Política
17/08/2022 17:30

Eleições 2022/Exclusivo: TV segue 'rainha', mas será incapaz de mudar cenário, diz publicitário


Por Giordanna Neves

São Paulo, 17/08/2022 - Com o início oficial da campanha eleitoral de 2022, o publicitário e marqueteiro político Paulo Vasconcelos avalia que a televisão continuará sendo "a rainha" e terá importante na disputa à Presidência da República. Mas o meio de comunicação será incapaz de mudar o cenário polarizado entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao Broadcast Político, o especialista avalia que a TV funciona para o candidato que já é "suficientemente conhecido".


Em relação às mídias sociais e plataformas virtuais, Vasconcelos afirma que tanto eleitores de Lula quanto Bolsonaro foram treinados a desqualificar a imprensa, o que cristalizou "dois exércitos nas redes". Para garantir o engajamento virtual, segundo ele, é necessário impulsionar conteúdos.

Para Vasconcelos, o apoio do deputado federal André Janones (Avante-MG) à candidatura de Lula nas redes sociais "está longe de ser transformador". Vasconcelos participou da pré-campanha do senador Fernando Collor, candidato ao governo de Alagoas, das campanhas de Aécio Neves e Henrique Meirelles e, hoje, é marqueteiro da campanha à reeleição do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).

A realização de comícios, distribuição de material gráfico, caminhadas e propagandas na internet começaram ontem. No dia 26, iniciam-se as propagandas eleitorais gratuitas em rádio e TV.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista

Broadcast Político - Com o início oficial da campanha eleitoral, qual será o papel da televisão em 2022? A TV terá mais força do que em 2018?
Paulo Vasconcelos -
A TV teve força em 2018. Bolsonaro, que não tinha nenhum tempo de TV, sofreu a facada. E nesta hora, a TV cobria a recuperação dele de manhã, de tarde e à noite. Portanto, a TV continuou sendo muito importante ao divulgar um atentado e a condição de um candidato que era inimigo das esquerdas. Este ano a TV vai ter uma força diferente. Nem Lula depois de ser preso e do que viveu nem Bolsonaro durante o governo passaram pelo "corredor polonês" da exposição na TV.

Broadcast Político - As redes sociais serão decisivas se o candidato souber "jogar direito"?
Vasconcelos -
A gente vem aprendendo como lidar com as redes sociais. Vários caminhos foram perseguidos e tidos como receita pronta. Já teve candidato que jogou panela de água na cabeça, teve candidato que pulou de asa delta, teve candidato que fez dancinha… Na verdade, nada disso funciona mais hoje. Pode chamar atenção, mas chamar atenção não significa cristalizar um voto, são mundos completamente diferentes. As redes sociais são mais um canal de mídia que, se tiver impulsionamento, funciona. A rede social nos dá a possibilidade de trabalhar com uma técnica moderna que é do micro alvo, por meio da qual consigo ser específico na minha abordagem. TV e rádio têm um alvo mais aberto. Eu diria que a internet é um tiro certeiro, [enquanto] na TV e rádio é um "tiro de cartucheira", de onde várias balas saem e algumas atingem o alvo.

Broadcast Político - Qual tem maior peso? TV ou redes sociais?
Vasconcelos -
A rainha ainda é a TV, porque a gente é um País pobre. TV aberta e rádio são veículos de comunicação que falam com a base da pirâmide, onde temos mais ou menos 72% do eleitorado brasileiro. A TV é um meio para onde vai a inteligência criativa dos marqueteiros. E aí que a coisa aparece.

Broadcast Político - E com o início da campanha da TV, podemos esperar uma mudança no cenário polarizado bem representado nas pesquisas de intenção de voto?
Vasconcelos -
A TV vai convidar as pessoas para participarem da campanha. É a porta de entrada para a campanha. Mas não acho que mude o cenário polarizado das pesquisas. A gente tem uma eleição encapsulada em 35 dias. Se você não for conhecido antes, não será suficientemente conhecido com os 35 dias de TV. Ou seja, o modelo de campanha que a gente tem hoje é um modelo de campanha para quem consegue impulsionar muito no tempo da internet e para quem já tem nível de conhecimento razoável ao entrar na TV. Porque em 35 dias de TV é um tempo muito curto. As campanhas nas TVs eram de 45 dias e esses 10 dias a mais faziam enorme diferença. Quanto mais tempo de exposição tivermos, mais chance de renovação vamos ter. Esse modelo que está aí é para quem é conhecido e famoso.

