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Para ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é preciso avaliar grau de incerteza de falas de Trump ao longo do tempo
8 de julho de 2025
Por Aline Bronzati, correspondente, Célia Froufe, enviada especial*, e Giordanna Neves
O Brasil pode ser impactado pela mais recente ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de taxar em uma tarifa adicional de 10% qualquer país que se “alinhe às políticas antiamericanas do Brics” e prometeu dar o troco caso seja punido. Para analistas, ainda que seja um risco, é difícil mensurá-lo uma vez que as relações comerciais seguem cobertas de incertezas às vésperas do fim da pausa tarifária de Washington, em 9 de julho.
Trump anunciou no domingo, 6, que pode adotar uma nova tarifa aos países do Brics, atraindo holofotes em paralelo à cúpula do bloco, realizada no Rio de Janeiro, sob a presidência brasileira. O grupo tem como países-membros Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
“Qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics será submetido a uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a essa política”, escreveu Trump, em sua rede Truth Social, sem mencionar o Brasil.
Para o analista do banco americano BMO Capital, Ian Lyngen, do BMO Capital, embora postagens em redes sociais não se traduzam em políticas nacionais imediatas, no caso de Trump, é difícil ignorá-las. Além disso, o fato de o republicano não ter mencionado países específicos ou um cronograma para a adoção da nova tarifa pode tornar o tabuleiro de negociações comerciais ainda mais desafiador, na sua visão.
“O Brasil é certamente um dos países do Brics, não um país que eu diria que se posicionou para estar ideologicamente alinhado com a administração Trump. Então, eu diria que é justo dizer que essa ameaça poderia se aplicar ao Brasil”, diz o co-chefe de títulos soberanos da América Latina da Fitch Ratings, Todd Martinez, em entrevista ao Broadcast.
O Brasil foi taxado em 10% pelas tarifas recíprocas de Trump, anunciadas em 2 de abril, que ficou conhecido como o ‘Dia da Libertação’, figurando entre os países menos afetados pelas novas políticas comerciais de Washington. Mas, na sequência, o republicano anunciou uma pausa de 90 dias para negociações, que termina no próximo dia 9, mantendo o patamar de 10% para todos os países, o que igualou o Brasil aos demais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que o Brasil é soberano e que também pode taxar os EUA. “Se o Trump pode taxar, nós podemos taxar também”, disse o brasileiro, durante a cúpula do Brics.
Na imprensa americana, circulam rumores de que o governo Trump não pretende impor imediatamente uma nova tarifa de 10% contra os membros do Brics. No entanto, tal como deixou claro em sua publicação, o republicano pretende cumprir a ameaça aos países que adotarem medidas consideradas antiamericanas.
A secretária de Comunicação e porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Trump monitorou a cúpula do Brics de perto. “É por isso que ele mesmo divulgou uma declaração. Ele não percebe que esses países estão se fortalecendo, e, sim, apenas os vê como uma tentativa de minar os interesses dos Estados Unidos. Isso não é aceitável para ele, não importa quão forte ou fraco um país seja”, afirmou.
O tema tarifas não foi debatido na reunião do bloco, conforme Lula. “Ninguém tocou nesse assunto, é como se não tivesse ninguém falado, não demos nenhuma importância para isso”, afirmou.
Para Martinez, da Fitch, ainda há muitas incertezas em torno das políticas comerciais que os EUA devem adotar após o fim da trégua tarifária. “Não temos muita clareza sobre essas ameaças que continuam surgindo e desaparecendo. Há muita incerteza em torno de tudo isso”, conclui.
Os líderes que compareceram ao Brics, no Rio, já estavam praticamente se despedindo da cidade quando Trump, voltou a chamar a atenção para as tarifas comerciais direcionadas ao bloco. Participantes de várias delegações afirmam que o assunto não foi tema tratado nas plenárias nem pelos corredores.
Formalmente, o bloco não mencionou o presidente norte-americano em suas comunicações oficiais e tampouco citou os Estados Unidos nas declarações. Após a reação de Trump ao evento no Brasil, a avaliação é a de que foi apropriada a linguagem escolhida para tratar da tarifação comercial: sóbria e firme, mas ao mesmo tempo serena.
“Expressamos sérias preocupações com o aumento de medidas tarifárias e não tarifárias unilaterais que distorcem o comércio e são inconsistentes com as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, trouxe um trecho do parágrafo 13 da declaração dos líderes, que abordou o tema.
O agrupamento criticou de forma indireta as medidas unilaterais dos Estados Unidos e, ao mencionar a OMC – que também precisa ser reformada, conforme o Brics – deixa claro que, sem o princípio básico de um tribunal de apelação, o sistema não funciona. A Organização está há quase 10 anos sem a ferramenta e tem tido caráter apenas figurativo no cenário comercial global. A atual diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, participou de algumas reuniões do grupo no Rio.
Ontem, Trump assinou uma ordem que estendeu o prazo para a implementação das tarifas “recíprocas” de 9 de julho para 1.° de agosto, depois de ameaçar o Brics. Um pouco antes, ampliou a ofensiva comercial e impôs tarifas de até 25% a 36% a países como Tailândia e Camboja (36%), Sérvia e Bangladesh (35%), Indonésia (32%), Bósnia (30%) e Tunísia (25%). Com isso, o americano anunciou novas tarifas para 14 países, como já havia antecipado a Casa Branca.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, avaliou que existe um grau de incerteza nas declarações do presidente dos Estados Unidos sobre elevação de tarifas que precisa ser avaliado ao longo do tempo. Ele reforçou que o Brasil está focado em promover um trabalho técnico com o governo norte-americano.
“Há um grau de incerteza nas falas, que precisam ser avaliadas com o tempo. Os prazos estão sendo prorrogados, depois tem muitas idas e vindas. Nós temos que aguardar. Existe uma equipe do presidente Lula sentada à mesa com o governo americano tratando do nosso acordo bilateral. Estamos focados no trabalho técnico que está sendo feito por eles. Porque, se nós formos levar em consideração o que está sendo dito, nós vamos nos perder num discurso que pode não conduzir ao melhor resultado para os dois países”, disse Haddad.
O ministro repetiu que a América do Sul é deficitária em relação aos Estados Unidos e reforçou que o Brasil não tem relação só com o Brics, mas com o mundo inteiro. “Nós não podemos, pelo tamanho da economia brasileira, prescindir dessas parcerias. Nós não podemos nos tornar apenas um bloco em comum. Nós temos relações com todos os blocos econômicos do planeta e assim vai continuar”, emendou.
*ao Rio de Janeiro
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