Agronegócios
03/12/2018 10:31

Perspectiva: política comercial dos Estados Unidos deve direcionar mercado de grãos


São Paulo, 03/12/2018 - Investidores dos mercados futuros de soja, milho e trigo iniciam a semana tendo como norte importantes desdobramentos da política comercial dos Estados Unidos. Na última sexta-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente do México, Henrique Peña Nieto, assinaram o novo acordo comercial entre os três países, o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA), que substituiu o antigo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e deve ter efeitos principalmente sobre os mercados de milho e trigo. A assinatura ocorreu em Buenos Aires, durante o encontro dos líderes do G-20.

Os futuros de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) devem refletir o resultado do encontro entre Trump e o presidente da China, Xi Jinping, no último sábado em Buenos Aires. Os dois líderes deveriam se reunir em um jantar na capital argentina após a cúpula do G-20. Na semana passada, o tom do mercado foi otimista, embora ainda houvesse muitas incertezas quanto a um acordo comercial entre os dois países. O vencimento janeiro da oleaginosa subiu 7,50 cents (0,85%) na sessão anterior e terminou em US$ 8,9475 por bushel. Na semana, o contrato acumulou ganho de 1,6%. "Eu posso citar pelo menos cinco cenários diferentes sobre o que poderia acontecer, cada um com uma probabilidade diferente, e cada um com diferentes implicações de preço para os grãos", disse na sexta-feira Charlie Sernatinger, da ED&F Man Capital Markets.

O mercado de soja em particular via o encontro como o mais importante do ano porque poderia sinalizar o fim da disputa comercial que afetou as exportações dos EUA e prejudicou seriamente produtores do país. No fim de agosto, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) anunciou uma ajuda de US$ 4,7 bilhões a agricultores prejudicados por disputas comerciais. A maior fatia, de US$ 3,6 bilhões, foi destinada a produtores de soja.

No caso do milho , os futuros fecharam em alta na sexta-feira em Chicago após a assinatura do USMCA, que pode resultar em vendas maiores de grãos dos EUA para os outros dois países. O vencimento março do grão subiu 4,50 cents (1,21%), para US$ 3,7775 por bushel. "O acordo é maravilhoso para nossos agricultores", disse Trump. No ano passado, os EUA exportaram US$ 3,2 bilhões em milho e produtos de milho para o México e o Canadá, segundo a Associação Nacional dos Produtores de Milho. O México, um dos maiores mercados estrangeiros para as exportações agrícolas dos EUA, diminuiu suas compras após o início da disputa comercial entre os dois países, mas voltou a importar milho norte-americano depois do anúncio de um acordo em agosto. Os ganhos foram limitados pela queda do petróleo, que diminui a competitividade relativa do etanol. Nos EUA, o biocombustível é feito principalmente com milho.

Quanto ao trigo, os futuros negociados na CBOT também fecharam em alta na sexta-feira, igualmente impulsionados pela assinatura USMCA. No começo de outubro, quando o novo acordo foi anunciado, o secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, disse que o Canadá iria rever seu sistema de classificação de trigo, que ele chamou de discriminatório. Produtores dos EUA se queixavam de que o trigo norte-americano recebia automaticamente a classificação mais baixa no Canadá simplesmente pelo fato de vir de outro país. Na CBOT, o vencimento março do trigo avançou 8,00 cents (1,58%) e terminou em US$ 5,1575 por bushel. Em Kansas City, igual vencimento do trigo duro vermelho de inverno subiu 7,75 cents (1,57%), para US$ 5,0025 por bushel.

Café: contratos caem 3% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram desvalorização de 3% (340 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento março de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (30), a 107,55 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 115,15 cents (quinta, dia 29) e mínima de 107,25 cents (sexta, dia 30).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que o pano de fundo nos fundamentos para ajudar os operadores a pressionarem as cotações pode ter sido os números divulgados pela Organização Internacional do Café (OIC) para a safra mundial de café 2017/18, mais os bons números das exportações brasileiras de café em outubro e novembro. Além disso, as boas chuvas sobre os cafezais brasileiros estão desviando a atenção do mercado internacional para o fato de que no próximo ano teremos uma safra de ciclo baixo, menor do que a atual.

Segundo o relatório da OIC sobre o mercado de café, a produção mundial de café no ano-safra 2017/18 foi estimada em 163,5l milhões de sacas de 60 kg, volume que representa um acréscimo de 4,8% em relação ao mesmo período anterior. Desse volume, a produção global de café arábica atingiu 101,23 milhões de sacas e café robusta 62,28 milhões de sacas, números que representam crescimento de 1,7% e 10,5%, respectivamente, se comparados com o ano-safra anterior.

Conforme Carvalhaes, os números indica que, na prática, no ano-safra 2017/18 a produção mundial foi equilibrada com o consumo mundial. "Com consumo mundial em alta e seguidos problemas climáticos ao redor do mundo, esses números não trazem muito conforto e segurança ao mercado", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve acompanhar petróleo e dólar
Os contratos futuros de açúcar demerara iniciam o mês de dezembro de olho no comportamento do petróleo e do dólar, que tem direcionado as cotações do produto. Em novembro, o primeiro vencimento, março/19, registrou desvalorização de cerca de 3,5%. Nos últimos 12 meses, a queda é de 19%.

Na sexta-feira, os contratos trabalharam em baixa na maior parte da sessão. Março/19 encerrou com perda de 3 pontos, a 12,84 centavos de dólar por libra-peso. A máxima foi de 13,03 cents (mais 16 pontos). A mínima foi de 12,62 cents (menos 25 pontos).

O fraco desempenho do petróleo na semana passada prejudicou o açúcar. O petróleo em baixa aproxima a paridade da gasolina com o etanol hidratado no mercado brasileiro, diminuindo na bomba a competitividade do biocombustível. Segundo analistas, o combustível fóssil perdeu força depois que autoridades da Rússia sinalizaram que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados estão confortáveis com os atuais níveis dos preços da commodity, indicando ser dispensável uma redução na produção. A Opep deve realizar novo encontro para discutir oferta e demanda na próxima quinta-feira (6).

Os fundos de investimento e especuladores aumentaram o saldo líquido vendido em açúcar em Nova York, na semana encerrada em 27 de novembro. Isso é o que mostrou relatório da Comissão de Comércio de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês), com posicionamento de traders, que saiu na sexta. Esses participantes saíram de saldo líquido vendido de 22.257 lotes no dia 20 para 37.478 lotes no dia 27, considerando futuros e opções.

(Clarice Couto e Tomas Okuda - clarice.couto@estadao.com e tomas.okuda@estadao.com)
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