Política
17/08/2022 20:34

Eleições 2022: Edson Aparecido diz que MDB deve 'dialogar' com Lula ou Bolsonaro após campanha


Por Pedro Venceslau

São Paulo, 17/08/2022 - O ex-secretário da Saúde de São Paulo Edson Aparecido, de 64 anos, foi indicado pelo MDB para disputar o Senado pelo Estado. Ele chegou a ser cotado como vice na chapa do governador Rodrigo Garcia (PSDB), mas seu nome foi preterido na reta final das negociações partidárias. O escolhido de Garcia foi ex-deputado Geninho Zuliani (União Brasil), cujo registro de candidatura foi impugnado pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo nesta terça-feira, 16.

Ao Estadão/Broadcast Político, Aparecido disse que “talvez seja mais fácil” para o MDB dialogar com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas que a legenda não pode deixar de “dialogar com o governo Bolsonaro” após a eleição. “Dá para fazer as duas coisas”, afirmou Aparecido. Nesta entrevista, ele declarou que a aliança entre o MDB e o PSDB, seu antigo partido, deve se estender até as próximas eleições municipais, em 2024, e gerais, em 2026.

Formado em História pela PUC-SP, Aparecido começou a carreira política no movimento estudantil na zona leste de São Paulo, no grêmio de sua escola, na Vila Formosa. O ex-secretário era do PCdoB quando foi diretor do DCE da PUC em 1980. Nesse mesmo ano, Aldo Rebelo (PDT), hoje seu rival na disputa pelo Senado, era presidente da UNE e seu “líder” partidário.

Ligado ao ex-governador Mário Covas, Aparecido foi um dos fundadores do PSDB, em 1988, e comandou a primeira reunião e a primeira Executiva do partido na capital. Foi eleito deputado estadual em 1998 e reeleito em 2002.

Em 2004, perdeu, por um voto, a disputa pela presidência da Assembleia Legislativa para Rodrigo Garcia, então no PFL. Aparecido foi ainda secretário de Desenvolvimento Metropolitano e da Casa Civil do ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), hoje candidato a vice-presidente na chapa de Lula.

A seguir os principais trechos da entrevista:

Estadão/Broadcast Político - O sr. trocou o PSDB pelo MDB para ser candidato a vice, mas acabou na disputa pelo Senado. O seu novo partido foi usado como barriga de aluguel?
Edson Aparecido - Não. Fui 12 anos do MDB. Tive três partidos na vida. Um na clandestinidade, que era o PCdoB, mas que estava no MDB, e depois o PSDB. Temos identidade de conceitos, ideias e programas.

Estadão/Broadcast Político - O sr. começou a carreira política no PCdoB. Considera-se um político de esquerda?
Aparecido - Minha história é de centro-esquerda. Tanto lá atrás, na minha origem, quanto na formação do PSDB. Covas, Fernando Henrique e José Serra tinham um histórico de centro-esquerda. Esse é o meu perfil e a minha visão de mundo.

É um perfil muito diferente do de Rodrigo Garcia, que é de centro-direita e fez carreira no PFL/DEM...
Aparecido - Isso mostra a amplitude da coligação, da candidatura do Rodrigo e da minha. Ele é capaz de ampliar a candidatura para outros setores da sociedade, assim como eu posso ampliar o meu leque de diálogo com setores mais conservadores.

Estadão/Broadcast Político - Garcia adotou como mote de campanha que não é de esquerda, nem de centro, mas “anda para frente”. Não é um discurso meio vazio?
Aparecido - Não é vazio. O que é ser de esquerda? É o que o PT fez? A sorte do PT e do Lula foi ter recebido o País após o processo de estabilidade econômica conduzido pelo Fernando Henrique. Ser direita é o quê? Por exemplo: nos últimos 20 anos o repasse para a Saúde da União foi reduzido brutalmente. Caiu mais de 25%. A Constituinte de 1988 distribuiu responsabilidades, mas não compartilhou recursos para isso. Nesses 20 anos, Bolsonaro e os governos do PT reduziram o repasse para a Saúde.

Estadão/Broadcast Político - O plano original era que o sr. fosse candidato a vice de Rodrigo Garcia, mas o escolhido foi o ex-deputado Geninho Zuliani (União Brasil). O que houve?
Aparecido - O plano original era esse. Na saída do PSDB falei com todas as lideranças do partido. Saí e fui para o MDB porque havia uma ideia que era deixar meu nome à disposição para eu ser o candidato a vice se a coligação decidisse. O União Brasil tinha uma candidatura ao Senado, que era o (José Luiz) Datena, mas ele saiu. Na reta final houve uma composição abrigando os três principais partidos.

Estadão/Broadcast Político - Foi uma surpresa a escolha do Geninho? O sr. esperava ser o candidato a vice?
Aparecido - Não foi uma surpresa. A gente que está há tanto tempo na política sabe que essas coisas são decididas de última hora e que são amadurecidas com o tempo. Se tivéssemos o apoio de outros partidos, como o PSD de Gilberto Kassab ou o PSB do Márcio França, haveria uma reformulação na questão do vice.

