Agronegócios
28/05/2018 10:40

Perspectiva: mercado deve ficar de olho em demanda e efeitos da greve de caminhoneiros


São Paulo, 28/05/2018 - Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) devem começar a semana atentos à demanda pelos grãos norte-americanos e aos efeitos da paralisação de caminhoneiros no Brasil sobre os embarques do País. O clima para o desenvolvimento nos Estados Unidos, além de outras regiões produtoras do mundo, também continua no radar. Nesta segunda-feira, a CBOT permanece fechada em virtude do feriado de Memorial Day nos EUA.

Na sexta-feira, os futuros de soja na CBOT subiram, e o vencimento julho avançou 5,75 cents (0,56%), para US$ 10,4150/bushel. Na semana, a alta foi de 4,31%. Sinais de que importadores chineses estão comprando novamente o grão dos Estados Unidos após uma trégua comercial entre Washington e Pequim deram suporte às cotações na sexta-feira. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) disse que exportadores relataram vendas de 312 mil toneladas de soja para a China para 2018/19. Além disso, foram relatadas vendas de 165 mil toneladas de soja de origem opcional para o país asiático. Contratos de origem opcional permitem que a commodity tenha origem nos EUA ou em outros países exportadores. "É uma sinalização de que a demanda está presente mesmo, não é só indicação de mercado. A gente vê o basis se firmando, alguns outros sinais em termos de precificação, mas tem que ter confirmação de fluxo, reportes oficiais", apontou o analista Stefan Tomkiw, do Société Générale. No relatório semanal de exportação divulgado na quinta-feira, o USDA apontou que cancelamentos superaram as vendas da safra 2017/18. O analista ponderou que nesse período é normal ter menor demanda pela safra "velha" norte-americana em virtude da maior oferta da América do Sul.

Traders continuam monitorando também os impactos da paralisação dos caminhoneiros no Brasil. Na sexta-feira, a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) disse, em comunicado, que já há registro de atrasos em embarques nos portos do Brasil por causa da paralisação dos caminhoneiros. "Em razão dos bloqueios provocados pelos manifestantes nas rodovias do País, os carregamentos continuam impedidos de acessar os portos. Em decorrência deste fato, já há registros de embarques atrasados por falta de carga nos terminais portuários", disse a associação. A Anec reforçou ainda a orientação anterior aos associados de que mantenham os importadores informados sobre a possibilidade de atraso nos embarques programados para os próximos dias.

O secretário executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, disse ao Broadcast Agro que há atrasos em embarques do complexo soja nos portos brasileiros devido à paralisação dos caminhoneiros. Contudo, a associação ainda não tem estimativa de prejuízos provocados pela greve. "Certamente tem atraso. No início tinha estoque no porto, mas o estoque já foi. Agora entra na fase crítica em que não tem estoque para embarcar. Não vai chegar produto lá", disse Trigueirinho. Segundo ele, quando acabar a greve, acontecerá o contrário: "todo mundo vai querer mandar com rapidez para retomar o fluxo normal e atender os clientes". Ele ressaltou que paralisações criam problemas "de todo lado". "Com o atraso, as empresas ficam sujeitas a multa de navios. E isso cria um problema de imagem para o País como fornecedor confiável."

Segundo Tomkiw, do Société Générale, a greve no Brasil ajudou a trazer sustentação para o mercado nos últimos dias. "Mas efetivamente a gente não está vendo deslocamento de demanda para os EUA, pelo menos por ora. Mas lógico que, se essa situação se estender um pouco mais e o estoque disponível nos portos começar a encolher de forma mais expressiva e eventualmente comprometer os compromissos de embarque, pode ser que se comece a ver um deslocamento de demanda", disse o analista. "O que o mercado está vendo é que tem uma demanda por soja norte-americana mas mais focada na safra nova no momento. A guerra comercial deu uma esfriada, tem a expectativa de que possam ser anunciadas novas contratações."

As condições climáticas nos EUA também continuam sendo monitoradas, mas a percepção é de clima favorável para a soja no curto prazo. Contudo, nos mapas mais longos, persiste o risco de temperaturas acima da média durante o verão norte-americano. Com relação à Argentina, existe uma pressão das associações de agricultores contra os rumores de que será interrompida a redução do tributo sobre exportação de soja, destacou Tomkiw. "Existe um receio com alguma alteração nessa taxação."

