Selecione abaixo qual plataforma deseja acessar.

Operações atípicas movimentam mercado cripto

Fluxo em volumes acima do comum foram notados em transações feitas do real para a stablecoin Tether

7 de julho de 2025

Por Aramis Merki II

Movimentações atípicas no mercado de criptoativos sugerem que parte dos R$ 800 milhões desviados de contas da C&M Software seguiram o caminho que valores roubados em casos semelhantes costumam percorrer: a conversão para criptoativos. A estratégia é comum pelo caráter anônimo que as carteiras privadas de cripto proporcionam.

O caso C&M foi notado nos primeiros minutos do dia 30 de junho. A SmartPay, dona da carteira de autocustódia Truther, percebeu movimentações anormais na madrugada. De acordo com o CEO Rocelo Lopes, contas tentaram fazer transações com altos valores de real para USDT. A empresa elevou os filtros para validação de operações e conseguiu bloquear as movimentações.

Na noite de quinta-feira, 3 de julho, a Polícia Civil de São Paulo prendeu um funcionário da C&M apontado como um dos autores do ataque. Ele teria facilitado que outras pessoas “realizassem transferências eletrônicas em massa”, segundo o inquérito, que aponta operações fraudulentas contra a BMP Instituição de Pagamento.

A C&M Software afirmou um dia depois, por meio de nota, que as evidências disponíveis até aquele momento indicavam que o incidente de segurança na empresa decorreu do uso de técnicas de engenharia social para o compartilhamento indevido de credenciais de acesso. “Reforçamos que a CMSW não foi a origem do incidente e permanece plenamente operacional, com todos os seus produtos e serviços funcionando normalmente”, diz a empresa.

O Banco Central também decidiu suspender cautelarmente do sistema Pix três instituições de pagamento (IPs) suspeitas de ter recebido recursos desviados no incidente de segurança que atingiu a C&M Software. A informação foi revelada pelo portal Finsiders Brasil e confirmada pela Broadcast com pessoas que acompanham de perto o tema.

No mercado de cripto, outras movimentações chamaram a atenção. Ao avaliar os livros de ordens de algumas corretoras, é possível notar, por volta de meia-noite do domingo para a segunda-feira, 30, volumes acima do comum para o horário em transações feitas do real para stablecoin tether, moeda digital que representa o mesmo valor que o do dólar e é o terceiro ativo cripto mais usado no mundo, atrás do bitcoin e do ethereum.

Na Binance, a maior plataforma de negociações cripto do mundo e a que tem maiores volumes no Brasil, a negociação do par real tether (USDT) teve volume médio diário de R$ 246,6 milhões entre 1 e 29 de junho. No dia 30, o volume alcançou R$ 684,3 milhões. Na plataforma da corretora, é possível ver que mais de R$ 188 milhões foram negociados entre meia-noite e seis horas – período em que geralmente os negócios com real são muito baixos.

Investidores que operam com arbitragem de criptoativos ouvidos pelo Broadcast apontam que a demanda por USDT na madrugada fez o ativo descolar da cotação do dólar em relação ao real no câmbio tradicional. O prêmio, que geralmente é de 0,8%, estava em 1,8% pela manhã, diz um operador que preferiu o anonimato.

Os negócios de arbitragem buscam lucrar com a diferença de preços de um ativo em diferentes mercados ou plataformas. Os operadores compram o ativo onde ele está mais barato e o vendem onde está mais caro, aproveitando a discrepância de preços.

A força compradora em USDT era clara nas principais plataformas cripto, de acordo com um gestor de fundos que acompanha o mercado. Para quem faz arbitragem, os volumes importam muito, então há preferência pelas maiores plataformas de negociações.

Na exchange Bity, o volume negociado de real USDT na segunda-feira, 30, também saltou. Foi de R$ 15,6 milhões, na média de junho até o dia 29, para R$ 65,8 milhões no dia seguinte. A Bitso registrou R$ 45,4 milhões em volume no dia do ataque, enquanto a média do restante de junho fica em R$ 6,2 milhões. O Mercado Bitcoin viu negociações de R$ 38,5 milhões, ante média de R$ 15,9 milhões no mês.

O diretor de uma exchange afirma que a disparada na negociação foi notada no dia posterior e chamou a atenção por não haver mudança de preço significativa no dólar, nem notícias expressivas. O mercado cripto monitora as negociações nas plataformas através de ferramentas (APIs) das próprias exchanges. Plataformas abertas como TradingView também mostram as cotações e volumes de algumas das empresas.

Com a palavra

A Binance informou em nota que não comenta investigações em andamento. A companhia indica que trabalha em constante colaboração com autoridades internacionais e locais no combate a crimes cibernéticos e financeiros, o que inclui monitoramento preventivo de contas suspeitas e atividades fraudulentas.

O Bitybank diz que não identificou qualquer anormalidade nos fluxos de entrada e saída (cash in e cash out) em sua plataforma. “O aumento no volume de negociações decorreu da maior volatilidade entre os mercados nacional e internacional, especialmente após o leve recuo do dólar no Brasil no dia 30, e da atuação regular de market makers nos pares negociados”, aponta.

A Bitso aponta que, após detectar atividades incomuns, aplicou controles adicionais e restringiu algumas contas. A quantidade de contas e valores não foram informados pela empresa. “Estamos colaborando com as autoridades e permanecemos totalmente comprometidos em proteger nossos usuários e garantir a integridade da plataforma.”

O Mercado Bitcoin diz que não registrou nenhuma movimentação suspeita.

Veja também