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Trump reiterou que não haverá postergação além de 1º de agosto para a entrada em vigor de tarifas
9 de julho de 2025
Wall Street ignorou a segunda temporada do ‘Dia da Libertação’, que taxou 14 países, diante da expectativa de novos acordos comerciais e mais prazo de negociação com Washington. Apesar da sensação de que o pior já passou, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse e reiterou que não haverá uma nova postergação para a entrada em vigor das tarifas, que passam a valer em 1º de agosto e devem render aos EUA US$ 300 bilhões até o fim deste ano.
O mercado já esperava que o fim da pausa tarifária, previsto para 9 de julho, fosse postergado, ancorado no fato de que Trump já adotou a mesma postura em outras ocasiões. Aliás, esse foi o motivo do apelido ‘TACO Trump’, sigla que vem do ‘Trump Always Chickens Out’ ou ‘Trump Sempre Amarela’, e que vem sendo utilizada por analistas para verbalizar o vaivém do americano nas tarifas, ter se popularizado pelas quadras de Wall Street. Além disso, os EUA fecharam poucos acordos comerciais até o momento, incluindo Reino Unido, China e Vietnã.
Em contrapartida, Trump fez uma nova ofensiva comercial com o envio de cartas a 14 países, incluindo nomes como Japão e Coreia do Sul, com novas alíquotas tarifárias de 25% a 40%. Para analistas, foi uma espécie de ‘Dia da Libertação II’. “Essas tarifas são realmente muito altas”, avalia Paul Krugman, economista norte-americano, vencedor do Nobel de Economia de 2008.
E a terceira temporada do ‘Dia da Libertação’ parece estar a caminho. Segundo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, Trump deve enviar entre 15 e 20 cartas adicionais nos próximos dias informando as tarifas às quais os países estarão sujeitos. As cartas são ofertas finais, garantiu o presidente americano.
Wall Street, contudo, focou mais no ‘Taco Trump’, com as principais bolsas americanas operando na maior parte do tempo em território positivo na terça-feira, 8. “Os participantes do mercado ignoraram amplamente as últimas ameaças do presidente Trump de aumentar tarifas sobre diversos países, concentrando-se no fato de que o prazo foi prorrogado, como amplamente esperado”, diz o vice-economista-chefe de mercados da Capital Economics, Jonas Goltermann.
Para o chefe de Renda Fixa da UBS Global Wealth Management, Kurt Reiman, a razão é que o pior, ao menos no campo tarifas, parece já ter ficado para trás. “As tarifas vão enfraquecer a economia, aumentar a inflação e complicar a trajetória da política monetária do Fed (o BC dos EUA). Mas tudo isso está bem precificado neste momento, então as notícias que chegam são menos ameaçadoras ou têm menos volatilidade atrelada”, justifica.
Além disso, investidores continuam acreditando na possibilidade de nova postergação do prazo de negociação tarifária. O próprio secretário do Tesouro, Scott Bessent, já mencionou a data de 1º de setembro como um limite para a conclusão das conversas. Trump, porém, reiterou hoje que não haverá nova prorrogação.
Em paralelo, os EUA indicam que seguem avançando na negociação com outros países, o que também ajuda a dar fôlego ao mercado de ações americano, que na semana passada foi às máximas históricas em meio a sinais de fortaleza do emprego doméstico. Nesse sentido, o gabinete de Trump fez uma proposta à União Europeia (UE) que sugere a manutenção de uma tarifa básica de 10% sobre todos os produtos do bloco, exceto setores sensíveis, como bebidas alcoólicas e aeronaves, conforme a imprensa americana.
Trump disse hoje que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tem sido “muito gentil recentemente”, sinalizando uma mudança de postura do bloco, que, na sua visão, tratou os EUA “mal até pouco tempo atrás”. O melhor cenário seria um acordo similar ao fechado com o Reino Unido, segundo operadores.
O chefe da Casa Branca fez ainda novas ameaças, revelando que alguns países podem chegar a pagar tarifas na casa dos 70%, além de mencionar setores específicos como o cobre, cujos contratos dispararam no mercado internacional, além de produtos farmacêuticos, chips e outros. “Donald Trump está claramente determinado a aumentar as tarifas”, alerta o alemão Commerzbank, em comentário a clientes.
O americano celebrou o boom em receitas com tarifas enquanto investidores temem os efeitos de suas políticas comerciais e fiscais na fortaleza da moeda americana. Até o momento, as novas alíquotas já renderam aos EUA US$ 100 bilhões, e a cifra pode triplicar para US$ 300 bilhões até o fim do ano, calculou o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
O presidente americano também voltou a atacar o Brics, grupo que inclui o Brasil, mesmo após o fim da Cúpula de Líderes que foi realizada no Rio de Janeiro, nesta semana, sob a liderança brasileira. “O grupo foi criado para nos atingir e desvalorizar o dólar”, disse Trump, alegando que quem se alinhar a esse bloco pagará uma tarifa de 10%. Mas, para analistas, o chefe da Casa Branca pode ser a principal fonte de fraqueza recente da moeda americana.
