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Méliuz investe em bitcoin e ações têm reação positiva

Empresa é maior detentora do criptoativo na América Latina e planeja comprar mais

6 de julho de 2025

Por Aramis Merki II

Cansado de esperar um reconhecimento do mercado sobre o potencial da sua empresa, o fundador do Méliuz, Israel Salmen, resolveu dar um dos passos mais ousados já vistos entre empresas listadas na B3: mudou radicalmente a direção do modelo de negócios e transformou a companhia de benefícios (cashback) numa compradora de bitcoins. Hoje, o Méliuz é o maior detentor do criptoativo da América Latina entre empresas, ultrapassando o Mercado Livre, e deve vir ao mercado novamente para mais aquisições da moeda digital.

O que aparenta ser uma estratégia altamente especulativa e arriscada, inspirada em exemplos do exterior, vem dando certo. Desde a primeira grande compra de criptoativos, em março, o papel da empresa valorizou 102,28% (atualizar) até o dia 01 de julho. A cotação máxima no período chegou perto dos R$ 11, superando o valor da ação na estreia na Bolsa (R$ 10), em 2020, patamar que foi perdido em abril de 2022 e nunca mais havia sido retomado. Enquanto isso, de março para cá, o bitcoin propriamente acumula uma alta de cerca de 15%.

Para os analistas do BTG, o modelo com bitcoin na tesouraria “provou ser uma maneira bem-sucedida para o Méliuz reinventar sua história de ações”. O papel da companhia sofria nos últimos anos apesar da melhora operacional obtida com o negócio de cashback. As ações operavam abaixo de R$ 4 até o início deste ano, distante do nível do IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).

Um passo atrás

Para entender por que empresas como o Méliuz deixam suas operações de lado para focar na compra de bitcoin como principal negócio é preciso dar um passo atrás. O objetivo é oferecer aos investidores um caminho de exposição ao critpoativo que pode dar um ganho a mais em relação à própria valorização do bitcoin. Isso porque as companhias podem usar a capacidade de levantar recursos no mercado para adquirir ainda mais da moeda digital, o que na prática faz com o investidor que tem a ação passe a ter maior exposição no criptoativo e possa colher um retorno maior.

O risco é que a ação fica diretamente correlacionada a um ativo de grande volatilidade.

A expectativa, portanto, é que a companhia encontre formas de se alavancar para comprar mais bitcoins. No caso do Méliuz, a compra mais recente, de US$ 28,61 milhões, se deu como fruto de uma oferta de ações de R$ 180 milhões feita em junho. Os analistas do BTG estimam que novas captações devam acontecer com o mesmo objetivo e esperam uma transação de R$ 250 milhões para 2026.

Fonte: Broadcast

Nova fase

A companhia agora tem a estratégia de compra de bitcoins escrita no seu objeto social. Passará a usar sua geração de caixa e estrutura corporativa para ampliar a exposição ao ativo cripto.

A intenção é chamar a atenção do mercado para os papéis, afirma Diego Kolling, diretor da estratégia bitcoin do Méliuz. “Nosso fundador estudou o tema e encontrou nessa forma um jeito de reinjetar atenção ao papel.”

A mudança também está enraizada na perspectiva de que o bitcoin é o único ativo que de fato serve de proteção à inflação, na visão da gestão do Méliuz. Isso porque a moeda digital tem um estoque limitado desde sua criação: serão 21 milhões de bitcoins colocados no mundo até o ano de 2140. Já as moedas fiduciárias estão submetidas às decisões dos países de quando imprimir mais dinheiro ou não.

Hoje o Méliuz tem um múltiplo de aproximadamente 2,16 na proporção entre o seu valor de mercado (market cap) e o valor dos bitcoins que têm em custódia. A companhia vale R$ 787,75 milhões e tem 595,67 bitcoins (aproximadamente R$ 343,6 milhões, na cotação desta terça-feira, 1).

Segundo Kolling, o objetivo principal das emissões é aumentar continuamente o número de bitcoins por ação. “As operações de tesouraria nos permitem aumentar a quantidade de bitcoins por ação. Como nossas iniciativas geram mais bitcoin por ação ao longo do tempo, o mercado entende que é justificável precificar nossa ação acima do que temos no ativo”, afirmou ao Broadcast.

No exterior

O modelo de se posicionar como empresa que utiliza o bitcoin como estratégia de tesouraria foi criado pelo empresário americano Michael Sailor e aplicado na Strategy, uma empresa de tecnologia especializada em ferramentas de business intelligence que fez a transformação e atualmente tem mais de US$ 62 bilhões em bitcoin (2,5% da oferta global do criptoativo). A Strategy vale mais de US$ 100 bilhões na Bolsa. Outras 70 companhias pelo mundo já replicaram a estratégia, do Japão à França.

Marcio Loures Penna, diretor de relação com investidores (RI) do Méliuz, destaca que explicar aos investidores institucionais brasileiros os planos para se tornar uma companhia focada em bitcoin foi desafiador, devido ao pouco conhecimento existente sobre a tese.

“Pouquíssimos fundos brasileiros conheciam bem a tese. Fizemos reuniões com alguns fundos, e, na semana seguinte, eles quiseram se encontrar novamente para entender melhor.” Ao final da oferta, a alocação ficou em 35% para investidores internacionais.

Histórico

O Méliluz surfou na onda digital nos anos agudos da pandemia, em que o comportamento online acelerou significativamente. Kolling explica que desde 2022, a empresa passou por reajustes, focou novamente no negócio de cashback e voltou a crescer. “Mesmo assim a ação não voltou aos antigos patamares. O mercado não precificou as características positivas do negócio e os papéis valiam menos do que a empresa tinha em caixa em dezembro de 2024.”

O fundador Israel Salmen, um entusiasta de criptoativos, passou então o comando da empresa para Gabriel Loures Araújo e se dedicou a pensar em como atrair atenção do mercado. Chegou no modelo criado por Michael Sailor e, em 6 de março, o Méliuz fez sua primeira compra de bitcoin.

A referência externa é positiva. As ações da Strategy subiram cerca de 26 vezes desde a adoção do formato, contra valorização de 15 vezes do bitcoin). A japonesa MetaPlanet e a francesa Blockchain Group adotaram o modelo no início de 2024 e viram suas ações subirem 120 vezes e 50 vezes, respectivamente, desde janeiro de 2024 (contra um crescimento de 2,4 vezes do bitcoin). O Méliuz agora é o representante da América Latina no segmento.

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