Agronegócios
13/05/2019 10:10

Perspectiva: CBOT deve acompanhar negociações EUA-China e clima nas lavouras norte-americanas


Por Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto

São Paulo, 13/05/2019 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana atentos aos desdobramentos da guerra comercial. Após o aumento do tom de ambos os lados durante a semana passada, comentários de autoridades norte-americanas e chinesas indicaram uma continuidade das discussões, apesar da elevação de tarifas por parte dos EUA e da expectativa de retaliação da China. Em meio a preocupações com atrasos no plantio em território norte-americano, o mercado também avalia as previsões do tempo no país e aguarda os números de evolução de safra que o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) divulgará após o fechamento da CBOT.

Na sexta-feira, os futuros de soja na CBOT fecharam em queda, e o vencimento julho caiu 3,50 cents (0,43%), para US$ 8,0925/bushel. Na semana, o contrato recuou 3,92%. Em seu relatório mensal de oferta e demanda, o USDA disse que os estoques da oleaginosa nos EUA no fim da temporada 2018/19 devem somar 995 milhões de bushels (27,08 milhões de toneladas), ante 895 milhões de bushels (24,36 milhões de toneladas) na previsão anterior. Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal esperavam estoque de 925 milhões de bushels (25,18 milhões de toneladas).

Para o analista Matheus Gomes Pereira, da ARC Mercosul, o dado de estoque da safra 2018/19 foi o que mais chamou a atenção para a soja. "Os estoques norte-americanos ainda muito altos refletem a baixa demanda chinesa nos EUA com a guerra comercial e a peste suína africana", disse o analista. Conforme a corretora Labhoro, os números dos USDA de modo geral foram baixistas e "o mercado expressou a continuidade de uma realidade negativa, devido aos altos estoques e ausência de demanda". "O relatório poderia ser considerado duplamente negativo, tendo em vista que os estoques tanto de safra velha como de safra nova aumentaram consideravelmente, além disso, não acreditamos que o USDA alcance suas estimativas em exportação deste ano, o que deverá resultar em um estoque ainda maior para a safra 2019/20", disse a Labhoro. O USDA prevê exportação dos EUA de 1,775 bilhão de bushels (48,31 milhões de toneladas) em 2018/19.

Além disso, segundo a corretora, o USDA foi "bastante conservador" nas projeções de área nos EUA de 84,6 milhões de acres (34,24 milhões de hectares) e produtividade de 49,5 bushels por acre (3,33 toneladas por hectare). Conforme a Labhoro, a área poderá aumentar devido ao atraso do plantio de milho por causa de adversidades climáticas, com uma possível transferência para soja. Para a safra 2019/20, a estimativa de produção dos EUA ficou levemente abaixo da previsão de analistas. O USDA estimou a safra de soja em 4,15 bilhões de bushels (112,96 milhões de toneladas), menor do que os 4,544 bilhões de bushels (123,68 milhões de toneladas) previstos para 2018/19. O mercado esperava 4,187 bilhões de bushels (113,96 milhões de toneladas). Segundo o serviço meteorológico DTN, a previsão para o início desta semana ainda era de clima úmido e frio no Meio-Oeste, mas as temperaturas subiriam e as chuvas diminuiriam a partir da metade da semana.

Os estoques finais da safra 2019/20 dos EUA foram estimados em 970 milhões de bushels (26,40 milhões de toneladas). Analistas projetavam 943 milhões de bushels (25,67 milhões de toneladas). O governo norte-americano também fez ajustes em sua previsão de importação da China, que caiu de 88 para 86 milhões de toneladas. Para 2019/20, as importações chinesas devem totalizar 87 milhões de toneladas, segundo o USDA.