Broadcast Político - Como avalia o desempenho de Lula e Bolsonaro - os dois nomes que lideram as pesquisas de intenções de voto - nas redes sociais?
Vasconcelos -
Os dois só vão transformar as redes sociais em propaganda se tiverem impulsionamento. Hoje, Bolsonaro fala para a sua bolha, e a bolha é bem fiel, topa compartilhar qualquer tipo de conteúdo. E a bolha do Lula é a mesma coisa. O segredo de quem vai ganhar a eleição é quem conseguir falar para fora da bolha. Portanto, o fato de ter 3 milhões de seguidores, 4 milhões de seguidores, ou 10 milhões de seguidores, não é muita coisa em uma eleição presidencial. É relevante, mas não é muita coisa. Esse é o patamar desses fenômenos tipo [André] Janones, [pré-candidato ao Senado] Cleitinho em Minas, que performam bem em redes sociais, mas não passarão disso. Para passar disso, só com impulsionamento. Ou com a TV chegando, as pessoas prestando atenção no candidato na TV e aderindo às redes dele.

Broadcast Político - Especialistas dizem que as redes sociais são o meio natural dos bolsonaristas. Lula consegue competir com esse núcleo?
Vasconcelos -
Consegue. A imprensa abraçou a Lava Jato. Naquele instante, PT descredibiliza a mídia quando recebia críticas. Em seguida nasce o candidato Bolsonaro, que ao receber críticas também desqualificava a mídia. E fez campanha desqualificando a mídia. Ele senta na cadeira como presidente, e aí sim criticou ainda mais a imprensa. Portanto, a turma do Bolsonaro foi treinada para não prestar atenção na mídia. E o PT fez o primeiro movimento para que as pessoas desqualificassem a mídia em função das suas paixões. Isso cristalizou dois exércitos nas redes sociais.

Broadcast Político - A esquerda ocupou o espaço nas redes sociais como bolsonarismo?
Vasconcelos -
Sim, a esquerda já ocupava. Em 2014, as redes sociais da esquerda foram decisivas com fake news de que Aécio ia acabar com Caixa Econômica Federal, com Bolsa Família…

Broadcast Político - O PT aposta no apoio do deputado André Janones para alavancar o desempenho de Lula nas redes sociais. Pode fazer diferença?
Vasconcelos -
O Janones vai acrescentar apoio, mas imaginar que ele vai dar "cavalo de pau" nas redes do Lula, não. Lula tem um apoio importante, mas a experiência do Janones nas redes sociais [está] longe de ser transformadora no mundo de Lula.

Broadcast Político - A pauta econômica, relacionada à inflação e à fome, será a principal nestas eleições. A pauta democrática, como vimos com a movimentação das cartas em favor da democracia, fará alguma diferença no cenário eleitoral?
Vasconcelos -
O desafio desta eleição é sair da bolha. Fazem diferença esses movimentos, porque a antidemocracia extrapola bolsonaristas e lulistas. E quem for taxado como antidemocrático tende a sofrer mais. É muito provável que sim, se essa cola de antidemocrático ficar no Bolsonaro, e vice versa.

Broadcast Político - Então a campanha do PT deve abraçar esse tema? Até então o objetivo era não inflar a ideia de que há tentativa de golpe diante das investidas de Bolsonaro contra as urnas.
Vasconcelos -
Você deve abraçar toda e qualquer pauta que te ajude. Janones está nessa categoria. Ajuda, soma, mas não resolve. Botar para dentro isso faz diferença. A pauta antidemocrática fala com uma franja de pessoas que têm rejeição ao PT, mas enxerga o Bolsonaro falando coisas que possam incomodar a questão democrática. A fala de ambos faz com que alguns movimentos aconteçam. E vai ganhar a eleição quem conseguir falar fora da bolha.

Broadcast Político - Ciro tem feito um trabalho ativo nas redes sociais. Simone aposta no tempo de TV para crescer nas pesquisas. Essas candidaturas atrapalham quem?
Vasconcelos -
Ajudam a democracia. É prejuízo para a democracia você ter só dois campos.

Broadcast Político - E em relação a Lula ou Bolsonaro?
Vasconcelos -
Atrapalha Lula. Tanto Simone quanto Ciro têm um discurso progressista mais alinhado com Lula.

Contato: giordanna.neves@estadao.com

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