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Mercado financeiro pode estar subestimando ameaça do presidente dos EUA ao Fed, dizem analistas
16 de julho de 2025
Por André Marinho
Quase diariamente, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aparece com um novo adjetivo para se referir ao presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell. No arsenal do republicano, variações leves como “atrasado demais” convivem com insultos mais ofensivos: burro, desgraça, idiota, terrível. Mas as palavras têm ecoado com cada vez menos força nos ouvidos de investidores, mais sensíveis a anúncios sobre tarifas ou à própria política monetária do banco central americano.
Mesmo com as movimentações, os índices acionários S&P 500 e Nasdaq renovaram sucessivos recordes na semana passada. O dólar também oscilou sem muita correlação com as declarações de Trump. A possibilidade de Powell encerrar este ano fora da presidência do Fed é vista como improvável. Na bolsa de apostas Kalshi, por exemplo, essa chance ronda a casa dos 20%. Em meados de 2024, antes da volta de Trump à Casa Branca, tal hipótese chegou a bater 50%.
A aposta é a de que o banqueiro central conseguirá cumprir o mandato na presidência do BC americano até o final, previsto para maio do ano que vem. O estrategista George Saravelos, do Deutsche Bank, porém, acendeu o alerta: “Consideramos a remoção do presidente Powell como um dos eventos de risco mais subprecificados nos próximos meses”.
A pressão de Trump pela renúncia de Powell já não se limita ao campo da retórica. Embora o republicano garanta não ter planos de demiti-lo, a Casa Branca abriu uma nova linha de ataque legal contra o chefe da autoridade monetária. Começou com figuras do segundo escalão, que apontaram supostas irregularidades no projeto de reforma da sede do Fed, em Washington D.C.. Segundo eles, a obra está orçada em US$ 2,5 bilhões e prevê itens de luxo como um elevador privativo.
Os argumentos foram subindo ao longo da escada de poder no governo, reproduzidos pelo diretor do Conselho Econômico Nacional, Kevin Hassett, até finalmente chegarem ao próprio presidente. Os aliados de Trump, agora, pressionam por uma investigação formal do Congresso sobre o tema. Powell nega irregularidades.
Em paralelo, as discussões sobre um sucessor no cargo máximo do Fed estão ganhando força. Hasset estaria emergindo como um dos principais favoritos para o posto, de acordo com uma reportagem do Washington Post. Os nomes do secretário do Tesouro, Scott Bessent, e do ex-diretor do Fed Kevin Warsh também já apareceram como cotados na imprensa americana. Michelle Bowman, que recentemente assumiu a liderança da supervisão bancária do Fed, também figura entre os especulados.
Apesar de toda a pressão, Powell se mantém firme na visão de que ainda não é hora de cortar juros. Na reunião do final deste mês, a expectativa ainda é pela manutenção da taxa básica no nível atual (entre 4,25% e 4,50%), conforme sugere a curva futura refletida na plataforma FedWatch, do CME Group.
Para analistas do BBH, Trump parece saber que não pode destituir Powell, mas os ataques reforçam a visão de que o sucessor será alguém alinhado à Casa Branca. “Qualquer erosão da independência da Fed não seria bem recebida pelos mercados, para dizer o óbvio”, afirmam.
Saravelos, do Deutsche Bank, lembra a pressão do ex-presidente Richard Nixon sobre o então presidente do Fed, Arthur Burns, em 1972, para argumentar que a ameaça à autonomia da política monetária não é tão incomum quanto parece. O estrategista vai além e calcula o impacto de uma eventual saída turbulenta de Powell. Nas primeiras 24 horas após o anúncio, o dólar despencaria até 4% e os retornos dos Treasuries saltariam até 40 pontos-base, de acordo com ele.
Para Saravelos, neste cenário, um prêmio de risco estaria permanentemente incorporado ao câmbio e à renda fixa. Ele destaca ainda a posição vulnerável do financiamento externo americano. “Isso aumenta o risco de movimentos de preços muito maiores e mais disruptivos do que os que descrevemos”, adverte.
Na mesma linha, o analista Kit Juckes, do Société Générale, diz que uma substituição brusca no comando do Fed seria vista como uma medida política e, assim, passaria a se sobrepor aos efeitos das tarifas nos mercados – com o dólar como a principal vítima.
Em um relatório intitulado “E se Powell Sair?”, o ING reconhece que a chance de uma destituição ainda é muito baixa. Mas o banco holandês discute consequências de longo prazo negativas para os EUA. Entre as principais delas, a posição do dólar como moeda de reserva global estaria severamente questionada. Haveria fluxos de fuga da divisa americana piores que os observados no “Dia da Libertação”, em abril, avalia.
A instituição acredita que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) ficaria mais inclinado a relaxar a política, mas não assumiria cortar juros automaticamente. “No final, é uma decisão majoritária, e o Comitê provavelmente permanecerá tão dividido quanto sugerem as últimas atas, mas com uma tendência a manter as taxas inalteradas até que a situação esteja livre para cortá-las”, especula.
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