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Campos Neto deve se tornar o primeiro ex-presidente do BC, desde Armínio Fraga, a retornar diretamente ao mercado depois de deixar o comando do Banco Central
7 de maio de 2025
Por Matheus Piovesana e Cícero Cotrim
Convidado para integrar a diretoria e o conselho do Nubank, Roberto Campos Neto deve se tornar o primeiro ex-presidente do Banco Central desde Armínio Fraga (1999-2003) a retornar diretamente ao mercado depois de deixar o comando da autoridade monetária. Ele informou à fintech que pretende aceitar um convite para atuar como diretor de Políticas Públicas, vice-chairman e membro do conselho assim que terminar a quarentena pós-BC, em 1º de julho.
Os dois presidentes do BC que antecederam Campos Neto, Alexandre Tombini (2011-2016) e Ilan Goldfajn (2016-2019), tiveram trajetórias diferentes após deixar a autarquia. Ainda em junho de 2016, após o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), Tombini assumiu o cargo de diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 2019, ele migraria para o posto de representante-chefe do Banco de Compensações Internacionais (BIS) para as Américas.
Ilan deixou o posto em fevereiro de 2019, sendo sucedido por Campos Neto. Após cumprir a quarentena, virou presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil. Ele ocupou o cargo até setembro de 2021, quando se tornou diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do FMI. Em novembro de 2022, assumiu o posto de presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que ocupa até hoje.
Também egresso do mercado financeiro, Henrique Meirelles (2003-2011) aceitou um convite para presidir o conselho da Autoridade Olímpica dos Jogos do Rio depois do fim da sua gestão. Em 2012, passou a ser o presidente do conselho consultivo da J&F, e a integrar o conselho da Azul. Em 2016, teve breve passagem pelo comando do Original antes de assumir o Ministério da Fazenda no governo de Michel Temer.
Na sua autobiografia, Meirelles relata ter sido sondado para presidir o Goldman Sachs no Brasil e servir como chairman do seu conselho consultivo internacional, mas diz que não pôde aceitar o convite por causa da demora da Advocacia Geral da União (AGU) para liberá-lo.
Armínio Fraga presidiu o BC de 1999 a 2002, depois de passagens por instituições financeiras como Salomon Brothers e Soros Fund Management. Depois de encerrado o período de quarentena pós-fim da sua gestão na autoridade monetária, criou a gestora Gávea Investimentos, da qual ainda é sócio.
Antecessor de Fraga, Gustavo Franco (1997-1999) trabalhou na academia e no governo – inclusive como diretor da própria autoridade monetária e secretário-adjunto de Política Econômica da Fazenda – antes de assumir a chefia do BC. Após o fim do seu mandato, voltou a dar aulas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e na Universidade de Stanford. No ano 2000, fundou a Rio Bravo Investimentos.
Nos bastidores, a chegada de Campos Neto ao Nubank causou desconforto. Fontes de três bancos ouvidas pelo Broadcast sob anonimato consideram que haveria um potencial conflito de interesse. Estes executivos, dois ligados a grandes bancos e um ligado a uma instituição de porte médio, consideram que o mandato de Campos Neto à frente do BC teria favorecido a fintech em discussões regulatórias.
“Havia muita abertura ao Nubank em pautas no BC, independente da ABBC ou da Febraban [associações que representam o setor]”, diz uma dessas fontes. Outra afirma que houve uma “cruzada” contra bancos tradicionais.
Embora não seja a única fintech de grande porte do País, o Nubank é de longe a maior delas. Por isso, na visão dos bancos, teria sido a mais favorecida pelas mudanças de regulação feitas pelo BC.
Na gestão de Campos Neto, o regulador colocou no ar o Pix, sistema de pagamentos instantâneos que vinha sendo desenhado desde a gestão Ilan. Entre outras funções, o Pix se tornou um vetor de transferência de depósitos para as fintechs, ao facilitar e derrubar a zero o custo para que os clientes levassem dinheiro de uma instituição a outra.
Fontes próximas às fintechs apontam argumentos em contrário, ou seja, de que o BC teria sido mais rigoroso com o Nubank. Também durante o mandato de Campos Neto, foram publicadas duas regras mais duras que, na visão de agentes do mercado, miravam o forte crescimento da fintech, àquela altura já com capital aberto.
A primeira, em março de 2022, foi a que aumentou a exigência de capital para as instituições de pagamento. À época, o Nubank estimou que as regras definitivas eram de 10% a 15% mais duras do que se previa na consulta pública inicial.
Mais tarde naquele mesmo ano, houve a aplicação de um teto para a tarifa de intercâmbio nas transações com cartões pré-pagos, que era uma fonte de receita relevante para a fintech. À época, o Nubank estimou que a mudança teria um impacto de cerca de 2,9% em sua receita total.
É importante ressaltar que não há nenhuma ilegalidade na entrada de Campos Neto no Nubank após o período de quarentena, que se encerra no começo de julho. O ex-presidente do BC sequer aceitou os cargos oficialmente: ele afirmou que está disposto a aceitá-los assim que a quarentena acabar. Só depois disso haverá assinaturas de contrato e demais formalizações, exatamente como determina a regra.
Procurado, o Nubank não se manifestou.
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