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Em reuniões do FMI, alerta amarelo sobre risco de crédito privado acende de Wall Street a Faria Lima
22 de outubro de 2025
Por Aline Bronzati, enviada especial a Washington
A citação sobre baratas feita pelo presidente do JPMorgan, Jamie Dimon, ecoou nas reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial. Investidores demonstraram preocupação com o risco de crédito privado de Wall Street a Faria Lima durante encontros organizados por bancos em um momento de dúvidas em torno do potencial de uma desvalorização maior do dólar, ainda que as premissas continuem presentes no horizonte de curto prazo.
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou que há preocupação com o mercado de crédito e que o momento pede vigilância. Mas, para que as baratas de Dimon se tornem um problema mais dramático no sistema depende de duas questões: o desempenho da economia real e a magnitude do impacto nas instituições não-bancárias, conhecidas como shadow banks, que estão em situação difícil e para as quais o Fundo tem cobrado mais supervisão. “Estamos muito atentos aos desenvolvimentos. Até agora, não há muitas baratas”, disse Georgieva.
Nos EUA, o alerta veio do setor automotivo, em meio aos pedidos de falência do First Brands Group, um fornecedor de autopeças, e da rede de concessionárias Tricolor. A preocupação ganhou força após Zions Bancorp e Western Alliance relatarem supostas fraudes de devedores. As baratas citadas por Dimon também surgiram em outros mercados, como Turquia e Brasil, onde grandes perdas com títulos de dívida de empresas como Ambipar – que acaba de solicitar recuperação judicial -, Braskem e Raízen chamaram a atenção do mercado, dentro e fora do País.
O tema foi alvo de questionamentos de investidores estrangeiros durante os disputados eventos organizados por bancos às margens das reuniões anuais do FMI. “Foi um ponto que despertou muito interesse dos investidores, pelo menos de entender o que está acontecendo. Com juros mais altos do que no passado, aumentam as chances do surgirem não-linearidades”, diz Pedro Schneider, economista do Itaú Unibanco em entrevista à Broadcast.
Na sua visão, ao menos por ora, parece ser uma coisa mais pontual em alguns créditos, e não há risco de contágio. O economista também não vê risco sistêmico no sistema brasileiro. Já nos EUA, se mais casos começarem a surgir, o impacto pode ser de um dólar mais fraco, o que penaliza o crescimento, mas não tem potencial de levar a maior economia do mundo à recessão, conforme ele.
Durante as reuniões do FMI, investidores também transpareceram um sentimento mais otimista com o dólar à frente, em um sinal de que o piso de desvalorização da moeda americana pode ter sido alcançado. “Em conversas com alguns investidores, eles se mostram mais otimistas com o rumo que os EUA terão pela frente”, afirma à Broadcast Roque Montero Perez, estrategista de câmbio e renda fixa do UBS para a América Latina.
De acordo com Rafael de La Fuente, economista-chefe do UBS para a América Latina, essa é uma importante implicação para os mercados emergentes, que vinham surfando na carona de um dólar mais fraco para atrair capital estrangeiro. “Quanto melhor os EUA forem, mais esse trading de diversificação desaparece”, diz.
Estudo do FMI publicado às margens das reuniões avalia que os países emergentes têm se beneficiado de maior apetite estrangeiro como resultado de uma combinação de boas práticas monetárias e fiscais temperada com uma pitada de sorte. O organismo recomenda, porém, que o botão de alerta continue acionado diante de um ambiente de juros altos, tensões geopolíticas e deterioração do espaço fiscal em várias economias.
A chefe de Pesquisa Econômica para a América Latina e economista chefe para Brasil no JPMorgan, Cassiana Fernandez, afirma que cerca de 65% do movimento de apreciação do real foi reflexo do movimento global, mas uma parcela de 35% é idiossincrática ao Brasil. “Não podemos diminuir a importância da postura conservadora do Banco Central (BC) para a performance da moeda brasileira”, afirmou Fernandez, em entrevista à Broadcast.
O FMI também traçou um cenário mais otimista quanto ao crescimento, voltando a melhorar sua projeção após um impacto menor que o esperado das tarifas do presidente Donald Trump, e que causaram uma onda de revisões para baixo nas reuniões de abril. Mas o fundo também se mostrou menos pessimista com a situação das contas públicas brasileiras, mesmo após a recente derrota do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no campo fiscal.
Questionado pela Broadcast, o diretor do Hemisfério Ocidental do FMI, Rodrigo Valdés, disse que fatos que ocorrem muito próximo das reuniões do Fundo não são considerados nas projeções. Mas, apesar disso, o organismo reconhece as tentativas do governo Lula de encontrar alternativas para atenuar o impacto fiscal da derrubada da medida provisória que elevava tributos em alternativa ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
“Temos confiança de que o governo pode encontrar maneiras de ajustar gastos e receitas de forma que os planos em termos fiscais possam ser retomados”, afirmou Valdés. Aliás, esse foi o motivo que impediu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comparecer novamente nas reuniões anuais do FMI. Nos encontros de abril, o chefe da equipe econômica também não esteve presente.
As novas projeções no Fundo reforçaram a postura estrangeira mais condescendente com o Brasil, ao contrário dos investidores locais, que costumam ser mais céticos. Fernandez, do JPMorgan, diz que enquanto os locais olham para o filme, o estrangeiro avalia a foto e a compara com outros países do mundo, que também enfrentam desafios sob a ótica fiscal.
“O problema fiscal do Brasil é tão grande que o próximo governo vai ter que lidar. Não é uma questão ideológica. Quem quer que seja eleito vai ter que lidar com o problema fiscal gigantesco”, diz o estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, ao acompanhar in loco as reuniões do FMI.
Outro tema de destaque nas reuniões anuais, bem como no tête-à-tête dos bancos com investidores, foi o potencial da inteligência artificial (IA). Schneider, do Itaú, diz que os debates se concentraram no choque de confiança e nos investimentos em IA, capazes de impulsionar o crescimento no curto prazo. Os investidores estão menos preocupados com o risco de bolha e mantêm uma visão muito construtiva dos impactos da IA, segundo Fernandez, do JPMorgan.
“Se nos últimos encontros uma discussão clara emergia, como o excepcionalismo americano ou os efeitos da política comercial dos EUA, dessa vez o tema principal foi Inteligência Artificial, mais do que temas puramente econômicos”, diz Myriã Bast, economista do Bradesco. Segundo ela, o otimismo evidente com a IA deixou a questão da dívida global e até dos EUA, em meio ao segundo shutdown mais longo de sua história, em segundo plano.
Já os eventos que os bancos realizam às margens das reuniões anuais do FMI ficaram ainda mais restritos. O JPMorgan reduziu sua tradicional conferência para privilegiar os clientes que disputavam cadeiras nesses encontros. Tanto o número de dias quanto o de participantes diminuiu. Já a XP optou por não realizar seu evento desta vez. O motivo foi ajuste fiscal, diz um interlocutor, na condição de anonimato. Mas a XP pretende retomar o evento nas reuniões de Primavera, em abril de 2026.
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