Estadão/Broadcast Político - Em 2004, o sr. era o nome apoiado pelo então governador Geraldo Alckmin para presidir a Assembleia, mas perdeu a disputa por um voto para o “aliado” Rodrigo Garcia, então no PFL. Considera que houve uma traição?
Aparecido - Rodrigo fez uma articulação mais competente e acabou atraindo o PT. O jogo do Parlamento não é o mesmo jogo de governo. A oposição apoiou ele, mas isso não significa que Rodrigo tenha sido contra o governo. Foi um processo de disputa.

Estadão/Broadcast Político - Se vencer a eleição para o Senado e Lula voltar à Presidência da República, o sr. seria da base governista ou da oposição? E o MDB?
Aparecido - Primeiro é preciso ver como as forças políticas e os partidos vão se comportar com o resultado da eleição. Qualquer que seja o resultado da eleição, é muito grande a importância da vitória do Rodrigo para o equilíbrio político do País.

Estadão/Broadcast Político - É mais fácil o MDB ter diálogo com um governo Lula ou com um governo Bolsonaro?
Aparecido - Pode acontecer dos dois lados. Talvez seja mais fácil dialogar com Lula, mas não vai faltar oportunidade de dialogar com o governo Bolsonaro. Dá para fazer as duas coisas.

Estadão/Broadcast Político - Em um eventual segundo turno entre Garcia e Fernando Haddad, do PT, o governador deve buscar o eleitor bolsonarista?
Aparecido - Aí a gente vai fazer a comparação da experiência entre eles à frente da administração pública. Haddad saiu da Prefeitura com uma das piores avaliações da história. Haddad não deixou dinheiro. Utilizamos o empréstimo do BID, que eu e Bruno Covas assinamos, para terminar as obras que ele deixou só o esqueleto. Não tinha dinheiro.

Estadão/Broadcast Político - Como secretário da Saúde da capital, o sr. defendeu o isolamento social. Sua adversária Janaina Paschoal (PRTB) faz campanha contra a obrigatoriedade de os funcionários se vacinarem. O que acha disso?
Aparecido - A gente criou na pandemia protocolos para preservar a vida. Todos foram elaborados por equipes técnicas. São Paulo foi o epicentro da pandemia e teve 60% dos óbitos do País. Hoje São Paulo tem 6% dos óbitos do Brasil. A estratégia foi exitosa. Esse debate (da exigência da vacina) é ultrapassado. Tem que manter. Não podemos ter uma pessoa que está atendendo numa repartição pública sem estar protegida pela vacina.

Estadão/Broadcast Político - Garcia havia sinalizado que teria uma mulher na chapa, mas montou uma coligação 100% masculina. Isso não é ruim?
Aparecido - Acho que não. O ideal era que tivéssemos uma presença física feminina, mas fazer isso só para ter uma composição política... O que é preciso é ter compromisso com as políticas públicas que possam avançar na posição da mulher na sociedade. Esse posicionamento eu e Rodrigo temos.

Estadão/Broadcast Político - Haddad prometeu que, se vencer, vai montar um secretariado com 50% de mulheres. O que acha dessa ideia?
Aparecido - É preciso ver a melhor maneira de compor um governo como São Paulo. Rodrigo e Geninho vão fazer isso de maneira competente.

Estadão/Broadcast Político - A escolha de Geninho Zuliani como vice de Garcia foi uma aposta arriscada?
Aparecido - Rodrigo e Geninho representam uma mudança geracional. Geninho está absolutamente preparado.

Estadão/Broadcast Político - O PSDB não tem candidato ao Senado nem a vice em São Paulo. Os tucanos vivem um momento de fragilidade?
Aparecido - O PSDB estará completamente representado caso eu vença a eleição. Tenho uma história no partido.

Estadão/Broadcast Político - Essa aliança entre PSDB e MDB é de longo prazo? Alcançaria as eleições de 2024 e de 2026?
Aparecido - Sim. Estamos tratando de projetos e uma aliança de médio e longo prazos.

Estadão/Broadcast Político - Como vai ser para o sr. e para os tucanos disputar uma campanha no campo oposto ao de Geraldo Alckmin?
Aparecido - A história das pessoas não se apaga. No debate (da Band) quem lembrou de ações e programas positivos do Geraldo foi o Rodrigo e quem criticou o Geraldo foi o Haddad. Foram duas críticas. Uma delas na questão da crise hídrica e outra na segurança. Quem defendeu o legado do Geraldo foi o Rodrigo e quem criticou foi o Haddad. O que se fez de bom não pode ser apagado.

Estadão/Broadcast Político - Então o sr. acha que Garcia defendeu mais o legado de Alckmin do que Haddad?
Aparecido - Sem dúvida. Rodrigo foi honesto com a história. Ele reconheceu programas importantes que o Alckmin fez e o Haddad, que tem o apoio dele, criticou. Aí você vê o radicalismo ideológico, que não leva a história em conta.

Estadão/Broadcast Político - Seu suplente é um empresário pouco conhecido do interior. Esse cargo não é eleito. Isso deveria mudar?
Aparecido - O País precisa discutir um novo pacto federativo. Cabe a discussão de mudanças na legislação eleitoral. O ideal seria que o suplente fosse o segundo mais votado. O meu suplente é uma pessoa preparada e que o presidente do partido conhece.
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