Quanto às negociações comerciais sino-americanas, o vice-primeiro-ministro da China Liu He afirmou no sábado que as discussões com os EUA não foram interrompidas e classificou como "um pequeno contratempo" o fato de um acordo entre os dois países não ter sido firmado na semana passada diante do acirramento das tensões tarifárias sino-americanas. Liu disse estar "cautelosamente otimista" quanto às conversas. Já o presidente dos EUA, Donald Trump, disse no sábado que os chineses deveriam agir agora para garantir um acordo sob o risco de enfrentar condições piores caso as negociações se arrastem até um possível segundo mandato seu, após a eleição presidencial de 2020. No domingo, Trump voltou ao mesmo tema. "A China está sonhando que 'Joe Biden Sonolento', ou qualquer um dos outros, seja eleito em 2020. Eles AMAM tirar vantagem da América", disse o presidente. Mais cedo, Trump já havia defendido no Twitter a sua estratégia de negociação comercial com a China. "Estamos exatamente onde queremos estar com a China. Lembrem-se, eles quebraram o acordo conosco e tentaram renegociar. Levaremos dezenas de bilhões de dólares em tarifas da China."

O presidente dos EUA também voltou indicar no domingo que vai compensar produtores rurais pela ausência chinesa das compras dos EUA, a exemplo do que havia dito na sexta-feira. "Gastaremos (igual ou melhor) o dinheiro que a China pode não mais gastar com os nossos Grandes Produtores Patriotas (Agricultura), o que é um pequeno porcentual do total de tarifas recebidas, e distribuiremos os alimentos a pessoas famintas em nações ao redor do mundo!" A ideia desagradou traders. Joel Karlin, da Western Milling, disse à Dow Jones que produtores estariam "recebendo assistência social em vez de comércio". Para Pereira, o mercado segue acompanhando de perto o impasse entre os dois países. O analista destacou que a relação estoque-uso da soja nos EUA está em 21%, o maior patamar desde 2006. "São números muito altos. Se formos fazer correlação estoque-uso e preço, isso colocaria os preços da soja na faixa de US$ 7,50/bushel." O contrato maio, que está prestes a vencer e sem liquidez, fechou na sexta-feira em US$ 7,97/bushel. Na véspera o mercado havia rompido o suporte de US$ 8/bushel, mas fechado acima desse patamar.

Os futuros de milho terminaram em baixa na sexta-feira na CBOT, após dados de estoque e produção dos EUA terem vindo acima do projetado. O vencimento julho caiu 1,50 cent (0,42%), a US$ 3,5175/bushel. Na semana, a queda chegou a 5,12%. O governo norte-americano aumentou sua projeção de estoques finais dos EUA para 2,095 bilhões de bushels (53,21 milhões de toneladas), ante 2,035 bilhões de bushels (51,59 milhões de toneladas) estimados em abril. Analistas esperavam uma elevação menor, para 2,061 bilhões de bushels (52,35 milhões de toneladas). Já para a safra 2019/20, o USDA previu uma produção norte-americana de 15,030 bilhões de bushels (381,76 milhões de toneladas), a segunda maior da história e acima dos 14,420 bilhões de bushels (366,27 milhões de toneladas) na temporada anterior. O mercado previa uma safra de milho menor, de 14,765 bilhões de bushels (375,03 milhões de toneladas).

O relatório "foi baixista, mas a reação inicial de queda de preços foi atenuada, talvez porque muitas das notícias baixistas em grãos já foram embutidas nos mercados nas últimas semanas", disse Sal Gilbertie, presidente e diretor de investimentos da Teucrium, à Dow Jones. "Traders precisarão de notícias novas para empurrar os preços muito mais para baixo, e os mercados vão querer que qualquer notícia altista seja comprovada, e não apenas comentada", afirmou.

