Por Juliana Garçon e Vinicius Neder
Rio, 17/08/2022 - O diretor-presidente do Ibram, Raul Jungmann, que foi ministro da Defesa durante o governo Michel Temer (MDB), afirmou há pouco que os militares são a favor da preservação da Amazônia, mas que a capacidade de atuação das Forças Armadas na fiscalização de ilegalidades na região é limitada.
“O militar é a favor da preservação, sem sombra de dúvida", afirmou Jungmann, durante webinar promovido pelo Ibram em parceria com a Fundação Fernando Henrique Cardoso.
O problema, segundo o ex-ministro, é a extensão territorial da Amazônia - são 17 mil quilômetros de fronteiras, a terceira maior do mundo, como um voo de São Paulo ao Japão, citou Jungmann. "Em toda a fronteira, temos 24 postos especiais, com de 40 a 60 homens, no meio do nada", completou. Por isso, conforme Jungmann, "é absolutamente impossível" ampliar efetivos e fiscalização militar na região, "considerando as dificuldades logísticas”.
Apesar das limitações, o ex-ministro apontou como obstáculo para uma ampliação da atuação das Forças Armadas na Amazônia a falta de coordenação interna, entre os diferentes órgãos federais e estaduais, nas ações de comando e controle, inteligência e tecnologia. Além disso, na visão de Jungmann, falta coordenação externa, com os países vizinhos por cujos territórios também se espalha a região amazônica. Seria necessário haver uma "autoridade sul-americana" para a Amazônia.
Segundo Jungmann, essa coordenação é importante para enfrentar não só crimes ambientais, como garimpo ilegal e extração ilegal de madeira, mas também o tráfico de drogas. O ex-ministro lembrou que alguns países vizinhos do Brasil na região amazônica estão entre os maiores produtores de drogas ilícitas. E que os rios da região, cujos cursos vêm de fora das fronteiras para dentro do País, servem de vias de escoamento.
O presidente do Ibram também alertou para a falta de um plano de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Sem gerar oportunidades para a população local, com atividades sustentáveis, os níveis de pobreza e violência seguirão elevados, e as ações de fiscalização e punição de práticas ilegais não darão conta de reduzir o desmatamento.
"O Brasil não sabe o que fazer com a Amazônia", afirmou Jungmann.
Contato: juliana.garcon@estadao.com; vinicius.neder@estadao.com