Política
02/10/2022 08:05

Segundo turno em SP replicará agenda nacional independentemente do resultado, dizem cientistas


Por Giordanna Neves e Sofia Aguiar

São Paulo, 02/10/2022 - Com um segundo turno indefinido nas eleições ao governo de São Paulo, os rumos da disputa do maior colégio eleitoral do País, independentemente do resultado neste domingo (2), serão traçados a partir da agenda nacional. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo Broadcast Político.

Caso a disputa no segundo turno seja entre o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), as estratégias de associar as imagens dos candidatos aos padrinhos políticos - Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), respectivamente - serão fortalecidas. Se o cargo for disputado entre Haddad e o atual governador paulista Rodrigo Garcia (PSDB), o tucano irá incorporar os votos bolsonaristas, mas ficará em uma “saia justa” entre declarar apoio explícito ao presidente ou concentrar esforços na pauta regional.

Pesquisa Datafolha divulgada ontem (1º) mostra que o cenário mais provável para a segunda rodada estadual seja entre Haddad e Tarcísio. De acordo com o levantamento, o petista segue na liderança com 39% dos votos válidos, seguido pelo ex-ministro, que tem 31%. Garcia aparece em terceiro, com 23%.

Se os números da pesquisa forem concretizados nas urnas neste domingo, o quadro de polarização nacional será claramente replicado em São Paulo, atendendo aos anseios dos dois líderes nas pesquisas, especialmente de Haddad, que tem mais chances de derrotar Tarcísio em um segundo turno, como mostram os levantamentos.

A tentativa de reproduzir a polarização fez parte, ao longo de toda a campanha, das estratégias do petista e de Tarcísio, uma vez que ambos tentaram se beneficiar das altas intenções de votos de seus padrinhos políticos. “Isso ficou claro, especialmente nos debates, quando tanto Haddad quanto Tarcísio, ao invés de mirarem um ao outro, acabavam centrando a metralhadora de críticas ao Rodrigo Garcia”, disse o professor e cientista político da Universidade Mackenzie Rodrigo Prando.

De acordo com o especialista, no segundo turno, sem o atual governador no páreo, a campanha de Tarcísio vai mirar nas críticas a Haddad como um representante de esquerda contrário à pauta conservadora defendida pelos eleitores. Já o ex-prefeito vai focar no fato do adversário ser alguém que desconhece o Estado de São Paulo, que foi colocado pela família Bolsonaro na disputa e que está associado a um governo federal mal avaliado.

No entanto, diante da "dobradinha" que Haddad tem feito com Tarcísio nos últimos debates, caso Garcia fique de fora, o ex-prefeito de São Paulo pode sair prejudicado na formação de alianças. Nos debates, Haddad tem focado em fazer críticas ao atual governador, discurso que tem sido intensificado com o ex-ministro da Infraestrutura, e acabou por deixar de fora a postura anti bolsonarista, adotada por Lula no debate nacional.

Caso Lula vença já no primeiro turno, segundo Prando, o discurso de alinhamento do Estado de São Paulo à Presidência torna-se ainda mais intenso, fortalecendo Haddad e enfraquecendo a candidatura de Tarcísio.

Haddad e Garcia

Mesmo que o segundo turno seja entre Haddad e Garcia, a nacionalização da disputa estadual permanecerá em jogo. O petista continuará surfando na imagem de Lula para alavancar votos, já que não tem histórico no comando do Executivo paulista e saiu mal avaliado da prefeitura de São Paulo, como aponta o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Marco Antônio Carvalho Teixeira.

“Com Lula ganhando ou indo para o segundo turno, a nacionalização será maior. Lula tem mais prestígio em São Paulo do que Haddad. Haddad tem ainda um eleitorado para avançar que é grande”, disse o especialista.

Apesar desse espaço para crescimento por parte de Haddad, Marco Antônio avalia que dificilmente o petista venceria o atual governador em um segundo turno. “Garcia encarnaria todo antipetismo dos bolsonaristas mais os votos que ele teve”, afirmou. Segundo ele, Garcia ficaria, no entanto, em uma “saia justa” entre apoiar Bolsonaro ou fazer uma campanha restrita à pauta estadual.

“Garcia vai ter que ampliar aliança para se viabilizar. Bolsonaro tem grande eleitorado e, tendo segundo turno nacional, vai ser difícil não querer ter palanque em São Paulo”, disse Marco Antônio, sem descartar um novo “BolsoGarcia”, em repetição à dobradinha “BolsoDoria” de 2018, entre o ex-governador João Doria (PSDB) e o atual presidente. “Se Garcia precisa dos votos dos bolsonaristas, não duvido que vá nascer um ‘BolsoGarcia’”, emendou o especialista.

PSDB

Além do futuro chefe do Executivo paulista, os rumos do PSDB, que comandou o Estado por quase 30 anos, também estão em jogo. Apesar de contar com o histórico extenso do partido em São Paulo e ter ainda a caneta na mão, Garcia não conseguiu ultrapassar Tarcísio nas pesquisas.

Para Marco Antônio, o cenário é reflexo do desgaste do PSDB. “Garcia está pagando preço alto pela herança que Doria deixou. Doria deixou PSDB em frangalhos”, afirmou.

Segundo Prando, uma derrota de Garcia jogaria uma "pá de cal" no PSDB. “Partido que nacionalmente foi implodido nas últimas eleições e pelos últimos movimentos, especialmente excluindo a candidatura de Doria”, disse o especialista.

Contato: giordanna.neves@estadao.com; sofia.aguiar@estadao.com
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