No caso do milho, os futuros de milho fecharam em alta na sexta-feira na CBOT. De olho no clima, traders ajustaram posições antes do fim de semana prolongado nos Estados Unidos. De acordo com a empresa de meteorologia DTN, a expectativa para os próximos dias é de altas temperaturas e clima seco em áreas centrais e do sul do Meio-Oeste do país, o que seria desfavorável para o milho neste momento. As chances de chuva são maiores no norte do Meio-Oeste, disse a DTN. No Brasil, o clima deve continuar seco em importantes regiões de cultivo. Algumas corretoras estimam que a safrinha 2018 no País vai ser aproximadamente 20% menor que a do ano passado. O vencimento julho ganhou 1,75 cent (0,43%) na sexta-feira, para US$ 4,06 por bushel. Na semana, o ganho foi de 0,87%. A forte queda do petróleo, que diminui a competitividade relativa do etanol, impediu uma alta mais acentuada das cotações. Os ganhos também foram limitados por um impasse nas conversas para a renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta). O México é um dos principais compradores de milho dos EUA.

Quanto ao trigo, os futuros negociados na CBOT fecharam em alta expressiva na sexta-feira, com a expectativa de calor intenso no sul das Grandes Planícies dos EUA. Segundo a empresa de meteorologia DTN, as altas temperaturas vão estressar as lavouras de trigo de inverno. Chuvas esparsas no norte da região devem oferecer pouco alívio para as plantações, disse a DTN. Na CBOT, o trigo para julho subiu 12,75 cents (2,40%) e fechou em US$ 5,43 por bushel na sexta-feira. O ganho na semana foi de 4,78%. As condições de seca em outras áreas produtoras, como o Mar Negro, também deram suporte às cotações.

Café: contratos sobem 1% na semana
Os contratos futuros de café arábica apresentaram valorização de cerca de 1% (alta de 240 pontos) na semana passada na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), base julho de 2018. As cotações encerraram na sexta-feira (25), a 120,40 centavos de dólar por libra-peso. No período, os contratos marcaram máxima de 121,45 cents (terça, dia 22) e mínima de 118 cents (sexta, dia 185).

O Escritório Carvalhaes, tradicional corretora de Santos (SP), destaca em seu boletim semanal que a combinação de chegada da primeira frente fria mais séria sobre os cafezais brasileiros com a escalada da crise política, simbolizada pela paralisação dos caminhoneiros, está deixando os cafeicultores ainda mais resistentes em vender nas bases atuais de preço, consideradas baixas e não representativas do atual quadro da cafeicultura nacional.

Conforme Carvalhaes, os acessos ao Porto de Santos permanecem bloqueados, causando enorme prejuízo à economia brasileira e sérios transtornos à exportação de café. O Porto de Santos é responsável por aproximadamente 85% das exportações brasileiras de café. O mercado físico de café ficou praticamente paralisado na quinta e na sexta-feira passada. Sem uma data para o término do protesto, compradores e vendedores estão adiando o fechamento de novos negócios. "Com o governo à deriva, com uma articulação política desastrosa, a greve dos caminhoneiros cresceu rapidamente e não se enxerga como terminará", diz Carvalhaes.

Com relação ao clima, a primeira frente fria deste outono chegou sobre as regiões produtoras de café do Sudeste brasileiro no fim de semana dos dias 12 e 13, assustando produtores e operadores do mercado. Não prejudicou, entretanto, de modo significativo os cafezais. "Geou em baixadas e alguns cafezais foram chamuscados, com o frio alcançando até o cerrado mineiro", conclui Carvalhaes.

Açúcar: mercado deve continuar em recuperação
O mercado futuro do açúcar fica esvaziado nesta segunda-feira por causa do feriado de Memorial Day nos Estados Unidos, que fechará a Bolsa de Nova York (ICE Futures US). Os negócios são restritos à Bolsa de Londres (ICE Futures Europe) e têm a pressão altista do físico, que alavancou os papéis da commodity na semana passada.

Na sexta-feira, o pregão manteve-se no campo positivo, o vencimento julho encerrou em alta de 8 pontos no fechamento, ou 0,65%, a 12,46 centavos de dólar por libra-peso, valor que é a primeira resistência nas altas recentes. Na semana, a alta foi de 6,9%, após ganhos de 3,9% no período anterior. Em 2018, ainda há um recuo de 17,11%, mas o cenário continua altista, com os fundos mudando as posições.

A recuperação no açúcar é apontada no relatório da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC, na sigla em inglês) com posicionamento de traders na semana encerrada na terça-feira passada (22). O documento mostrou um cenário com fundos reduzindo em 31% as apostas na queda dos preços do açúcar na ICE Futures US. Fundos e especuladores diminuíram a posição líquida vendida de 144.055 de lotes, no dia 15 de maio, para um saldo vendido de 98.896 lotes em 22 de maio.

(Leticia Pakulski, Tomas Okuda e Gustavo Porto - leticia.pakulski@estadao.com, tomas.okuda@estadao.com, gustavo.porto@estadao.com)
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