No acumulado do ano, o índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante seis divisas rivais de peso, amarga perdas de mais de 10%, abaixo dos 98,000 pontos. A referência teve a mais forte desvalorização para um primeiro semestre desde 1973. É uma reviravolta no cenário visto em 2024, quando a apresentou ganhos de 7,06%, para 108,487 pontos, o maior salto nesta base comparativa desde 2015.
Para Trump, parte da culpa da fraqueza do dólar é do Brics. “O Brics não é um problema sério, mas eles estão tentando desvalorizar e destruir nosso dólar. Se perdemos o valor do dólar, é como se tivéssemos perdido uma guerra. Quem tentar desafiar o dólar vai pagar o preço”, disse o presidente dos EUA, na terça-feira, 8.
De acordo com o americano, o bloco de países emergentes foi montado para “atingir” os EUA e “desvalorizar o dólar”. O acrônimo BRIC foi criado em 2001, pelo britânico Jim O’Neill, que na época atuava como economista-chefe do Goldman Sachs. Naquele ano, ele publicou o relatório “Build Better Global Economic – BRICs”, cunhando a sigla para o bloco, inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia e China. Anos depois, a África do Sul foi convidada a ingressar no grupo.
Nos últimos anos, contudo, o Brics cresceu. Atualmente, o bloco é formado por 11 países membros, sendo cinco membros originais e seis novos: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. E, para especialistas, a ampliação do grupo pode ter efeitos negativos, uma vez que dispersa os objetivos comuns.
Por sua vez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brics não é um grupo fechado e que está incomodando, referindo-se às críticas de Trump. “Acho até que a gente devia convidar os outros países pra vir para os Brics. Convida os outros dez países, fica uma coisa só, não precisa ter G7, Brics, G20”, propôs o brasileiro.
Na terça-feira, o presidente dos EUA voltou a criticar o Brics e disse que os países que se alinharem ao grupo de emergentes serão taxados em 10%. Anteriormente, o chefe da Casa Branca já havia advertido que uma taxa adicional neste patamar seria aplicada a membros do bloco alinhados às políticas antiamericanas. “O que é uma política antiamericana? Depende dos Estados Unidos”, alerta o estrategista global do Rabobank, Michael Every.
Para a chefe de pesquisa de câmbio e commodities do alemão Commerzbank, Thu Lan Nguyen, o ataque de Trump ao Brics é muito preocupante e provavelmente uma reação à cúpula do bloco, realizada no Rio de Janeiro, nesta semana. “A declaração conjunta publicada na cúpula contém algumas críticas veladas ao governo dos EUA”, diz ela.
A especialista chama atenção para dois trechos do comunicado do Brics, publicado na noite do último domingo, dia 06. Em primeiro lugar, os países membros criticam o aumento da introdução de tarifas unilaterais e, em segundo, condenam os ataques ao Irã, no mês passado, sendo que este merece atenção, segundo ela.
“Se a ameaça de Trump se refere a isso, significaria que a política dos EUA assume uma nova dimensão, com as tarifas não servindo apenas para impor demandas comerciais, mas também interesses de política externa a outros países”, avalia Nguyen.
Para o banco alemão, uma das maiores ameaças ao status do dólar como moeda de reserva mundial é uma política de sanções dos EUA mais rigorosa, que aumenta excessivamente o custo de usar a moeda americana em transações.
O ex-presidente do Federal Reserve (Fed) de Nova York William Dudley avalia que a notável fraqueza do dólar nos últimos meses tem por trás a abordagem combativa da Casa Branca nas relações exteriores e comerciais. “Normalmente, quando você aumenta tarifas, sua moeda se valoriza. O fato de que a administração Trump tem aumentado tarifas e o dólar têm se desvalorizado indica que há um apetite reduzido dos investidores estrangeiros por dívida denominada em moeda americana nesse ambiente”, avalia, em entrevista à Broadcast.
Em suas repetidas críticas ao Brics, Trump não mencionou o Brasil ou outro país especificamente. Mas, na visão da consultoria de risco político Eurasia, a perspectiva de um acordo tarifário entre brasileiros e americanos segue distante depois dos recentes acontecimentos. Isso porque os comentários do presidente americano dificultam qualquer avanço nas negociações bilaterais com o País, na sua visão.
O economista-chefe do banco de investimentos UBS BB, Alexandre de Ázara, vai na mesma linha. “Embora analistas políticos não esperem que esse assunto se agrave, a relação entre os EUA e o Brasil não deve avançar de forma positiva, mas também não esperamos que se deteriore muito mais”, diz, em comentário à Broadcast.
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