O trigo encerrou em queda na sexta-feira em Chicago, também pressionado pelo relatório do USDA. O governo dos EUA aumentou sua estimativa para estoques domésticos de trigo em 2018/19 de 1,087 bilhão de bushels (29,6 milhões de toneladas) para 1,127 bilhão de bushels (30,68 milhões de toneladas). A previsão de analistas era de 1,100 bilhão de bushels (29,94 milhões de toneladas). Para 2019/20, a estimativa para o estoque norte-americano ficou em 1,141 bilhão de bushels (31,05 milhões de toneladas). Já a produção dos EUA em 2019/20 foi estimada em 1,897 bilhão de bushels (51,63 milhões de toneladas), acima do 1,884 bilhão de bushels (51,28 milhões de toneladas) de 2018/19. Analistas esperavam 1,920 bilhão de bushels (52,26 milhões de toneladas). Na CBOT, o vencimento julho do trigo caiu 4,75 cents (1,11%) e fechou em US$ 4,2475 por bushel. O recuo na semana foi de 3,14%.

Café: contratos sobem 0,2% na semana

Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de cerca de 0,2% (20 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base vencimento julho de 2019. As cotações encerraram na sexta-feira (10), a 90,80 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 92,60 cents (sexta, dia 3) e mínima de 87,60 cents (terça, dia 7).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em boletim semanal que a semana passada não apresentou nenhum fato novo, "apenas o jogo de sobe-e-desce que interessa aos fundos e aos especuladores, sempre atrás de resultados em curto prazo".

Conforme Carvalhaes, o mercado físico brasileiro continuou difícil, com ofertas bem abaixo dos valores pretendidos pelos produtores. "Há boa procura por lotes da safra atual, principalmente para os arábicas de boa qualidade a finos. Os preços impedem um volume maior de negócios. Já acontecem alguns negócios com arábicas da nova safra 2019/2020. O consumo interno, o segundo maior do mundo e o maior cliente dos cafés brasileiros, continua ativo e comprador", comenta Carvalhaes. Segundo a corretora, os preços para os arábicas nesse mercado estão próximos das bases oferecidas para os cafés destinados à exportação.

Carvalhaes salienta, ainda, que o forte calor do último verão e as várias floradas do segundo semestre de 2018 e início de 2019 adiantaram o início dos trabalhos de colheita da nova safra 2019/2020. As chuvas continuam caindo em diversas regiões produtoras, em abril foram 200 milímetros na região de Guaxupé, e a qualidade dos primeiros cafés da nova safra pode ser prejudicada. "Levará ainda algum tempo para termos um panorama mais claro da qualidade média da safra 2019/2020", estima Carvalhaes.

Açúcar: Mercado continua abaixo de 15 cents

Pelo segundo ano seguido, o setor açucareiro terá a semana do sugar dinner, em Nova York, com os futuros do açúcar demerara abaixo dos 15 cents por libra-peso na bolsa norte-americana (ICE Futures US). A observação é do especialista do setor Michael McDougall, da Paragon Global Markets. Esse patamar é considerado o ponto de equilíbrio no mercado, pois dá competitividade aos grandes produtores e exportadores. Mas o excesso de oferta, principalmente de Índia e Tailândia, e o cenário macroeconômico turbulento deprimem os futuros do açúcar.

Na sexta-feira (10), o mercado até ensaiou uma reação. Compras logo após a abertura do pregão levaram o vencimento julho para máxima de 12,15 cents. Fixações pontuais, com o dólar valorizado no Brasil, e realizações puxaram o papel para o campo negativo. No fechamento, 11,72 cents, baixa de 6 pontos, ou 0,51% no dia. O suporte segue em 11,64 cents e a resistência é a máxima do pregão passado, em 12,15 cents.

"O jantar de açúcar deste ano provavelmente não terá muitos rostos sorridentes, exceto, talvez, os dos consumidores", resumiu McDougall. O sugar dinner, na quarta-feira, é precedido pela "Santander ISO Datagro New York Sugar & Etanol Conference 2019", na cidade norte-americana.

Contato: leticia.pakulski@estadao.com; tomas.okuda@estadao.com e gustavo.porto@estadao.com
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