Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Selic: Mercado não descarta nova alta, mas vê fim de ciclo

Expectativa é de taxa básica de juros fique no atual patamar na reunião de junho

9 de maio de 2025

Por Eduardo Laguna, Daniel Tozzi Mendes, Caroline Aragaki e Antonio Perez

Ao subir a Selic em 0,5 ponto porcentual, para 14,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom) não decretou o fim do ciclo de alta dos juros. Mas a leitura do comunicado divulgado na quarta-feira pelo colegiado fez aumentar a sensação no mercado de que a Selic não terá um novo aumento em junho, quando os diretores do Banco Central voltam a se reunir nos dias 17 e 18.

Como esperado, o Copom evitou se comprometer com o seu próximo passo, buscando flexibilidade para decidir o que fazer a depender da evolução do cenário. Não sacramentou, como dito, o fechamento do ciclo, mas também não renovou a sinalização de que seguiria subindo os juros.

Porém, mudanças importantes conferiram um tom mais suave – ou dovish, no jargão do mercado – ao comunicado do comitê, sendo a principal delas a inclusão da redução nos preços das commodities, com efeitos desinflacionários, como o terceiro elemento do balanço de riscos de baixa da inflação.

Desde setembro, quando começou a subir os juros, o comitê apontava uma assimetria altista no cenário inflacionário. Em outras palavras, havia mais riscos de a inflação subir do que cair: três contra dois fatores. Hoje, o comitê revelou o entendimento de que os riscos de a inflação cair são tantos quanto os de a inflação subir: três para cada lado.

Porta Aberta?

A primeira reação no mercado foi de não descartar mais um aumento da Selic em junho. Afinal, o BC não fechou a porta. Mas são muitas as avaliações de que o mais provável é que a autoridade monetária tenha dado mesmo um ponto final no ciclo hoje.

No cenário-base – isto é, o mais provável – dos economistas de instituições como Bradesco, Citi e Ativa, esta foi a última elevação da Selic no ciclo atual.

Como não podia ser diferente, o cenário internacional, classificado agora como adverso, ganhou peso no comunicado do Copom, dada a perspectiva de a política comercial errática dos Estados Unidos colocar um freio no crescimento da economia global.

Fora isso, o BC parece mostrar maior convicção de que a alta dos juros vai ter efeito na atividade econômica do Brasil, embora esta mostre dinamismo e com a inflação ainda desancorada. Se em março o diagnóstico era de que alguns sinais ?sugeriam? uma incipiente moderação no crescimento, o BC diz agora que ?observa? uma incipiente moderação no crescimento.

Há ainda uma menção a impactos acumulados dos juros ainda a serem observados. Por outro lado, a sinalização é de que, mesmo que pare de subir os juros, a Selic terá que seguir alta, em terreno contracionista, por bom tempo. “Tal cenário prescreve uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período prolongado para assegurar a convergência da inflação à meta.”

“Em linhas gerais, o comunicado traz a perspectiva de que essa foi a última alta do ciclo e adiciona que ficará restritivo por mais tempo”, resume o economista Gustavo Rostelato, da Armor Capital.

Por outro lado, o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio de Souza Leal, ponderou que reequilibrar o balanço de riscos, como fez a autoridade monetária no comunicado de hoje, é uma pré-condição para encerrar o ciclo de elevação no juro, mas não quer dizer que seja o suficiente. “Eu acho que nem os diretores e nem o próprio presidente, Gabriel Galípolo, sabem o que farão na próxima reunião ainda”, comentou Leal.

Veja também