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Ataques cibernéticos podem levar à crise financeira

Fitch Ratings vê onda de riscos relacionados à digitalização e à infraestrutura de TI

10 de setembro de 2025

Por Altamiro Silva Junior

Os bancos estão tendo que lidar com novos riscos, no Brasil e no mundo, incluindo os ataques cibernéticos, que vêm crescendo nos últimos meses. E um ataque desses em grande escala tem potencial para desencadear uma crise financeira, avalia a agência de classificação de risco Fitch Ratings.

“Temos visto uma nova onda de riscos emergentes, principalmente relacionados à digitalização e à infraestrutura de tecnologia”, disse a diretora da Fitch, Thais Abdala, citando problemas como indisponibilidade de sistemas de pagamentos, falha da nuvem e os ataques cibernéticos.

E esses riscos podem sim levar a crises financeiras, ressalta a analista, provocando episódios semelhantes a corridas bancárias no passado. A diferença agora é que são em velocidade maior, por conta, por exemplo, das redes sociais, que disseminam informações muito rapidamente e potencializam os movimentos das pessoas.

Estudo da empresa de cibersegurança Netscout mostra que houve 550 mil desses ataques no Brasil no primeiro semestre de 2025, considerando todos os tipos de setores, 54% acima dos números da segunda metade de 2024 e o maior nível da América Latina. O setor bancário comercial aparece em quinto lugar entre os maiores alvos. Só nas últimas semanas, o Brasil teve mais de cinco ataques hackers ao setor financeiro, mas de menor escala.

Esses riscos ao setor financeiro podem ser mitigados pela supervisão do Banco Central, ressaltou Abdala em painel que discutiu bancos grandes demais para quebrar em evento da Fitch sobre o Brasil. A analista ressaltou que o arcabouço regulatório brasileiro foi construído com foco em crises financeiras tradicionais, como as crises de liquidez e má gestão. Mas o regulador e o Conselho Monetário Nacional (CMN) vêm nos últimos anos atualizando normas para tentar englobar os novos riscos.

“O arcabouço regulatório brasileiro ainda está em processo de adaptação. Tiveram avanços importantes”, disse Abdala. Ela ressalta, porém, que ainda é preciso avançar mais. “Está em processo de adaptação, tem resultados eficazes, mas tem espaço para melhorar”, disse no debate.

Como o Brasil tem um sistema financeiro mais concentrado, o risco de falências isoladas é um pouco menor, mas se elas ocorrerem, o risco sistêmico é maior. Nos Estados Unidos, ao contrário, com muitos bancos, o risco de falências isoladas é maior, mas elas tendem a ser menos disruptivas, disse a diretora da Fitch.

Ao mesmo tempo, Abdala observa que o limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir depósitos no Brasil, de R$ 250 mil por CPF, ainda é baixo para padrões internacionais. Nos EUA, é US$ 250 mil, o equivalente a R$ 1,3 milhão.

Outro diferencial dos EUA é que existem protocolos mais definidos para intervenções em bancos. Por exemplo, se ocorre uma intervenção em uma sexta-feira, na segunda o banco já opera de novo, às vezes com compradores pré-definidos e vendas de carteiras. “Dá mais previsibilidade ao mercado”, disse a diretora da Fitch, Nicole Lazari, também responsável pela área de bancos.

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