Política
02/10/2022 08:10

Saldo da campanha de Lula mira governabilidade e vai além da viabilidade eleitoral


Por Giordanna Neves

São Paulo, 02/10/2022 - A poucas horas do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais, os olhares estão atentos à real possibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) levar a corrida já neste 2 de outubro. Os movimentos da campanha, desde a escolha de Geraldo Alckmin a vice (PSB), passando pela aliança com 10 partidos, encontros com empresários, apoio de ex-presidenciáveis e de grandes autoridades do País, dão embasamento para as chances de inaugurar uma vitória na primeira rodada.

O discurso de que é preciso unir forças para vencer “o inimigo comum” fortaleceu a candidatura do petista, que foi quem melhor incorporou o principal “movedor” de votos desta campanha: o “antibolsonarismo”. Ou seja: hoje, muitos daqueles que votam em Lula não necessariamente são grandes apoiadores do seu projeto político. Mas votam, principalmente, no nome capaz de derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ao relembrar, no entanto, todos os movimentos feitos nos últimos meses - indo além destes breves 45 dias de campanha oficial -, conclui-se que além de afirmar a viabilidade eleitoral, sempre esteve na mira do petista garantir a governabilidade em um eventual novo governo, como relatou um aliado próximo do ex-presidente à reportagem.

Lula, experiente, sabe que, se eleito, terá uma missão distinta de 2002 e 2006, anos em que levou a corrida à Presidência. Com o crescente protagonismo do Legislativo, a governabilidade será o grande desafio caso seja eleito. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já disse em entrevista que “nenhuma matéria econômica ou estruturante deixará de ter Congresso Nacional como principal fiador”. Os parlamentares não parecem estar abertos a reduzir o poder que conquistaram nos últimos anos.

Mas, a campanha de Lula nunca subestimou a força adquirida pelo Legislativo, especialmente por meio das emendas de relator, que deram origem ao orçamento secreto e garantiram maior poder da Câmara e Senado sobre as contas públicas. Sabe-se que a tendência de composição do Congresso em 2023, inclusive, não será capaz de alterar facilmente a força conquistada nos últimos anos. Isso porque espera-se que a centro-direita e o Centrão saiam fortalecidos das urnas hoje.

Lula faz, no entanto, reiteradas críticas à estruturação do poder hoje, com menor autonomia do Executivo sobre o orçamento público. Ele sabe que governar sob essas condições será tarefa árdua. Mas também sabe que precisará sentar e dialogar. A escolha de Alckmin, por exemplo, foi bem além de uma aliança sobre “unir divergentes". Mirou, inclusive, na capacidade do ex-tucano em negociar com diferentes partidos para compor uma base ampla no Congresso e garantir governabilidade.

As inúmeras conversas com empresários também contribuíram com este objetivo. O setor da infraestrutura, por exemplo, como relatou um aliado à reportagem, é um dos que se queixam do orçamento secreto ao ver os recursos em investimentos serem reduzidos para encher os cofres do mecanismo - que chegará a R$ 19,4 bilhões em 2023.

O amplo apoio da sociedade civil, incluindo artistas, autoridades, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e até ex-adversários filiados a partidos como PSDB, são mais um símbolo para fortalecer a governabilidade. Mais do que levar a corrida, Lula vai precisar do respaldo da população para, assim, garantir a famosa “popularidade dos seis primeiros meses” e formar uma ampla coalizão.

Aliados do ex-presidente apostam ainda nas ações que contestam o orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a inconstitucionalidade das emendas. Por este caminho, Lula evitaria desgaste com o Congresso. Há na mira, ainda, possíveis ações da Polícia Federal (PF) e da Controladoria Geral da União (CGU) para revelar as entranhas desse mecanismo. O consenso é único: governar com RP-9 não é caminho viável.

De qualquer forma, independentemente se vencer as urnas hoje, ou no segundo turno, todos os passos foram focalizados neste combo: vitória e governabilidade. Até porque, como as pesquisas mostram, a rejeição de Lula está na casa dos 40%. Mas foi ele quem incorporou melhor o “antibolsonarismo” e tem grandes chances de sair vitorioso. A ideia é replicar a força para um eventual novo governo.

Contato: giordanna.neves@estadao.com
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