Economia & Mercados
23/11/2021 11:00

Especial: Apesar de inflação global, preço de exportações brasileiras recua após mais de 1 ano


Por Eduardo Laguna

São Paulo, 23/11/2021 - Como não acontece desde o pior momento do comércio internacional na pandemia, o mundo voltou a pagar menos pelos produtos que compra do Brasil. Embora continue acima do patamar de qualquer momento dos seis anos anteriores, o preço das exportações brasileiras recuou nos últimos dois meses.

A última vez que isso aconteceu foi entre março e maio do ano passado, quando a paralisia da economia mundial perante um vírus, então completamente desconhecido, levou à interrupção de boa parte das transações comerciais. Na época, os preços dos produtos brasileiros embarcados ao exterior caíram mais de 12% em apenas três meses.

De lá para cá, foram 15 meses consecutivos escalando, até a trajetória ser interrompida em setembro. A partir de então, o índice do ministério da Economia que acompanha as variações nos preços das exportações brasileiras já acumula queda de 7,2%.

Ainda que diversos gargalos de produção mantenham a inflação em alta no mundo inteiro, o Brasil paga pelo momento de instabilidade da China, seu principal parceiro comercial. A combinação de crise energética com a ameaça de quebradeira no setor imobiliário e o empenho de Pequim em manter o país em certo grau de isolamento, até eliminar por completo os surtos de Covid-19, vêm reduzindo a tração da segunda maior economia do mundo.

Para o bem ou para o mal, o comércio é o principal canal por onde o Brasil é impactado pelo que acontece na China. E quando se tem no minério de ferro o principal item da pauta exportadora, como acontece neste ano, o impacto é amplificado por restrições à produção de aço por conta não só de limitações na geração de energia, mas também pela intenção da China de diminuir a poluição para apresentar um céu azul na Olimpíada de Inverno, que será sediada em Pequim em fevereiro.

Lista de baixas

Com o minério de ferro de volta à cotação mais baixa em um ano e meio, os preços de exportação da indústria extrativa brasileira estão, conforme dados do mês passado, 25,7% abaixo dos valores praticados até julho. Não é o único produto brasileiro que está chegando mais barato em mercados internacionais. Interrompendo 14 meses ininterruptos de alta, os preços de produtos embarcados pela indústria de transformação também recuaram 0,9% na passagem de setembro para outubro.

Artigos de vestuário, alimentos e bebidas, produtos de madeira e metalurgia estão entre os que tiveram redução de preços recente, embora continuem mais caros em relação a um ano atrás.

Segundo exportadores, o comportamento dos preços é explicado mais por particularidades - como variações de mix de produtos e estratégias das empresas de aproveitar o câmbio favorável para ocupar espaços em mercados internacionais com preços mais competitivos - do que propriamente por sinais de inflexão do comércio com o exterior.

"O mercado mundial é um mercado de volatilidade, mas não observamos nada tão marcante que possa ser caracterizado como uma mudança importante de tendência. Pode haver oscilação em um momento ou outro, mas o mundo lá fora segue favorável aos produtos brasileiros", afirma Fernando Pimentel, presidente da Abit, associação que representa a indústria têxtil e de confecções.

Otimismo para 2022

Mesmo que o petróleo passe a ser pressionado, conforme preveem analistas, pela recomposição de estoques e desaceleração da demanda numa economia global que contará com menos estímulos monetários, a perspectiva de produção recorde e a preços mais altos de grãos mantêm os economistas otimistas em relação às exportações do ano que vem.

A expectativa, segundo a mediana das previsões coletadas pelo Banco Central (BC) no mercado, é de embarques de US$ 287,5 bilhões, o que, se confirmada, será uma cifra ainda melhor do que o recorde deste ano, quando as exportações, conforme as expectativas, caminham para US$ 285 bilhões.

Ao mesmo tempo em que a soja pede passagem para recuperar o status de produto mais exportado pelo Brasil, restrições de oferta - como a escassez de semicondutores, a falta de mão de obra e os gargalos logísticos - devem continuar mantendo a inflação de produtos industrializados sob pressão até, pelo menos, meados do ano que vem.

"Tirando a mineração, onde não se sabe até onde os preços podem cair, o cenário segue bem favorável para as exportações. A pressão sobre custos colocada pela crise energética em diversos países indica que os preços das demais commodities seguirão próximos aos patamares atuais", prevê a economista-chefe da seguradora de crédito Coface, Patrícia Krause.

Estrategista da área de comércio exterior do banco Ourinvest, Welber Barral acrescenta que, apesar da desaceleração da economia chinesa, o restante da Ásia, principalmente o Sudeste Asiático, que se tornou um dos principais destinos das exportações brasileiras, seguirá crescendo a taxas expressivas. Em paralelo, acrescenta, a recuperação deve continuar na Europa e nos Estados Unidos, este último embalado pelo trilionário pacote de investimentos em infraestrutura.

"Se não vier uma nova onda de contaminações por Covid, o mundo deve continuar crescendo e o câmbio no nível atual é um incentivo às exportações", afirma Barral, que foi secretário de Comércio Exterior entre 2007 e 2011.

Contato: eduardo.laguna@estadao.com
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