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Exclusivo: armazenamento pode reduzir em até 16% custos médios do sistema elétrico, estima PSR

14 de outubro de 2025

Por Luciana Collet

O uso de tecnologias de armazenamento de energia elétrica como baterias de íon-lítio e usinas hidrelétricas reversíveis pode reduzir os custos médios do sistema elétrico brasileiro em até 16%. A estimativa é de estudo da consultoria PSR sobre o papel desses sistemas na transição energética brasileira, obtido em primeira mão pela Broadcast.

O número reforça o argumento em defesa da inserção dessas tecnologias, que poderiam contribuir para reduzir os cortes de geração (curtailment) e reforçar a segurança de atendimento no fim do dia, quando as usinas solares param de produzir eletricidade e termelétricas são acionadas para atender a demanda. Atualmente, o governo elabora as diretrizes para a realização do primeiro leilão para contratação de armazenamento, previsto para 2026.

À espera das regras do certame, investidores buscam alternativas para desenvolver o mercado, em nichos específicos, enquanto aguardam a definição de uma regulação que permita uma evolução mais ampla.

“Esse resultado numérico mostra que essas tecnologias de armazenamento conseguem contribuir, aliadas a outras fontes de geração firme, para garantir confiabilidade de suprimento a custos mais interessantes do que num cenário onde só despacha termelétricas”, diz a diretora técnica na PSR Paula Valenzuela, responsável pelo estudo.

De acordo com ela, num primeiro momento, a perspectiva é de inserção de sistemas de baterias. Na sequência, haveria a evolução para a instalação de usinas reversíveis, ou seja, estações de bombeamento de água de um reservatório hidrelétrico inferior para um reservatório mais elevado.

Cálculos

A PSR fez uma simulação que considera como cenário de referência a atual configuração dos recursos de geração disponíveis para atender à demanda nacional. Ele é comparado a três cenários alternativos. O primeiro considera contratações exclusivamente de termelétrica a gás, somando 32 gigawatts (GW), para recompor capacidades cujos contratos vencem nos próximos anos e para o atendimento do crescimento de carga até 2029. No segundo, essa capacidade é adicionada apenas por baterias que conseguem suprir o sistema por quatro horas. No terceiro, são contratadas somente usinas reversíveis que conseguem atender a demanda por até 100 horas.

Na comparação entre os cenários, o custo operativo do atendimento à demanda fica 13% menor com sistemas de baterias e 16% menor com usinas reversíveis em 2029, quando está prevista maior necessidade de flexibilidade energética.

Os números são positivos para as novas tecnologias mesmo levando em conta que na contratação de termelétricas também ofereceria energia adicional para atender a demanda, enquanto esses sistemas proporcionariam apenas flexibilidade operativa, pois armazenam energia gerada em horários em que o custo do megawatt-hora (MWh) é menor, quando potencialmente há cortes de geração, e depois a devolvem para rede em horários de maior demanda.

Viabilidade

A despeito do resultado animador trazido pelo estudo, os cálculos englobam somente o custo operativo – como gastos com combustível e custo ligados ao déficit de energia ou de violações de restrição. Não consideram o valor da implantação e sua viabilidade econômica.

Na avaliação por este critério, Paula diz que o estudo identificou que o retorno do investimento não ocorrerá apenas com a chamada “arbitragem de preços”, ou seja, pela diferença entre os preços da energia na hora de carregar e descarregar a bateria. “Se fôssemos olhar uma bateria de íon lítio com 4 horas de duração de descarga, na média seria necessária uma diferença de preço de R$ 112 por megawatt-hora (MWh), durante os 10 ou 15 anos de vida útil da bateria, algo nunca visto”, afirma.

Diante dessa constatação, o gerente de assuntos regulatórios na PSR, Jairo Terra, defende a necessidade de criar condições para o “empilhamento de receitas”. “Dado que são ativos polivalentes, eles só serão, de fato, atrativos para o investidor quando puderem adquirir receitas de todos os serviços que puderem prover.”

Na prática, os especialistas sugerem a criação de incentivos à tecnologia como leilões dedicados, regulamentação que dê segurança jurídica para investimentos, e isenções tributárias, como a inclusão no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi), que isenta da cobrança de PIS e COFINS sobre a compra de bens e serviços.

Essas propostas também são defendidas por diferentes agentes do setor. Para o diretor-presidente da Volt Robotics, Donato Filho, os atuais altos volumes de curtailment demandam uma rápida introdução dos sistemas que armazenamento e faltou, até agora, “senso de urgência” para a elaboração das regras para a nova tecnologia, que estão sendo discutidas há cerca de cinco anos.

o presidente executivo da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, lembra que o debate regulatório, em curso na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), foi recentemente travado por divergências sobre a tarifa pelo uso da rede a ser cobrada desses sistemas, mas a expectativa é que haja uma definição em breve, em alinhamento com diretrizes do Ministério de Minas e Energia.

Entre os incentivos adicionais, ele cita, além do Reidi, o acesso a emissões de debêntures incentivadas e mudanças no imposto de importação de baterias de lítio.

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