Agronegócios
09/07/2020 11:17

Trigo: indústria espera consumo firme de massa, biscoito e pão industrializado no 2ºsem


Por Isadora Duarte

São Paulo, 08/07/2020 - A alta no consumo de massas, biscoitos, pães e bolos industrializados deve continuar firme no segundo semestre, projeta a indústria. Apesar da flexibilização do isolamento social em grandes cidades e capitais com a reabertura de restaurantes e padarias, fabricantes acreditam que a recessão econômica deve manter a alimentação das famílias dentro de casa. Nesse cenário, a liberação de novas parcelas do auxílio emergencial pelo governo federal deve ser determinante para as vendas do setor, com os consumidores adaptando o orçamento apertado às necessidades básicas.

Para o ano, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) espera um crescimento em média de 3% a 5% no volume vendido da categoria, ante os 3,33 milhões de toneladas comercializadas em 2019. Já o faturamento deve crescer entre 6% a 10% até o fim do ano, na comparação com a receita de R$ 36,7 bilhões registrada no ano passado. "Em um cenário econômico de retração de vários segmentos da indústria e de anos de estabilidade nas vendas, a expectativa de crescer 5% é muito satisfatória", avalia o presidente-executivo da Abimapi, Claudio Zanão.

O resultado anual deve ser impulsionado principalmente pelos números reportados no primeiro semestre deste ano, observa Zanão. No período, as pessoas passaram a fazer o maior número de refeições em casa, em virtude das medidas de distanciamento social para controle da covid-19.

De janeiro a abril, a indústria vendeu 849,2 mil toneladas - volume entre 10% a 15% maior que em igual período de 2019 - e faturou R$ 9,6 bilhões - avanço de 5%. Quanto aos meses de maio e junho, a entidade ainda não tem números consolidados, mas Zanão projeta que as vendas devem ter crescido na mesma proporção do quadrimestre. Produtos de ticket médio menor, ofertados em embalagens grandes e disponibilizados em atacarejos foram os preferidos de vendas do período.

Cesta básica - Embora desacelere o ritmo, a indústria acredita que o consumo continuará aquecido no segundo semestre mesmo com a volta do funcionamento de restaurantes e serviços de alimentação. "O afrouxamento das medidas de distanciamento social não deve trazer impactos negativos ao setor porque a maior parte das atividades continua à distância e as pessoas ainda se sentem inseguras para retornar ao consumo fora do lar", explica Zanão. Além disso, os produtos da categoria são relativamente baratos, pertencentes à cesta básica de alimentação e a população está menos capitalizada, revisando as suas prioridades de consumo, destaca.

A gigante de alimentos M. Dias Branco também espera que a venda de itens básicos continue em alta em todo o País. "Percebemos que a demanda continuou forte após março em todas as regiões, especialmente por massas e itens de preço médio menor, como bolachas maisena, maria e cream cracker", afirma o vice-presidente de Investimentos e Controladoria da companhia, Gustavo Theodozio. A fabricante não revela estimativas nominais, mas viu seu faturamento líquido aumentar 24% no primeiro trimestre deste ano - em parte puxado pelo consumo elevado durante o isolamento social.

Além das massas e biscoitos, segmento em que é líder no mercado nacional com mais de 30% de participação, a companhia observa também incremento acentuado no consumo de farinhas para uso doméstico, enquanto o uso do produto por estabelecimentos de food service recuou. "Imaginamos que as vendas possam continuar firmes no segundo semestre. A pandemia vai deixar alguns legados dentro dos lares com as famílias retomando os hábitos de fazer a maior parte das refeições em casa", projeta Theodozio.

Auxílio - Outro fator que deve ser determinante para o crescimento contínuo das vendas de derivados de trigo é a prorrogação do programa Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda do governo federal, segundo os representantes da indústria. Na semana passada, o governo anunciou que vai conceder mais duas parcelas de R$ 600 para pessoas que foram afetadas pela pandemia da covid-19. "Com isso, o crescimento do setor deve ser, pelo menos, mantido nos meses em que o recurso estiver disponível", projeta Zanão.

Theodozio, da M. Dias, comenta que os reflexos do auxílio no mercado de alimentos são observados imediatamente, logo após o período do pagamento do benefício. Segundo o executivo, a empresa observa crescimento pontual nas vendas na esteira da liberação do auxílio. "Sem dúvidas, o auxílio contribui para o crescimento das vendas do setor", analisa Theodozio.

A Bauducco que também viu crescer a demanda por seus produtos prevê um impulso maior do setor no último trimestre do ano, período das datas festivas. "Apesar do cenário desafiador, acreditamos na manutenção dos resultados das nossas categorias de biscoitos, pães e torradas no segundo semestre, somado a novas oportunidades que enxergamos para o Natal", afirma o diretor de Marketing da companhia, André Britto. Sem revelar números, Britto diz que durante o período de isolamento social a companhia obteve "resultado de vendas alinhado com o setor". "Temos visto boa performance nas categorias em que somos líderes historicamente, como wafers, torradas e cookies", garante o executivo.

A empresa ressalta que, mesmo com a conjuntura incerta, mantém as estratégias de longo prazo, tendo entregue todos os lançamentos previstos para o primeiro semestre de 2020 e com a expectativa de novos produtos para as Festas de fim de ano. "Estamos com a perspectiva de um futuro desafiador, mas cheio de oportunidades, como o Natal por exemplo, nosso principal momento no ano", conclui o executivo.

Contato: isadora.duarte@estadao.com
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