Economia & Mercados
07/01/2022 11:59

Especial: Sem carnaval de rua, cervejarias têm de acionar estratégias para escoar produção


Por Talita Nascimento

São Paulo, 06/01/2022 - Para dar conta da demanda da temporada de verão - que é encerrada com o carnaval - a indústria brasileira de cerveja começa a produzir ainda no meio do inverno. Por isso, o recém-anunciado cancelamento das festas de rua em mais de 10 capitais brasileiras no feriado, incluindo Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, deve mudar a estratégia do setor. No entanto, após dois anos de pandemia, não se pode dizer que as empresas caminhavam sem planos para lidar com essa contingência.

Quando a variante Ômicrom, do coronavírus, foi identificada, ao menos boa parte da produção para o carnaval já estava pronta. A volta dessa comemoração, aliás, era listada entre as alavancas de crescimento do setor para o ano de 2022. Ainda assim, o presidente da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil), Paulo Petroni, acredita que o setor já tenha estratégias para lidar com a mudança de cenário.

"Carnaval sempre é uma comemoração, é o encerramento do verão. Os preparativos começam muitos meses antes. No entanto, o setor acompanha a pandemia há praticamente dois anos, então houve aprendizado. Nesses últimos seis meses, as empresas trabalharam com cenários e planos de contingência", afirma Petroni. "A nossa orientação para os associados é apoiar as decisões das autoridades para, em conjunto, superarmos esse momento", afirma.

Ele explica que sem as festas de rua a indústria deve acionar outros mecanismos para desovar a produção. Um exemplo disso pode ser o reforço em canais ligados ao consumo de bebidas em casa, seja em aplicativos de entrega ou supermercados. Petroni não se arrisca a dizer, porém, se essas estratégias devem envolver queda de preço dos produtos. "Depende da estratégia de cada empresa, mas vejo como maior fator de pressão nos preços a alta do dólar", afirma.

Ele lembra que a produção, ainda como efeito da pandemia, tem priorizado embalagens descartáveis, o que coincide com a preferência do consumidor na hora de beber em casa. "(Com o cancelamento das festas) pode haver algum desbalanceamento com sobras de embalagens retornáveis (mais rentáveis para a indústria e usadas em bares e restaurantes)", diz Petroni. Ele não espera, contudo, um desabastecimento de das embalagens descartáveis. "Os últimos três meses foram aquém do esperado, em virtude da falta de renda disponível da população. Os estoques estão recheados. Uma eventual mudança no mix de embalagens não deve gerar ruptura", afirma.

Gigante do setor, a Ambev havia citado o carnaval como uma das principais oportunidades do setor no novo ano. Na divulgação de resultados do terceiro trimestre da companhia, o diretor financeiro Lucas Lira pontuou que, em 2022, a Ambev teria como pontos de atenção a renda disponível da população que tem sido corroída pela alta inflacionária, bem como todo o ambiente macroeconômico. "Por outro lado, a volta de encontros presenciais, o carnaval e a Copa do Mundo são oportunidades em 2022", afirmou.

Questionada sobre como a companhia deve adaptar sua estratégia para enfrentar o cancelamento dos eventos carnavalescos, a Ambev afirmou em nota: "somos apaixonados por carnaval, mas a saúde das pessoas deve vir sempre em primeiro lugar. Nesse momento, é crucial seguir as recomendações das autoridades médicas. Estamos em constante diálogo com parceiros e, em conjunto, avaliando os próximos passos.

Diante do surgimento da nova variante de Covid-19 ao redor do mundo, a empresa afirmou ter entrado "em contato com as prefeituras parceiras e outros grandes realizadores do carnaval para termos clareza sobre o calendário da festividade. Continuamos seguindo e endossando as recomendações médicas e sanitárias e das autoridades locais".

O Grupo Petrópolis, por sua vez, afirmou em nota não patrocinar nenhum carnaval de rua. "No Rio de Janeiro (Liesa - Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro), ainda não falaram em mudanças que possam impactar as vendas do Grupo", escreveu a empresa.

O Grupo Heineken, por sua vez, foi procurado e não se pronunciou até o fechamento desta reportagem.

Contato: talita.ferrari@estadao.com
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