponto porcentual as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre.
Em 2025 foram pagos R$ 68,42 bilhões em precatórios, segundo o painel de informações do Conselho da Justiça Federal (CJF), que também inclui as chamadas Requisições de Pequeno Valor (RPVs). Somente no mês de julho foram pagos R$ 60,5 bilhões, segundo dados do Tesouro Nacional.
Nos números do CJF, do total de R$ 68,42 bilhões pagos em 2025, R$ 31,33 bilhões se referem aos chamados precatórios previdenciários e assistenciais. Outros R$ 36,94 bilhões estão contabilizados na categoria de “encargos financeiros da União”.
O economista da XP Investimentos Rodolfo Margato calcula que, do total que foi pago, R$ 40 bilhões são recursos que, uma vez na mão dos destinatários, têm potencial de se transformar em consumo. “Tiramos dessa conta precatórios pagos a Pessoas Jurídicas ou de valores altos, por exemplo”, detalha ele.
Com base em estudos sobre a propensão marginal a consumir, a hipótese de Margato é que 60% desses R$ 40 bilhões efetivamente são empregados no consumo de curto prazo. “Estamos falando de cerca de R$ 25 bilhões, que se transformam em gastos das famílias e devem movimentar o comércio varejista e o setor de serviços”, afirma.
A hipótese da XP é que 80% desse impulso sobre a atividade se materialize ainda no terceiro trimestre do ano, período para o qual a XP projeta alta de 0,4% no PIB. Sem os efeitos dos precatórios, diz Margato, a estimativa estaria bem mais próxima da estabilidade.
O head de macroeconomia da Kínitro, João Savignon, trabalha com cenário semelhante. Ele estima que, do total pago em precatórios, cerca de R$ 15 bilhões chegaram às mãos dos recebedores e se transformaram em consumo de curto prazo.
Ele ressalta, porém, que em situações como essa é preciso ainda levar em consideração o “efeito multiplicador” da injeção de recursos. “Não se esgota no pagamento em si. Porque haverá um consumo maior em um comércio e esse comerciante pode quitar dívidas com fornecedores ou pagar um salário a mais para os funcionários”, exemplifica. Para Savignon, o efeito líquido dos precatórios na economia pode chegar a R$ 21 bilhões.
Com isso, a Kínitro passou a estimar uma alta de 0,5% para o PIB do terceiro trimestre, dos quais cerca de 0,2 ponto devem refletir os impactos na demanda vinda desses pagamentos, segundo Savignon.
Silvia Matos, pesquisadora do FGV/Ibre, reconhece que os volumes pagos em precatórios tendem a estimular a demanda de curto prazo, mas destaca que o atual momento econômico está adverso.
Para ela, diferentemente do que foi visto na virada de 2023 para 2024, quando a União também fez o pagamento de precatórios e houve estímulo à demanda, agora, os juros estão mais altos e o cenário global conturbado. O contexto de incertezas, diz Matos, pode incentivar quem recebeu esses precatórios a saldar dívidas ou poupar em vez de consumir.
“A taxa de juro real e as condições de crédito hoje estão diferentes, o que talvez reduza o impacto positivo dos precatórios. Dificilmente o efeito na economia será igual ao de 2024”, afirma. “As sondagens de confiança do consumidor feitas pela FGV têm apontado para um maior ‘mau humor’ dos consumidores neste momento”, acrescenta. Dada essa perspectiva mais conservadora, o Ibre estima crescimento mais baixo para o PIB do terceiro trimestre, de 0,2%.
De acordo com os dados do CJF, a maior parte dos pagamentos em 2025 (R$ 25,63 bilhões) se destinou a precatórios da 1ª Região da Justiça Federal, que inclui estados como Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e parte do Norte e Nordeste. Na 3ª Região, formada por São Paulo e Mato Grosso do Sul, os pagamentos somaram R$ 15,55 bilhões.
A 2ª Região, que reúne Rio de Janeiro e Espírito Santo, registrou R$ 7,50 bilhões, enquanto a 4ª Região (Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina), totalizou R$ 8,86 bilhões. O Nordeste, representado pela 5ª Região, recebeu R$ 6,95 bilhões em precatórios, acima apenas da 6ª Região, que cobre Amazonas e Roraima, que contabilizou R$ 3,93 bilhões.
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