Por Cícero Cotrim
São Paulo, 24/02/2022 - O ataque contra a Ucrânia, colocado em prática pela Rússia na madrugada desta quinta-feira, 24, ameaça novas revisões para cima no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022, mas o seu impacto deve depender da extensão do conflito, segundo economistas ouvidos pelo Broadcast.
Entre os principais focos de atenção, estão a magnitude de ajuste de preços do petróleo e de produtos agrícolas com o conflito. Na manhã de hoje, o barril do Brent disparou acima dos US$ 100 e o dólar amplia ganhos da sessão anterior ante outras moedas, com expectativas de reações mais duras por parte do governo ucraniano e seus aliados da Otan.
"Pode haver um impacto com petróleo e agrícolas, mas não dá para quantificar agora. É preciso ver a magnitude do ajuste de preços e a sua persistência", afirma o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. "O viés tende a ser de alta [para a inflação]", alerta.
O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal, também frisa que é cedo para fazer previsões derivadas do conflito na Europa. Mesmo assim, o cenário ainda é preocupante para o País, afirma.
"Tudo vai depender da extensão do conflito, principalmente em termos de duração. O impacto mais óbvio é no petróleo", afirma Leal. "Mas também temos problemas com os alimentos. A Rússia é responsável por 13% da produção mundial de trigo. Além disso, a Bielorrússia tem quase 40% da produção de potássio, que é a mais importante matéria-prima dos fertilizantes."
Leal observa também que o conflito armado na Europa pode levar a uma persistência da aversão ao risco, com impactos sobre a moeda brasileira. "Se essa aversão ao risco perdurar, a lua de mel do mercado com o real pode acabar. Aí, voltamos ao cenário de 2021, com as commodities e o dólar remando na mesma direção", afirma.
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